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Reynatis, o novo trabalho da FuRyu chega com aquele gostinho de jogo da Atlus e prometendo uma experiência incrível, talvez até como uma alternativa às vésperas do lançamento de Metaphor: ReFantazio. Lançado no Ocidente pela NIS America, este novo RPG de ação conseguiu se destacar e chamar a atenção dos gamers pela proposta, que vai do visual ao combate, além do envolvimento das lendas Yoko Shimomura na trilha sonora e Kazushige Nojima no roteiro.

Como se Persona, Kingdom Hearts e The World Ends With You se juntassem para criar um novo jogo, porém com orçamento muito menor, Reynatis consegue agradar pelo conjunto da obra, mas acaba cometendo alguns deslizes em detalhes que podem desagradar.

Reynatis

Mais uma vez Shibuya é palco de acontecimentos inexplicáveis ao seres humanos, desta vez o embate entre Wizards (magos). De um lado a Guild, grupo de humanos que busca o uso livre da magia, e a M.E.A. (Magical Enforcement Agency), uma espécie de polícia formada por magos que controla os rebeldes. Ao longo do jogo vamos acompanhar a história por essa dicotomia através de Sari Nishijima, a melhor agente da M.E.A., e Marin Kirizumi, que não faz parte da Guild, mas defende o uso livre da magia.

Shibuya, a nova sala comunal

A história é um dos pontos fortes do jogo, trabalhando uma Tóquio em que bruxos e magias são reais, porém apenas alguns poucos nascem com essas habilidades e o uso nas ruas só pode existir legalmente se for membro da força policial. Além dessa questão envolvendo o livre arbítrio, uma droga chamada Rubrum, feita com sangue daqueles que possuem habilidades mágicas. Ela fornece poderes mágicos aos seres humanos normais e amplifica o potencial dos Wizards, mas possui um alto fator de vício e transforma o usuário em abominações.

Reynatis

Com uma proposta de trazer temas atuais como, por exemplo, liberdade, justiça e opressão, também vemos claramente uma busca por identidade sendo pautada na luta de Marin e na desconstrução de Marin. A maneira como os desenvolvedores construíram a narrativa acaba permeando a visão das personagens, inicialmente de maneira alternada entre ambas, para depois uma união em prol de algo maior. Outro ponto interessante está na exposição desses fatos, pois o uso descabido da magia em meio ao público acaba sendo fator de agitação, com os cidadãos publicando sobre você em redes sociais.

Neste ponto conhecemos uma mecânica interessante, que é a perseguição da M.E.A. caso você atinja um nível de “denúncias” em redes sociais e não consiga se esconder. Quase como um sistema de “Procurado” em GTA, você precisará enfrentar a força policial, mas que existe uma diferença gigantesca de poderes e você dificilmente sairá vitorioso. No entanto, você pode buscar por “pontos cegos” por Shibuya para se esconder, fazendo com que as pessoas deixem de perseguir e postar sobre um Wizard que usa ilegalmente a magia.

Reynatis

Por trás dessa perseguição, além de fazer parte da história, carrega também o sistema de combate atrelado às realidades de Marin e Sari: os modos Supression (Supressão) e Liberation (Liberação). No primeiro, como o próprio nome diz, você precisa suprimir seu lado mágico, assim como Marin fez a vida inteira; no segundo modo, você pode usar livremente suas habilidades, porém permitido apenas ao grupo que faz parte da Magical Enforcement Agency, como vemos ao jogarmos com Sari. Ou seja, o jogador “sente na pele” os temas trazidos por Reynatis e sofre as consequências deste mundo distópico.

Infelizmente a pressa em contar a história e a interferência de diversas missões secundárias sem muita profundidade fazem com que a narrativa deixe de enfatizar as consequências de tudo isso, focando muito mais nas lutas internas. Isso ainda fica mais perceptível quando precisamos ficar alternando entre Shibuya e o mundo paralelo, conhecido como Another, para explorar as dungeons e enfrentar as ameaças.

Reynatis

Seja pela limitação dos mapas ou até mesmo a configuração das missões, sempre muito lineares e desinteressantes, a história acaba perdendo a chance de ser ainda maior em sua proposta. Afinal, temos a luta de Marin, o esquadrão de Sari, o grupo de Wizards “perdidos” (ou desajustados) conhecidos como Owl, a extensão da magia dentro do governo, entre outros personagens muito interessantes, mas que não são explorados por conta da sequência incessante de missões e acontecimentos que não mantém o mesmo nível da narrativa.

No fim, a história agrada e tudo é bem desenvolvido dentro da trama principal, tendo esse panorama entre as facções como destaque e a droga como pano de fundo, que movimenta as missões secundárias e mostra um pouco mais do envolvimento do elenco. Mesmo com uma grande inserção de The Worlds End With You como parte do lore, fica aquela sensação de correria e que os personagens são apenas ferramentas narrativas.

Batalha de varinhas? Não! Porradaria desenfreada

O sistema de combate atrelado aos modos Liberation e Supression lembram muito X, obra do grupo Clamp. Durante as lutas você precisará liberar seu poder mágico para usar seus golpes e especiais, ativando o Liberation, mas que ao mesmo tempo consome seu MP e exige que você volte a suprimir suas habilidades (Supression) para recarregar. Neste ponto entra uma mecânica de esquiva muito interessante, para você desviar os ataques enquanto não pode usar magia, em que você pode utilizar seu R1 para escapar no momento correto, fazendo com que a tela seja brevemente tomada por uma espécie de símbolo e que ao carregá-lo, segurando o botão da esquiva, você executa o movimento com perfeição e acelera a recarga do MP.

Reynatis

Ao longo da história você conseguirá montar seu grupo e equipar diferentes Wizarts (habilidades), encontradas como adesivos pelo mundo, que oferecem uma maneira nova de atacar para todos durante os combates e facilitando também os momentos de alternância entre os personagens (com L2 e R2) e os dois modos. Por mais interessante e divertido que seja lutar em Reynatis, falta peso na movimentação dos personagens e uma diferenciação maior no estereótipo de cada um dos integrantes da sua party, mas não que isso seja sinônimo da falta de golpes criativos e diferentes.

Assim como explorar as dungeons, principalmente quando somos enviados aos ambientes genéricos do Another, falta personalidade nos golpes e a maneira como eles se movimentam, desperdiçando uma oportunidade de transformar as sequências de luta em algo mais épico e autoral. Por mais cuidado que podemos perceber no character design, na maneira como recriaram Shibuya e, principalmente, na direção de arte sempre muito colorida, Reynatis tem um leve “quê” de jogo da geração PS3. Desde o combate, com golpes e movimentos sem personalidade, aos cenários e ambientes minimalistas (não que sejam feios ou mal trabalhados, apenas simples), tudo parece ser genérico demais.

Reynatis

O trabalho da FuRyu impressiona pelas boas e inovadoras ideias, principalmente nos modos de jogo que refletem diretamente em sua construção narrativa. Com um visual simples, mas muito bem cuidado, e a trilha sonora de Yoko Shimomura que entrega um bom trabalho, com excelentes temas, músicas e uma ótima dublagem, Reynatis é uma boa alternativa como RPG de ação que acompanha essa nova leva de títulos japoneses voltados ao estilo mais ocidental. Mesmo com deslizes em suas escolhas, o jogo é uma boa escolha de RPG em um ano repleto de bons títulos, fazendo com que a NIS America tenha acertado mais uma vez em trazer este lançamento para este lado do planeta, porém continuam não se preocupando com o público brasileiro por falta da localização para o PT-BR.

78 %


Prós:

🔺 História muito interessante
🔺 Excelente trabalho na construção de mundo e personagens
🔺 Trilha sonora muito boa
🔺 Sistema de Wizarts oferece boa dinâmica
🔺 As mecânicas Supression e Liberation são as cerejas do bolo
🔺 Uso interessante do celular para troca de mensagens, missões e alertas

Contras:

🔻 Combate sem peso e personalidade, mesmo que seja divertido
🔻 Dungeons no Another são genéricas e lineares demais
🔻 História muito corrida, mesmo sendo bem desenvolvida
🔻 Missões paralelas são muito desinteressantes

Ficha Técnica:

Lançamento: 27/09/24
Desenvolvedora: FuRyu Corporation
Distribuidora: NIS America
Plataformas: PC, PS5, PS4, Xbox Series, Switch
Testado no: PS5