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Eu diria ser inevitável começar a jogar Gotham Knights e não ver um caldeirão de oportunidades que foram desperdiçadas com o seu lançamento. A WB Games Montréal e a DC tinham todos os instrumentos em mãos para fazer da experiência um sucesso total, porém desperdiça tudo isso em clichês e formatos da indústria que não cabem mais na atual geração.

Vejam bem, caros leitores, isso não significa que este jogo é muito ruim ou impossível de engolir. Se você observar de certo ponto de vista, ele pode ser bacana para fãs destes personagens e curiosos da DC Comics. Porém, se você esperava por algo que superasse ainda mais o que foi visto em franquias como Batman Arkham e Marvel’s Spider-Man, que foram ícones dos últimos consoles, a decepção será certeira.

Apesar de algumas das reclamações que lerá aqui podem ser resolvidas com atualizações, expansões e conteúdo adicionais…outras são simples decisões de direção que não se encaixam mais na indústria como temos hoje em dia. Todos estão se reinventando para oferecer algo a mais nos PCs mais modernos, PlayStation 5 e Xbox Series, porém esse volta no tempo e nos leva diretamente para a era “2014” onde a antiga geração estava sendo explorada.

Imagem do review de Gotham Knights
Gotham Knights seria ótimo, se não tivesse saído em 2022

Bacana, mas Gotham Knights é falho

Caso não tenha visto nada sobre Gotham Knights, vamos te resumir: ele é um jogo de aventura e exploração, nos moldes da franquia Assassin’s Creed, onde você seleciona um dos quatro auxiliares do Batman para combater o crime durante a noite. Asa Noturna, Batgirl, Capuz Vermelho e Robin. Ele chega a ter elementos de RPG também, como níveis e graus de força, assim como um sistema próprio de crafting.

São personagens que nunca foram muito explorados foram dos ambientes das HQs e animações, o que dá um ar de novidade para eles, assim como mostra pela primeira vez a cidade de forma “viva”. Em Batman Arkham Knight parte da população fugiu pelo gás do Espantalho, mal há carros nas ruas e tudo mais. Aqui temos pessoas caminhando enquanto os crimes ocorrem, um trânsito percorrendo as ilhas e o que mais imaginar.

Em conceito, tudo isso é bacana e forma um título que poderia emplacar uma boa base de fãs consigo facilmente. Na execução, muita coisa deixa a desejar e parece ter saído diretamente de uma fórmula pronta de algo que, de forma suposta, faria sucesso. Sendo bem sincero com vocês, nem é minha intenção tumultuar, principalmente por gostar muito deste universo e dos personagens que o game traz: é que ele realmente se torna entediante em poucas horas.

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Sair batendo em bandido se torna entediante em pouco tempo

As investigações, por exemplo, são completamente disfuncionais. Você sai pela noite, marca os crimes que estão rolando pelo mapa de Gotham Knights e vai atrás deles. Independente da missão, os jogadores baterão em uma quantidade absurda de inimigos para obter dados e descobrir outros crimes…até que isso te leve, de alguma forma, aos grandes vilões da história.

Vou ser bem sincero: se fosse uns três/quatro por noite, para dar um ar mais dinâmico, estaria ótimo. Porém, no geral são em torno de dez, todos com uma distância considerável no mapa e nem sempre se encaixarão no seu objetivo pessoal. Há noites, por exemplo, que nada é descoberto. Isso mesmo, ir para extremidades e passar uns 20 minutos invadindo bases, resgatando reféns e escapando de tiros apenas pelo puro heroísmo. Ouso dizer que isto deve replicar bem o que Bruce Wayne/Batman sentia, mas não quero um “Hero Simulator”, mas sim o entretenimento que ele deveria proporcionar.

Aí você nos pergunta “ué, mas não dá para pular tudo isso e seguir para a missão principal?”. Na maioria das situações dá sim. Aí entra o problema parte II. Estas rondas são responsáveis por fazer você obter XP para subir de nível. Caso não passe pelo processo de grind, pode dar adeus a várias horas de tentativa e erro no combate contra os chefões. Se a missão exige nível 5-6, não ache que será simples chegar lá no lv.3 por exemplo e encarar o desafio como um soulslike. Até porque o combate não é nada justo como os feitos pela linha da FromSoftware e nem os movimentos funcionam tão bem quanto deviam na hora do aperto.

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Se você quiser, dá para pular, mas não aumenta de nível também

Santa batacademia!

Já que toquei no assunto da movimentação de Gotham Knights, ela é no mínimo complicada. A produção não aproveita em quase nada os diferentes trejeitos dos personagens que está colocando sob o holofote. Asa Noturna é um exímio acrobata, mas suas manobras são duras e quase sem nenhuma maestria. Robin carrega consigo todas as batbugigangas e as opções dele são pífias, para dizer o mínimo. Os únicos que determinam uma certa diferença de gameplay são o Capuz Vermelho com suas armas de longa distância e a Batgirl com suas habilidades de hacker. De resto, esqueça.

A Batmoto, que devia ajudar os jogadores, também não é nada prática. Falando de forma bem direta, veja qualquer vídeo do game e me diga se o próprio Batman conseguiria se movimentar nela de forma adequada. Sem nenhum apetrecho, direção dura e um GPS horrível, diga-se de passagem, ela nem de perto passaria pelo selo de aprovação do Homem-Morcego. Porém, agradeço por quem teve a ideia de colocar um efeito bacana que dá uma leve sensação de velocidade enquanto está correndo. Aquilo foi agradável durante os percursos.

Queria muito jogá-lo e estava até esperançoso pela experiência, pensando que daria para ceder elogios mesmo acerca das polêmicas que surgiram tão próximo ao lançamento. Ainda assim, sinto que ele veio na época errada e seria um título excelente se fosse lançado em 2014/2015 para o PlayStation 4 ou Xbox One. Os PCs de nova geração, o PlayStation 5 e o Xbox Series são máquinas que mereciam mais e este tipo de material devia vir aprimorado pensando nelas.

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Tem sistemas que envelheceram mal: Gotham Knights usam estes

O mesmo vale para a performance dele nessas plataformas. Quem me acompanha aqui no site sabe que eu raramente bato na tecla dos gráficos. Para mim, diversão e beleza não precisam necessariamente caminharem juntas. Não discordo de quem pensa diferente, mas não costumo “avaliar arte”. Ainda assim, travar Gotham Knights em 30fps – que, detalhe, cai com frequência – é um verdadeiro tiro no pé. Ninguém paga +R$4k em um videogame e +R$300 em um título que não ofereça aquilo que a tecnologia está se propondo a oferecer.

Se fosse algum game indie ou uma iniciativa do nível EA Originals, por exemplo, é justificável. Porém, estamos falando de uma grande produtora, atrás de um grande estúdio, produzindo um título de um herói do calibre do Batman com investimento de AAA. Gostaria muito de ouvir o lado deles para compreender melhor a situação, mas o que vi dentro do gameplay não era absolutamente nada que fizesse jus a isto.

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O jogo não é ruim, mas também não é uma experiência agradável

O Batman está morto

Se algo se salva no meio desta verdadeira Legião do Mal de decepções, é a história do jogo. Ela foi a única razão pela qual me senti motivado a prosseguir e os roteiristas estão de parabéns ao trazer o melhor dos quatro heróis para dentro dos videogames. A cada avanço da história, mais a interação deles brilhava no Campanário e criava a química perfeita que esperávamos.

Como todos sabem, Bruce Wayne morreu em Gotham Knights e sua Batcaverna foi completamente destruída. Resta ao Dick Grayson, Barbara Gordon, Tim Drake e Jason Todd assumirem a segurança de Gotham e saírem atrás de pistas sobre o último crime que o Batman estava investigando. Qual, obviamente, parece estar ligado diretamente à sua morte. Entre os vilões conhecidos, temos o envolvimento de Ra’s Al Ghul, Arlequina, Senhor Frio e, é claro, a própria Corte das Corujas que já foi apresentada como a principal antagonista nos trailers.

Neste meio, você pode, por exemplo, visitar a estátua de Jim Gordon com a Batgirl para desbloquear uma cena própria da personagem. As interações deles entre si e com os vilões é muito boa, inclusive superam alguns materiais anteriores que consumi da DC. Todo este carinho é um baita serviço aos fãs e cativa bastante quem gostaria de vê-los na frente dos holofotes. Para mim, este é de longe o ponto alto da aventura e onde poderão algo de diferente.

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Ao menos a história se salva

Infelizmente, isso não segura a experiência negativa que o restante passa ao público. Não adianta nada o primor da história, uma dublagem muito boa, um cuidado grande pela ambientação do Universo DC e pecar nos aspectos principais de um jogo eletrônico: gameplay, elementos dinâmicos e uma jornada que justifique a curva de aprendizado. O que o fã encontra é apenas mais um no meio de tantos que já foram lançados no passado.

Caso a sua expectativa para Gotham Knights esteja alta, recomendo que respire fundo e tenha em mente que as chances de desapontar serão grandes. É um passo para trás no qual, acredito eu, que a Rocksteady compensará futuramente com Suicide Squad: Kill the Justice League e a Insomniac Games com Marvel’s Spider-Man 2. Por enquanto, parece mais uma tentativa de emular algo como Avengers sem a pretensão de se tornar tão icônico quanto os seus super-heróis.