Pelo nome, GALAK-Z: The Void já entrega seu gênero: shoot ‘em up ou “jogo de navinha” para os mais íntimos. Mas ele não é um mero jogo de navinha qualquer, no qual você apenas atira nos inimigos que vem em sua direção até chegar ao final da fase. Aqui temos um belo exemplo de mistura de gêneros que deu certo, se destacando dos demais.
Não se resumindo a ser um shmup tradicional, GALAK-Z também engloba elementos de rogue-lite contendo exploração durante as fases e a possibilidade de evoluir sua nave (armas e defesa) à partir de itens encontrados ao longo de sua jornada.
O título não é novo, pois já foi lançado para PC e PlayStation 4. Este review engloba o lançamento da versão definitiva pro Switch, que junto do game original vem o DLC “The Void”. No eShop, você também encontra a variante GALAK-Z: Variant S pra baixar de graça. A desenvolvedora 17-BIT não quer perder tempo e já está ralando pra finalizar o port de Skulls of the Shogun: Bone-A-Fide Edition pro console da Nintendo.
Na trama acompanhamos A-TAK (um ótimo trocadilho, por sinal), o último sobrevivente de seu esquadrão espacial, em sua jornada para combater os Imperials e os Void Raiders em uma guerra intergalática ao comando da Comandante Beam, diretamente do encouraçado espacial USS Axelios. Durante as cutscenes e no próprio gameplay temos bons momentos de diálogos que podem até arrancar um sorrisinho de vez em quando, apesar das frases prontas ditas pelo protagonista após efetuar alguma ação serem por vezes repetitivas no decorrer das fases.
Um olho no peixe e outro no gato
Há duas maneira de jogar GALAK-Z, basicamente. A primeira é quase que um speedrun, indo diretamente aos objetivos e ignorando todo o resto para concluir as fases. A segunda (e mais recompensadora) é explorando bastante os cenários para encontrar baús e assim progredindo com as melhorias em sua nave. Porém, nesta segunda opção também podemos nos deparar com inimigos que perambulam pela vastidão do universo. Existe algo bom e ruim nisso. A parte boa é que ao destruí-los os loots deixados por eles podem ser muito proveitosos, especialmente no sentido monetário da coisa, além de também haver a possibilidade de nos deixarem diagramas para melhorias. A parte ruim é que você pode morrer e perder tudo que conquistou até ali. Portanto tenha certeza de que está preparado para enfrentá-los.
No HUD da tela de gameplay temos a visualização das informações mais relevantes, como a quantidade de dinheiro, mísseis disponíveis, o objetivo e em especial a barra de vida e escudo. É sempre importante ficar atento à essas duas barras ao enfrentar os inimigos. A primeira barra que sofre dano ao ser atacado é a de escudo e, após perder todo seu escudo, aí sim você começará a sofrer o dano real. A barra de escudo se renova após um determinado tempo, mas a de vida não. Tendo isso em mente, sempre que sofrer dano na vida é recomendável recuperá-la na loja para garantir que não irá falecer em uma futura missão.
GALAK-Z é relativamente curto, contando com quatro sessões de cinco fases cada. Ou seja, um total de 20 fases, sendo quatro delas com chefe. Mas não pressuponha que será fácil terminar esta jornada, jovem Padawan. Você terá muito a aprender antes de dominar este jogo.
Quanto aos modos, o jogo oferece dois: Arcade e Rogue. Arcade é mais casual, salvando seu progresso por fase concluída. Em Rogue seu progresso somente é salvo ao concluir cada seção, após terminar cinco fases. Se morrer terá todo o seu progresso reiniciado, perdendo todas as suas melhorias e dinheiro. Após concluir todas as fases em qualquer um dos modos, você irá desbloquear um terceiro chamado The Void. O conteúdo do DLC consiste em um modo sem fim, com inimigos vindo subsequentemente até você sucumbir. Este modo também conta com um ranking de pontuação global à moda antiga do gênero.
Complexidade na medida certa
À primeira vista, GALAK-Z pode parecer punitivo demais. Mas apesar de você perder tudo o que conquistou ao morrer (no modo Rogue), duas coisas você nunca perderá: os Crash Coins e os diagramas de melhorias desbloqueados durante sua sessão passada, reforçando ainda mais o espírito de exploração. Ao desbloquear estes diagramas, eles ficam disponíveis na loja em futuras jornadas, não tendo que procurá-los novamente (exigindo apenas dinheiro para adquiri-los).
Já os Crash Coins funcionam como um “porto seguro”: caso você morra e tenha cinco ou mais destas moedas, você pode trocá-las por uma nova tentativa, assim mantendo seu progresso. Mas tem uma pegadinha: ao aceitar recomeçar a fase, você perde todos os seus upgrades e sua nave volta ao estado inicial. Cruel? Nem tanto. Todos os itens conquistados até o momento da sua morte estarão em um baú em algum lugar da fase, dando a chance de recuperar tudo o que perdeu.
Não aceitando gastar as moedas para recomeçar, os Crash Coins irão se transformar em dinheiro normal na sua próxima jornada, cada uma sendo equivalente a 250 unidades normais. São regras bem sacanas, mas que no final equilibram bem o game.
As fases são divididas em setores, os quais temos liberdade para explorar ao nosso bel-prazer e curiosidade. Estes setores podem ser visualizados pelo mini-mapa, que também indica onde está o objetivo. Em teoria as fases são geradas “proceduralmente”, mas na prática não é bem o que acontece. É bem comum jogarmos fases com exatamente o mesmo layout em sessões de jogo diferentes. O que muda é a ordem com a qual as missões são oferecidas, não as missões em si.
Arte retrô moderna
O estilo artístico presente aqui é bem interessante, principalmente durante o gameplay. Os elementos nos cenários são apresentados em miniaturas, mas cheios de detalhes e cores bem destacadas para fácil identificação. Os modelos de personagens são baseados em super sentais como Power Rangers e animes da década de 90, mas não exatamente da forma correta. O visual 2D causa uma certa estranheza no ambiente tridimensional, principalmente a fisionomia e os movimentos um tanto medonho dos personagens.
Um fator curioso é que boa parte dos menus remetem aos antigos aparelhos de vídeo cassete, com aquela pausa típica em uma fita VHS. Outro detalhe bacana é que o jogo trata cada seção de fases como uma temporada e cada missão como episódio, com direito a tela de apresentação no início dos episódios e uma tela de créditos no final das temporadas.
A trilha sonora também é um elemento que merece destaque, com sua pegada sci-fi. Ela tem ótimos momentos, principalmente nos momentos mais agitados, sempre com um batida empolgante que casa bem com o que está na tela. E tenho mais um elogio, agora para os comandos bem responsivos. São fáceis de compreender, mas exigem destreza para dominar. Conseguir desviar de um ataque ou rajada de tiros apenas usando seus propulsores e habilidade realmente faz valer. Apenas senti falta de uma mira visível, para saber exatamente onde vamos atirar.
Os inimigos se baseiam em naves e insetos espaciais. Tanto um quanto o outro contam com variações de tamanho, força e resistência. As naves podem te atacar a longa distância com tiros laser, enquanto os insetos realizam ataques de corpo-a-corpo e consequentemente te causam mais dano. Eles também se atacam, abrindo oportunidades para matá-los mais facilmente.
A inteligência artificial dos inimigos não deixa a desejar: eles usam táticas como se esconder ou evitar seus ataques quando estão em desvantagem. Quando uma nave inimiga menor te avista, ela foge em busca de outras naves para se juntar à elas e te atacar em bando. E ao destruir naves maiores as pequenas tendem a fugir para se salvar.
Os cenários também apresentam armadilhas, desde plantas que reduzem seu movimento até enormes minhocas espaciais prontas para dar mordidas na sua nave. Contudo, se você for hábil o suficiente, pode usá-los à seu favor causando dano nos inimigos. As batalhas contra chefes são sempre frenéticas e desafiadoras, cada um com suas próprias características. Você precisa estar bem munido para enfrentá-los e bolar uma boa estratégia para não morrer. Afinal, com poucos ataques eles acabam com a sua nave.
A transformação meca, um dos pontos mais chamativos do jogo, traz uma variedade significativa no gameplay. Com a transformação, você tem acesso à novas habilidades como usar uma espada laser, um escudo e também um gancho para agarrar qualquer coisa e arremessá-lo. Neste modo sua movimentação é reduzida, mas seus ataques e defesa são muito mais vigorosos. Com os power-ups então, as vantagens aumentam.
O inimigo mais terrível
Os engasgos que o jogo apresenta na versão de Switch será seu inimigo mais terrível. Basta ter muita coisa acontecendo na tela para o jogo apresentar queda de desempenho. Às vezes isso ocorre aleatoriamente, sem motivo aparente. Mas a gota d’água foi ver o game travar completamente durante uma batalha contra chefe, restando apenas a opção de reiniciar o console. Continue? A opção simplesmente não apareceu no menu, me obrigando a recomeçar o modo Rogue do zero. E isso aconteceu mais de uma vez. Enquanto este bug não for corrigido num futuro update, melhor jogar no modo Arcade mesmo. Eu fiquei bastante frustrado com isso, mais do que com os engasgos inconstantes.
Outro ponto que pode frustrar é o sistema de progresso. Todas as vezes que concluir uma seção de fases sua nave é resetada ao estado original na próxima seção, não continuando com os upgrades que você implementou ao longo da aventura. Isso torna a tarefa ainda mais árdua, pois o game empurra sua nave desprovida de tudo contra inimigos mais fortes.
Inicialmente, não esperava muito de GALAK-Z: The Void: Deluxe Edition. Mas me surpreendi ao ver que a mistura de elementos de outros gêneros deu certo, tornando a experiência muito mais gratificante e igualmente desafiadora. Apesar dos momentos frustrantes, este é um jogo que pode ser apreciado por muitos. Portanto se você curte o gênero e procura por um gameplay renovado, com certeza esta é uma boa pedida.