Não tenho como iniciar este texto sem citar o tamanho do problema que a Game Freak deixou nas mãos da desenvolvedora ILCA para os remakes da quarta geração de Pokémon. Com múltiplas reclamações nas costas, a empresa resolveu focar em Legends: Arceus e deixou os fãs metralharem a coitada com diversas críticas desde o seu anúncio: do visual ao modelo que não atendia às expectativas, tudo criou uma imensa bola de neve em relação aos novos títulos.
E posso afirmar, com absoluta certeza, que ela mostrou que não veio para brincadeiras e entregou uma verdadeira joia com Brilliant Diamond e Shining Pearl. Os fãs querendo ou não, era esse o verdadeiro respiro que uma franquia desgastada precisava para seguir em frente. As novas versões mantiveram o estilo antigo de gameplay, trazendo consigo todo o charme do início de vida de um Nintendo DS. Óbvio, com inúmeras melhorias, aproveitando o que o Switch tem de melhor a oferecer.
Antes que vocês reclamem, ouso dizer que todos deveríamos ter a oportunidade de experimentá-lo, nem que fosse uma vez. Seja para relaxar, reviver os bons tempos de quando a franquia encarava uma ascensão absurda ou até mesmo de curioso, o conselho e dica são únicos: jogue e não haverá arrependimentos. Sinnoh vai te pegar despreparado e quando menos esperar, já estará curtindo a horas. Digo por experiência própria.
Uma visão nova de um velho mundo
Pokémon Brilliant Diamond e Shining Pearl é uma cópia extremamente similar aos títulos antigos. Você terá a vista de cima, percorrerá os mesmos ginásios e enfrentará o Team Galactic por sua jornada da mesma forma. Até as falas são as mesmas, para aqueles que vão compará-los lado a lado. Porém, a ILCA acrescentou à experiência uma série de fatores que renovam algo que facilmente seria cansativo e vira a mesa para que todos aproveitem a aventura.
O que isso significa? Você poderá correr pelas diagonais, não há aquela demora absurda para os movimentos ocorrerem, terá o prazer de caminhar com o seu monstro de bolso do lado e até o abandono da obrigação de prender as criaturas aos HMs para prosseguir. Nada que impactará tanto o gameplay, se for analisar bem, mas para um jogo que já era um sucesso em sua época foi uma excelente adição.
Mesmo que eu diga tudo isso, não dá para tirar o verdadeiro mérito de Pokémon Brilliant Diamond e Shining Pearl: o Grand Underground. Independente do gosto dos jogadores, é lá que eles vão realmente esquecer da vida e se divertir como se não houvesse amanhã. Sozinho já é uma grande aventura no local, deixando o jogador livre para percorrer todo o território, descobrindo áreas que não existiam nos originais e vendo criaturas que seriam difíceis de encontrar no mapa comum dando a maior sopa.
Para completar, o online de lá é maravilhoso. Não digo que foi a melhor coisa que aconteceu pela franquia que seria uma mentira grande, mas esse é um dos recursos que melhor definem a diversão destes remakes. Pegar os Digletts e Dugtrios espalhados para conseguir mais chance de itens raros, escavar em conjunto e até acionar power-ups diferentes nos esconderijos dos aliados para aumentar a sua chance de achar um monstrinho raro vão te roubar um tempo de vida que você nem verá passando. Infelizmente não passei tanto tempo quanto gostaria, levando em consideração que tinha de ver todo o resto para escrever aqui para vocês. Porém, falo com propriedade sobre isso.
Outro fator que me maravilhou enquanto eu me aventurava em Sinnoh é perceber que tudo exala ter uma “alma”. Quando encontra um monstro mais poderoso que o comum, o protagonista tem uma curta animação onde observa a criatura: isso indica que é bom capturá-la, já que os stats virão altos. Os líderes de ginásio são expressivos, seu time responde aos cuidados pela campanha e oferecem facilidades, como desviar mais facilmente de ataques inimigos ou terem mais chances de seus golpes serem críticos, assim como os contests fazem eles dançarem em um minigame rítmico próprio.
Tudo isso unido e misturado ao charme que Pokémon Diamond, Pearl e Platinum carregavam dão um impulso enorme para que queira passar ainda mais tempo desbravando o continente. Confesso que estou mais preso nessa aventura do que já estive em Sword e Shield no passado, por exemplo, ou Sun e Moon. Por mais que Omega Ruby e Alpha Sapphire sejam ótimos remakes, eles tinham muita água, ops, digo, não tinham o mesmo espírito que seu antecessor de Game Boy Advanced. Algo que a ILCA captou perfeitamente e conseguiu melhorar, diga-se de passagem.
Até mesmo o seu personagem trocando as vestimentas, você podendo mexer no design das Pokéball e a abertura para usar o Pokétch a qualquer momento em sua tela dão a impressão que tudo está de cara nova. Por mais que alguns recursos existissem também nos antigos, o fato de não ter saído igualmente para as demais gerações provoca uma sensação de renovação e dá um ar de novidade a tudo isso novamente.
E como não posso deixar de citar, o pós-game continua carregando muitas novidades para te manter preso em Pokémon Brilliant Diamond e Shining Pearl. Você pode encontrar novos monstros pelo mapa ou no Grand Underground, liberar o Ramanas Park para encontrar os monstros lendários de outras fitas e até tentar encarar a Battle Tower com o icônico Palmer te aguardando no seu topo. No mínimo ficará por mais umas 10 horas adicionais curtindo tudo isso, incluindo uma área nova que abre após o término.
Pokémon e os remakes quase certeiros
Espera aí, eu estou dizendo que estes remakes são perfeitos? Não, um pouco longe disso. Toda vez que eu abro o título, por exemplo, percebo um certo delay ao entrar em novas áreas ou encontrando uma batalha no meio do matagal. Como fã da franquia, até passei um pano no início, mas incomoda conforme passa os dias e continua percebendo a mesma coisa acontecendo repetidamente.
Outra coisa que me deixou com uma sensação de que a ILCA pisou na Pokébola foi em relação aos companheiros Pokémon andando livremente pelo mapa. Isso é ótimo em teoria, como já presenciamos em HeartGold & SoulSilver, Let’s GO Pikachu & Eevee e Sword & Shield. Nestes, ele fica logo atrás e não temos problema algum. Porém, em Brilliant Diamond e Shining Pearl, a maioria é lenta que dói, então ficam constantemente sumindo e reaparecendo com um brilho próximos ao treinador e isso é bem chato. Não te dá um sentimento de que eles caminham com você de fato, sabe?
E ao contrário disso, os sons e gráficos estão lindíssimos. Não tive do que reclamar de ambos, desde o som da perfeição que é a canção de Kricketune aos temas de combate te envolvem como antigamente. Já graficamente, o design 3D chibi foi certeiro para criar ambientes riquíssimos em detalhes. Na cidade de Sandgem, por exemplo, experimenta ir para o sul e ver a praia. Se aquela água não te convenceu de que é um dos melhores cenários que um título da franquia já teve, então pode dar meia-volta que esses games não cativarão seus olhos com mais nada.
Mesmo sendo uma recriação fiel ao que vimos no passado, Pokémon Brilliant Diamond e Shining Pearl nos mostra que é possível reviver o espírito principal da franquia em pleno 2021. Após uma sequência questionável de erros e decisões polêmicas, a Game Freak deixar a produção de ambos nas mãos da ILCA se mostrou o maior acerto que eles poderiam ter feito. Até abre uma brecha para nos perguntarmos a razão disso não ter sido realizado antes.
Sem desapontar ninguém, ambos são o respiro necessário que precisávamos para nos apaixonar novamente pelos monstros de bolso mais famosos do mundo. Mal posso esperar pelos próximos passos desta parceria, ansioso para ver quem sabe um remake do Black e White com o mesmo toque especial que deram. Não custa nada sonhar enquanto aproveitamos uma obra-prima em mãos, não é?