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Os vários jogos roguelike disponíveis no mercado trazem desafios com gameplay frenético, intenso e punitivo. Loopmancer, desenvolvido pelo estúdio chinês eBrain, não foge dessa premissa (com ressalvas, falarei mais sobre isso adiante) e, sem dúvida, é o título mais bonito que joguei nesse gênero.

Diferente da esmagadora maioria dos jogos roguelike, Loopmancer traz um apelo visual mais realista e tem até mesmo cutscenes bem feitas, para minha surpresa. Porém um roguelike não vive só de visual ou qualquer outro elemento, mas sim de gameplay.

Embora a gente não cite gameplay logo no início de um review, aqui se faz extremamente necessário. Bom, infelizmente já devo dizer que é aqui que o jogo dá alguns tropeços consideráveis. Loopmancer oferece gameplay rápido, frenético, com muitos inimigos e elementos na tela, mas isso por si só não indica qualidade.

Existem mais diálogos do que necessários para um roguelike

Um roguelike sem desafio

Eu joguei na dificuldade normal (que é a média) para sentir o que o jogo entregaria normalmente e foi bem decepcionante. É possível juntar diversos inimigos na sua frente, apertar o botão de ataque freneticamente atingindo todos ao mesmo tempo e limpar aquela área. Isso não irá acontecer quando inimigos diferentes chegarem, pois eles conseguem interromper seus ataques. Mesmo assim, isso acontece com bastante frequência.

Se tratando de roguelike, é de se esperar diversas tentativas frustradas pelo desafio do jogo, fazendo você retornar e fazer tudo de novo, mas agora sabendo (mais ou menos) o que enfrentar. Em Loopmancer isso deveria ser ainda mais acentuado, já que a narrativa está ligada ao loop temporal que se repete.

Eu tentei a dificuldade mais difícil, mas os inimigos continuam com a mesma IA (simples) e o máximo que acontece é eles conseguirem tirar mais de sua vida com seus ataques. Nem ao menos a defesa deles é alterada. Como todo roguelike, é possível adquirir diversos buffs, novas armas, e fazer melhorias nelas conforme você avança, encontrando checkpoints pelo caminho.

Visualmente Loopmancer impressiona

Run inteira sem morte em um roguelike?

Em minha primeira run pra valer (já que na primeira mesmo você é obrigado a morrer), eu já deixei a katana inicial no nível máximo e, pasmem, não precisei trocá-la durante todas as outras runs inteiras que joguei. Não fazia sentido mudar de arma, já que ela entregava o que eu precisava.

São quatro categorias de armas: melee, a que você vai usar para descer a porrada, armas de fogo, itens arremessáveis (como granadas, machados), e um chip de implante que traz diferentes melhorias. Para não falar que não troquei nada, eu só mudei mesmo a arma de fogo e o arremessável uma vez e nem fez tanta diferença.

Eu consegui fazer duas runs completas sem nenhuma morte e no início da terceira eu já estava tão forte, com tantos buffs acumulados e armas no nível máximo, que o jogo perdeu a graça. Loopmancer espera que você morra nas tentativas para contar a história, dando sentido aos loops de Xiang Zixu, o protagonista do jogo.

O jogo tem belas cutscenes de ação

Uma narrativa que mais complica do que explica

Zixu está atrás de uma repórter desaparecida, ao mesmo tempo que tenta achar o responsável por um acidente que matou sua filha e deixou sua mulher paralítica. Como disse antes, você vai atrás de um dos vilões, Wei Long, chefe da mafia do lugar, e no final da fase você morre de propósito para começar a contar a história do jogo.

A partir da segunda vez, o protagonista está esperto e evita a morte e o jogo segue adiante. Ao final de cada fase, você precisará conversar com dois ou três NPCs na base, que são as pessoas que repassam sua próxima missão. No meio do caminho, escolhas de fases aparecem e elas, claro, vão impactar no seu progresso e já vai deixá-lo sabendo sobre qual caminho seguir na próxima tentativa.

A história é confusa, o jogo não sabe em qual acontecimento focar. Se é destruir as forças opressoras desse futuro estilo cyberpunk ou se é descobrir o paradeiro da jornalista, que é sua missão, ou ainda ir atrás de sua mulher. Os NPCs contam a história em muitos diálogos, quantidade essa que achei bastante desnecessária para um roguelike.

Algumas fases se passam fora do ambiente cyberpunk padrão

Ainda nesse quesito, a dublagem em inglês é bem ruim, sem emoção e cheio de clichês. Mesmo com fluência em inglês, foi difícil entender a mensagem por trás dos diferentes finais. E se você não domina a língua, já aviso que o jogo não tem legendas em PT-BR.

Loopmancer tem belos gráficos, cutscenes que até impressionam pelo fato de ser um jogo indie, com lutas bem coreografas. Mas, aliado a esses problemas de gameplay, o jogo (por enquanto disponível apenas para PC) está com sérios problemas de otimização, mesmo em um PC que atende todos os requisitos de hardware. Do nada, o jogo cai para 10 FPS e fica assim um tempo, até voltar ao normal. E isso sempre acontece de forma aleatória.

Se você gosta de roguelike e quer desafio, Loopmancer não é a melhor das indicações. Desde o lançamento ele vem sendo atualizado e pode ser que, em algum momento, as melhorias resolvam os problemas citados. Atualmente, o jogo conta com um pouco mais de 300 análises e 69% de aceitação na Steam, o que mostra que o estúdio ainda precisa suar para deixá-lo em pé de igual com outros grandes títulos do gênero (Hades manda um abraço) disponíveis hoje.

Loopmancer tem potencial, mas os desenvolvedores precisarão dar atenção a esses detalhes mencionados, que são de extrema importância para um jogo roguelike.