Em minha prévia do jogo, eu fiz a pergunta: “como se manter inovador sem acrescentar elementos desnecessários a sua essência?”. Rock of Ages 3: Make & Break evoluiu muito pouco entre o alpha e a versão final, então a resposta já estava presente lá desde o começo.
A nova questão que surge é: será que o sistema de construção de mapas e as esparsas novidades na campanha justificam um terceiro título na franquia ou já é hora de aposentar o pedregulho por vários anos?
Brincando de pedreiro
É evidente o destaque que os desenvolvedores dão para o sistema de construção do jogo. Está no título. Está na primeira decisão que você irá tomar ao abrir o jogo: Make ou Break? É o grande diferencial em relação aos títulos anteriores da série, então será nosso ponto de partida nessa análise.
Desde o alpha, o sistema melhorou um pouco. Napoleão Bonaparte segue como nosso guia para entender seus mecanismos. Sua ajuda é bem-vinda para entender um processo que nem é tão complicado assim. Lamentavelmente, é impossível desativar sua presença e ele acaba se tornando irritante quando você retorna para editar sua criação ou fazer outro mapa.
Há muito mais opções de elementos agora, demonstrando que os criadores de Rock of Ages 3 trabalharam bem nos últimos meses. Entretanto, sigo achando limitadas as opções. Além disso, criar um mapa que tenha alguma semelhança com os níveis disponíveis no jogo exige paciência e não é tão divertido quanto parecia inicialmente.
É uma pena que a maior limitação não está nem na ferramenta em si, mas na imaginação da comunidade. Quem esperava obras geniais brotando da mente coletiva dos fãs irá se decepcionar. Não há muitos mapas disponíveis e, mesmo entre os existentes, não há um tipo de filtro e qualquer tranqueira pode subir para a web. Usando uma ordenação por classificação ou mesmo jogando somente as “escolhas do editor”, o que eu encontrei foram ou mapas bizarros que extrapolam demais as mecânicas do jogo ou mapas confusos, insanamente difíceis. Não que os desenvolvedores sejam anjos que criam mapa sempre amigáveis, mas mesmo o mais ranheta deles, em um dia de fúria, não conseguiria criar os pesadelos engendrados pela comunidade.
A expectativa aqui era que o aspecto criativo de Rock of Ages 3 sustentasse o título a longo prazo, mas eu não vejo isso acontecendo. Algumas partidas em mapas aleatórios, algumas tentativas de construção e foi tudo pra mim.
Estragando o rolê temporal
Se o aspecto Make não é isso tudo que os desenvolvedores e eu desejávamos, nos resta a parte do Break, o fino filé da série desde suas origens. Somos um pedregulho gigante destruindo tudo em nosso caminho ao longo da História da Humanidade e isso não tem como dar errado ou cansar de ser divertido. Ou será que tem?
Rock of Ages 2 foi lançado em 2017, então talvez seja um pouco cedo para uma continuação. Considerando que eu joguei o título anterior no ano passado, definitivamente está mesmo um pouco cedo para uma sequência. Tudo que havia antes está lá outra vez, mas guarda um leve tom de requentado em Rock of Ages 3.
Talvez eu esteja sendo ranzinza, mas até as piadas das cutscenes parecem menos interessantes desta vez ou menos inspiradas. Aqui, controlamos Ulisses e sua tripulação de argonautas, que se meteram em uma treta com um cíclope, que foi tirar satisfação com Zeus. Houve um erro na maldição lançada pelo deus grego e somos catapultados através do tempo e do espaço. O resultado são novas tretas, com nomes históricos como Guillherme Tell, Montezuma e o Supremo Criador do Universo, vulgo Monstro Espaguete Voador.
Sim, o Monstro Espaguete Voador é desenterrado dos porões da internet, uma piada ancestral que renasce em Rock of Ages 3. Porém, não dá para dizer que os desenvolvedores estão fora de sintonia com o zeitgeist e a melhor piada do jogo é uma referência ao meme do caixão. Provavelmente passará despercebida em dois ou três anos, mas faz rir em 2020.
Ao contrário do que o alpha dava a entender, a campanha de Rock of Ages 3 é linear. Aliás. super linear. Assim como aconteceu no jogo anterior, acumulamos pontos para desbloquear próximas fases na campanha. Até aí tudo bem, exceto que nesse terceiro título, há um rigor maior para se desbloquear e seguir em frente. O progresso era mais orgânico anteriormente, era fácil conquistar as estrelas. Aqui, o jogo exige resultados próximos da perfeição, o que leva à repetição de níveis, o infame grinding que apenas serve para destacar a carência de novidades.
Algumas missões, que eram opcionais antes, se tornaram obrigatórias agora. Então, se você não leva jeito pra corrida ou curvas precisas com pedras descontroladas, lamento informar que haverá momentos de dor e sofrimento. Falando em ranger de dentes, experimente controlar Humpty Dumpty em seu modo exclusivo de jogo para entender um conceito inédito de frustração e desespero.
Há pedras novas e armadilhas novas e não se devia esperar menos, já que Rock of Ages 3 é uma continuação. Infelizmente, nada que surpreenda é colocado em cena. Você pode rir com a “bola” quadrada ou com o aglomerado de ovelhas, mas não irá usá-las com frequência. As melhores pedras e as melhores armadilhas já existiam antes.
Algumas construções clássicas podem passar por evoluções, mas não são todas e nem sempre são tão úteis que justifiquem o espaço extra ocupado. A maior exceção é a armadilha de óleo fervente despejado pelas muralhas, um item matador para deter a bola inimiga. Ainda assim, isso revela outro problema do jogo: o desequilíbrio tático. Existem abordagens que são excepcionais em alguns casos e a IA trapaceia em seus movimentos ou entope o mapa de obstáculos para compensar.
No frigir dos ovos (Humpty Dumpty nos perdoe), Rock of Ages 3: Make & Break tenta se sustentar em um pilar que não funciona, enquanto não se esforça muito em seu segundo pilar. É pouco mais do que um retoque na fórmula, que pode divertir por algumas tardes, mas corre o risco de ser apagado da História.