Eu diria ser inevitável começar a jogar Gotham Knights e não ver um caldeirão de oportunidades que foram desperdiçadas com o seu lançamento. A WB Games Montréal e a DC tinham todos os instrumentos em mãos para fazer da experiência um sucesso total, porém desperdiça tudo isso em clichês e formatos da indústria que não cabem mais na atual geração.
Vejam bem, caros leitores, isso não significa que este jogo é muito ruim ou impossível de engolir. Se você observar de certo ponto de vista, ele pode ser bacana para fãs destes personagens e curiosos da DC Comics. Porém, se você esperava por algo que superasse ainda mais o que foi visto em franquias como Batman Arkham e Marvel’s Spider-Man, que foram ícones dos últimos consoles, a decepção será certeira.
Apesar de algumas das reclamações que lerá aqui podem ser resolvidas com atualizações, expansões e conteúdo adicionais…outras são simples decisões de direção que não se encaixam mais na indústria como temos hoje em dia. Todos estão se reinventando para oferecer algo a mais nos PCs mais modernos, PlayStation 5 e Xbox Series, porém esse volta no tempo e nos leva diretamente para a era “2014” onde a antiga geração estava sendo explorada.
![Imagem do review de Gotham Knights](https://gamerview.com.br/wp-content/uploads/2022/10/Gotham-Knights-Review-Img4-1024x576.jpg)
Bacana, mas Gotham Knights é falho
Caso não tenha visto nada sobre Gotham Knights, vamos te resumir: ele é um jogo de aventura e exploração, nos moldes da franquia Assassin’s Creed, onde você seleciona um dos quatro auxiliares do Batman para combater o crime durante a noite. Asa Noturna, Batgirl, Capuz Vermelho e Robin. Ele chega a ter elementos de RPG também, como níveis e graus de força, assim como um sistema próprio de crafting.
São personagens que nunca foram muito explorados foram dos ambientes das HQs e animações, o que dá um ar de novidade para eles, assim como mostra pela primeira vez a cidade de forma “viva”. Em Batman Arkham Knight parte da população fugiu pelo gás do Espantalho, mal há carros nas ruas e tudo mais. Aqui temos pessoas caminhando enquanto os crimes ocorrem, um trânsito percorrendo as ilhas e o que mais imaginar.
Em conceito, tudo isso é bacana e forma um título que poderia emplacar uma boa base de fãs consigo facilmente. Na execução, muita coisa deixa a desejar e parece ter saído diretamente de uma fórmula pronta de algo que, de forma suposta, faria sucesso. Sendo bem sincero com vocês, nem é minha intenção tumultuar, principalmente por gostar muito deste universo e dos personagens que o game traz: é que ele realmente se torna entediante em poucas horas.
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As investigações, por exemplo, são completamente disfuncionais. Você sai pela noite, marca os crimes que estão rolando pelo mapa de Gotham Knights e vai atrás deles. Independente da missão, os jogadores baterão em uma quantidade absurda de inimigos para obter dados e descobrir outros crimes…até que isso te leve, de alguma forma, aos grandes vilões da história.
Vou ser bem sincero: se fosse uns três/quatro por noite, para dar um ar mais dinâmico, estaria ótimo. Porém, no geral são em torno de dez, todos com uma distância considerável no mapa e nem sempre se encaixarão no seu objetivo pessoal. Há noites, por exemplo, que nada é descoberto. Isso mesmo, ir para extremidades e passar uns 20 minutos invadindo bases, resgatando reféns e escapando de tiros apenas pelo puro heroísmo. Ouso dizer que isto deve replicar bem o que Bruce Wayne/Batman sentia, mas não quero um “Hero Simulator”, mas sim o entretenimento que ele deveria proporcionar.
Aí você nos pergunta “ué, mas não dá para pular tudo isso e seguir para a missão principal?”. Na maioria das situações dá sim. Aí entra o problema parte II. Estas rondas são responsáveis por fazer você obter XP para subir de nível. Caso não passe pelo processo de grind, pode dar adeus a várias horas de tentativa e erro no combate contra os chefões. Se a missão exige nível 5-6, não ache que será simples chegar lá no lv.3 por exemplo e encarar o desafio como um soulslike. Até porque o combate não é nada justo como os feitos pela linha da FromSoftware e nem os movimentos funcionam tão bem quanto deviam na hora do aperto.
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Santa batacademia!
Já que toquei no assunto da movimentação de Gotham Knights, ela é no mínimo complicada. A produção não aproveita em quase nada os diferentes trejeitos dos personagens que está colocando sob o holofote. Asa Noturna é um exímio acrobata, mas suas manobras são duras e quase sem nenhuma maestria. Robin carrega consigo todas as batbugigangas e as opções dele são pífias, para dizer o mínimo. Os únicos que determinam uma certa diferença de gameplay são o Capuz Vermelho com suas armas de longa distância e a Batgirl com suas habilidades de hacker. De resto, esqueça.
A Batmoto, que devia ajudar os jogadores, também não é nada prática. Falando de forma bem direta, veja qualquer vídeo do game e me diga se o próprio Batman conseguiria se movimentar nela de forma adequada. Sem nenhum apetrecho, direção dura e um GPS horrível, diga-se de passagem, ela nem de perto passaria pelo selo de aprovação do Homem-Morcego. Porém, agradeço por quem teve a ideia de colocar um efeito bacana que dá uma leve sensação de velocidade enquanto está correndo. Aquilo foi agradável durante os percursos.
Queria muito jogá-lo e estava até esperançoso pela experiência, pensando que daria para ceder elogios mesmo acerca das polêmicas que surgiram tão próximo ao lançamento. Ainda assim, sinto que ele veio na época errada e seria um título excelente se fosse lançado em 2014/2015 para o PlayStation 4 ou Xbox One. Os PCs de nova geração, o PlayStation 5 e o Xbox Series são máquinas que mereciam mais e este tipo de material devia vir aprimorado pensando nelas.
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O mesmo vale para a performance dele nessas plataformas. Quem me acompanha aqui no site sabe que eu raramente bato na tecla dos gráficos. Para mim, diversão e beleza não precisam necessariamente caminharem juntas. Não discordo de quem pensa diferente, mas não costumo “avaliar arte”. Ainda assim, travar Gotham Knights em 30fps – que, detalhe, cai com frequência – é um verdadeiro tiro no pé. Ninguém paga +R$4k em um videogame e +R$300 em um título que não ofereça aquilo que a tecnologia está se propondo a oferecer.
Se fosse algum game indie ou uma iniciativa do nível EA Originals, por exemplo, é justificável. Porém, estamos falando de uma grande produtora, atrás de um grande estúdio, produzindo um título de um herói do calibre do Batman com investimento de AAA. Gostaria muito de ouvir o lado deles para compreender melhor a situação, mas o que vi dentro do gameplay não era absolutamente nada que fizesse jus a isto.
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O Batman está morto
Se algo se salva no meio desta verdadeira Legião do Mal de decepções, é a história do jogo. Ela foi a única razão pela qual me senti motivado a prosseguir e os roteiristas estão de parabéns ao trazer o melhor dos quatro heróis para dentro dos videogames. A cada avanço da história, mais a interação deles brilhava no Campanário e criava a química perfeita que esperávamos.
Como todos sabem, Bruce Wayne morreu em Gotham Knights e sua Batcaverna foi completamente destruída. Resta ao Dick Grayson, Barbara Gordon, Tim Drake e Jason Todd assumirem a segurança de Gotham e saírem atrás de pistas sobre o último crime que o Batman estava investigando. Qual, obviamente, parece estar ligado diretamente à sua morte. Entre os vilões conhecidos, temos o envolvimento de Ra’s Al Ghul, Arlequina, Senhor Frio e, é claro, a própria Corte das Corujas que já foi apresentada como a principal antagonista nos trailers.
Neste meio, você pode, por exemplo, visitar a estátua de Jim Gordon com a Batgirl para desbloquear uma cena própria da personagem. As interações deles entre si e com os vilões é muito boa, inclusive superam alguns materiais anteriores que consumi da DC. Todo este carinho é um baita serviço aos fãs e cativa bastante quem gostaria de vê-los na frente dos holofotes. Para mim, este é de longe o ponto alto da aventura e onde poderão algo de diferente.
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Infelizmente, isso não segura a experiência negativa que o restante passa ao público. Não adianta nada o primor da história, uma dublagem muito boa, um cuidado grande pela ambientação do Universo DC e pecar nos aspectos principais de um jogo eletrônico: gameplay, elementos dinâmicos e uma jornada que justifique a curva de aprendizado. O que o fã encontra é apenas mais um no meio de tantos que já foram lançados no passado.
Caso a sua expectativa para Gotham Knights esteja alta, recomendo que respire fundo e tenha em mente que as chances de desapontar serão grandes. É um passo para trás no qual, acredito eu, que a Rocksteady compensará futuramente com Suicide Squad: Kill the Justice League e a Insomniac Games com Marvel’s Spider-Man 2. Por enquanto, parece mais uma tentativa de emular algo como Avengers sem a pretensão de se tornar tão icônico quanto os seus super-heróis.