A chegada de Monochrome Mobius: Rights and Wrongs Forgotten, pelas mãos da NIS America para os consoles, é uma grande oportunidade para retornarmos ao universo mágico de Utawarerumono. O mais novo trabalho da Aquaplus é uma comemoração aos 20 anos da franquia e serve como prequel da trilogia lançada anteriormente.
Com uma história bem construída e muito interessante, o jogo mescla o estilo de JRPG com visual novel para conseguir mudar os rumos da franquia, ao mesmo tempo em que cria um caminho totalmente novo e livre para futuros jogos.
Muita mitologia e nomes complexos
Há seis anos, quando tive a oportunidade de fazer o review de Utawarerumono, eu jamais imaginei que conheceria a origem de vários personagens apresentados. A partir desta ideia e duas décadas depois do início dessa franquia, a Aquaplus resolveu explorar a origem de Oshtor e Mikazuchi, dois dos Generais dos Oito Pilares (em tradução livre), além de mostrar o passado de diversos nomes conhecidos para quem jogou a trilogia composta por Prellude to the Fallen, Mask of Truth e Mask of Deception.
Então conhecemos a misteriosa Shunya que, seguindo as ordens de seu pai, foge da emboscada preparada pelo malvado Mayacowl e vai parar em Ennakamuy, terra do jovem Oshtor. Ao descobrirem que ambos são filhos de Pashpakur, eles partem em busca de Arva Shulan, uma terra esquecida que todos em Yamato acreditavam ser apenas uma lenda, na tentativa de salvarem o velho.
Nesta jornada por mais de 35 horas em um vasto mapa, com mais de dez localidades e dungeons, vamos aprender sobre os generais do império, começando por Munechika, com sua origem em Izumo e a função de proteger o Pilar das Estrelas, que liga Yamato à Arva Shulan. Ssomente na segunda metade do jogo conhecermos Mikazuchi e sua família, que também terão papéis fundamentais na história para ele se tornar general, rival e amigo de Oshtor.
Ao longo da história vamos saber mais sobre a sagrada e misteriosa Shantuura, os planos de Narakfala, Varga e Mayacowl, o real motivo para o isolamento dessa terra mítica, as irmãs Nava e Ashta, o Mikado (atual imperador de Yamato) e sua futura sucessora, Anju, que ainda é uma criança, além de Honoka, sua sacerdotisa e companheira.
Dividido em doze capítulos, a história é fluida e muito bem elaborada, sempre em torno dos personagens principais, com foco em Shunya e Oshtor, explorando o descobrimento sobre o passado de Pashpakur, os segredos de Yamato e a lenda sagrada relacionada à Arva Shulan. A trama se desenvolve ao abordar questões sobre família, responsabilidade e legado, com temáticas sobre mitologia, ciência, crença, tecnologia e humanidade, que complementam a construção narrativa do jogo.
Com uma barriga muito grande entre os capítulos cinco a sete, durante o treino com Dikotoma, um dos generais e mestre do quarteto de protagonistas, a história se desenrola numa velocidade que nos mantém interessado e levanta diversas “novidades”, com termos complexos, que se unem ao carisma dos personagens (engrandecido pela participação de Halu, o droide fofinho e rosa) para nos motivar em descobrir mais sobre aquele mundo e seus mistérios.
Prepare-se para fritar o cérebro ao aprender sobre a máscara Akuruka e seus Akuruturuka, a árvore Akushana, como os desenvolvedores levaram a divindade Quetzalcoatl, da cultura mesoamericana, como plot para uma possível continuação, o que seria um Denebokshiri e as várias tribos deste universo mágico.
Ao finalizarmos o jogo fica ainda mais evidente de que esta é a primeira investida da Aquaplus para uma nova série de jogos, pois ainda temos muitas respostas que ficaram faltando para chegarmos no que conhecemos em Utawarerumono, em lore, personagens e regiões. Isso sem contar os diversos pontos criados originalmente em Monochrome Mobius e o imenso cliffhanger em torno de Shunya, abrindo diversas discussões sobre o que podemos esperar para uma sequência.
JRPG ou Visual Novel?
Assim como já aconteceu anteriormente em jogos spin-off, a Aquaplus deixa de lado o estilo tático de Utawarerumono para apostar no tradicional combate por turnos. Ainda que a história mantenha o padrão ao ser apresentada no formato de visual novel em boa parte do jogo, com ilustrações estáticas e muitas linhas de diálogo para lermos, a Aquaplus se preocupou em manter o excelente nível de dublagem para todas as passagens e ainda acrescentou diversas sequências com cutscenes.
Tentando inovar sem sair muito da linha desse estilão de jogos japoneses, Monochrome Mobius possui um mundo muito grande (muitas horas sem fazer sentido da vastidão repleta de nada) para você explorar, quase como um mundo aberto. Com a opção de combate ao ir de encontro com os inimigos, aqui está os principais pontos negativos do jogo: o ganho de experiência e level up.
Detalhe importante para o sistema de “círculos de ação”, em que vai cadenciar a velocidade que o personagem terá para participar do combate. Você tem a opção de ascender para o menor, tornando-o mais rápido, através do Overzeal (barra que carrega conforme suas ações, golpes e danos) e que também proporcionará golpes especiais com animações diferentes. Ao longo do jogo você também desbloqueará outras opções para o R1, além dessa questão relacionada aos círculos e que afetarão os status de personagens específicos como, por exemplo Munechika.
Ao batalhar, tendo o quarteto de protagonistas e o apoio de Halu, você vai enfrentar grupos com até nove inimigos de uma vez para ganhar míseros pontos de XP, que precisam ser acumulados na cada de milhares, principalmente depois do level 30, para subir de nível. Caso você aposte no grinding em cada área que visitar, assim como eu escolhi fazer, você terá um nível rasoável para enfrentar os adversários sem exigir muita estratégia.
O que você descobrirá com tempo é que o real ganho de experiência virá das missões secundárias, muito bem pontuadas para nivelar os seus personagens, além dos inimigos mais fortes de cada capítulo. Fazendo isso e enfrentando ao menos uma vez todos os adversários de cada porção do mapa recém descoberta, você ficará forte o suficiente para não sofrer com a progressão do jogo.
Chegando no último capítulo do jogo, passando pelo Mausoleum e suas áreas repletas de monstros poderosos, eu não precisava enfrentar os inimigos e utilizava o botão de golpe do personagem no mapa para derrotá-los sem entrar no combate, ganhando ainda mais XP, fazendo com que eu alcançasse o nível 75 sem dificuldade. Detalhe que essa estratégia também ajudou em falhar apenas uma vez para o chefão final, passando por todos os outros sem nenhuma dificuldade!
Mesmo com muitas armas e acessórios, além de diversas habilidades para Oshtor, Shunya, Munechika e Mikazuchi, além das melhorias que você desbloqueia para o robozinho rosa, Halu, que vai facilitar sua vida ao explorar os mapas, recuperando sua party nos pontos de save e viagem rápida, ou até mesmo com seus golpes elétricos superfortes, o jogo peca muito no nivelamento da progressão dos personagens e dificuldade dos principais combates de cada capítulo.
Fantasia da melhor qualidade
Com um “quê” de jogo da geração PS3, ao compararmos Monochrome Mobius com o recente The Legend of Heroes: Trails into Reverie, podemos perceber claramente que este é um jogo muito melhor em questão de narrativa e dinamismo, além de se arriscar em trazer novidades dentro desse gênero de visual novels.
Não acredito que seja um título focado no público que acompanha a franquia Utawarerumono, até mesmo por eu não lembrar muito dos antecessores, mas claramente é um jogo muito nichado para quem curte visual novels. No entanto acredito que Monochrome Mobius: Rights and Wrongs Forgotten oferece uma boa porta de entrada para quem gosta de RPG e tem curiosidade de conhecer esse mundinho da literatura visual digitalizada e interativa.
Atrás da excelente narrativa, criada por Suga Munemitsu, responsável por criar personagens carismáticos num mundo vivo e interessante, temos um trabalho visual de enxer os olhos com ilustrações e muito cuidado ao retratar os personagens principais. Infelizmente os NPCs e ambientes não tiveram o mesmo cuidado, mas ainda assim criam uma atmosfera atrativa.
A trilha sonora abre (e encerra) o jogo com Toki no Taika, na voz da cantora japonesa Suara, e segue o jogo com temas muito agradáveis, para cada cidade ou de acordo com o estilo do ambiente visitado. Acredito que para os combates ficou faltando uma variedade maior de músicas, mas estão longe de ser chatos ou desinteressantes.
Após finalizar o jogo, a Aquaplus preparou um conteúdo para apoiar os interessados em se aprofundarem na franquia, liberando uma galeria com ilustrações belíssimas, player com toda a trilha sonora, glossário imenso, com todos os termos existentes no jogo, e a interessantíssima Sala de Espera, que traz áudio dos dubladores com mensagens parabenizando por finalizar o jogo, além de um breve depoimento sobre o trabalho de dublagem, a história e o que esperam para o futuro.
O pacote completo de Monochrome Mobius: Rights and Wrongs Forgotten funciona extremamente bem, tornando-o uma das melhores visual novels que já joguei e criando a expectativa para uma sequência ainda mais interessante.