De cara, Forestrike pode aparentar um jogo simples com seu visual pixelizado e estilo 2D, mas a verdade é que ele vai além de um mero jogo de luta. O jogo está cheio de combates em artes marciais e desafia o jogador a dominar não apenas os golpes, mas também a mente e a memória. O que antes parecia simples vai ganhando profundidade e resta saber se você consegue dominar todo esse conjunto enquanto conhece essa história.
Neste roguelite desenvolvido pela Skeleton Crew Studio, a verdadeira luta não acontece diante do inimigo, mas dentro da mente de quem se prepara. Esse é o tipo de jogo que transforma tentativa e erro em coreografia, e paciência em poder – talvez trazendo uma das melhores formas de tornar o roguelite acessível, sem deixar de ser desafiador e, claro, empolgante.

Conhecendo um samurai que prevê movimentos
No papel de Yu, um artista marcial e detentor da técnica Presciência, partimos em uma jornada para libertar o imperador das garras de um almirante maligno. A premissa é inspirada em filmes clássicos e reserva momentos de muita ação, com espaço para reflexões nas mentorias dos mestres e também muitas piadinhas que equilibram bem toda a jogatina. Felizmente, tudo pode ser acompanhado com facilidade, já que o jogo está inteiramente legendado em português.
O verdadeiro adversário nesta missão é o próprio combate, a repetição, o “antes de entrar” que geralmente decide a vitória. Forestrike mistura o combate de kung-fu com o loop do roguelite e um toque de puzzle. A grande sacada é o sistema de Presciência: antes de lutar “de verdade”, você pode ensaiar mentalmente cada encontro, testando ações, movimentos, entendendo padrões inimigos até encontrar uma sequência perfeita. Depois, entra a versão “real” do combate – e você ainda pode perder, o que significa recomeçar, felizmente com o progresso garantido.
Em termos simbólicos, o personagem age como monge-guerreiro que busca o domínio interior tanto quanto o físico, embora seja fácil compará-lo a um samurai. Aliás, há um detalhe interessante: o ritmo cadenciado e a serenidade dos treinos mentais da Presciência também lembram muito o iaido (arte samurai de sacar a espada com perfeição e calma), algo que vemos em Ghost of Yotei, por exemplo. Em Forestrike, o espírito do samurai não usa armaduras, mas mantém as tradições em cada golpe e tentativa de superação.

De forma básica, Yu possui ataques leves, fortes, esquivas (embora isso consuma energia limitada) e bloqueios. Também pode atacar com objetos e até contra-atacar itens arremessados contra ele, como pedras. Todos esses comandos vão se misturando durante o combate, mas não adianta achar que aqui é um tradicional beat ‘em up. Pelo contrário: a observação do tipo de inimigo e de seus movimentos faz você escolher exatamente qual golpe deve usar para garantir a melhor sequência. Isso se amplia ao longo da jogatina, já que novas técnicas vão sendo desbloqueadas, resultando em inúmeras possibilidades.
As inúmeras chances de Forestrike
A primeira impressão é de que a antecipação de Forestrike é meio boba, e que dá pra seguir direto para a batalha real. Até que você se pega tentando uma combinação perfeita para evitar qualquer dano ao personagem, já que a vida é bem limitada. A tentativa e erro se integra de forma excelente ao contexto narrativo e ao próprio roguelite, afinal, quem não quer uma chance de se preparar melhor para não ter que recomeçar a jornada?

Até aqui fica claro que o jogo tem muito mais a oferecer do que aparenta e não para por aí. São centenas de técnicas para aprender, e não pense que os inimigos serão iguais a cada partida. As fases seguem uma sequência narrativa, mas a composição muda a cada tentativa, o que garante que cada sessão seja única. Grande parte do progresso se mantém; inclusive, mesmo perdendo algumas batalhas, podem haver mudanças na narrativa, o que passa uma sensação constante de avanço e ajuda a manter o ritmo.
O jogo também está repleto de itens para coletar: inúmeros adornos, pinturas com artes conceituais, um códice de inimigos e chapéus. Existe até uma fonte em que as águas guardam memórias de suas batalhas. Na prática, são vídeos que você pode salvar sobre aquelas execuções perfeitas que realizou. Você também pode consultar estatísticas de partidas anteriores; para os detalhistas, informação é o que não falta.

A cada partida, você poderá escolher um dos cinco Mestres (que vão surgindo conforme progride na história), cada um com sua escola marcial, atribuindo técnicas que transformam o estilo de luta. Escolher entre eles muda completamente sua postura nos combates: um pode conceder o ki necessário para a esquiva, enquanto outro pode ensinar bloqueios específicos para inimigos mais fortes.
Assim como em Hades, em alguns momentos é possível adquirir novas técnicas, sejam de ataque, defesa, efeitos durante bloqueios ou obtenção de itens. Isso também varia conforme o mestre escolhido para a jornada. Também é possível recarregar sua energia em troca de ouro. Algumas pétalas de lótus podem aparecer em seu caminho, e ao completar cinco delas, é possível reviver após ser abatido em uma luta real. Tudo isso mostra que Forestrike está longe de ser um jogo simples.

Desconfiando das previsões
Essa abordagem mais pausada nos combates talvez seja o que ele faz melhor no gênero: cada falha ensina, e cada tentativa importa, afinal sempre traz algum ganho e sem perceber, você fica horas tentando fazer o melhor combate possível e o mais engraçado é que nem sempre as previsões acertam, risos. Parece o tipo de jogo perfeito para o Switch, seja pela portabilidade, ou pelas sessões curtas que exigem concentração máxima.
O jogo possui um visual pixel art muito atraente, lindo tanto no portátil quanto na TV e, mesmo que possa parecer simples, dá para ver os movimentos de Yu com fluidez. É impressionante como conseguiram criar animações tão expressivas com pixels. Algo que infelizmente falta é uma revisão nos textos dos menus, onde palavras com acentos têm letras ocultas, vale um ajuste na fonte.

Diferente de títulos como Sifu e Hades, que enfatizam o impacto e o ritmo frenético, Forestrike prefere a calma e a percepção entre os movimentos, tal como em Ghost of Yotei. Ele não quer te impressionar, quer te disciplinar. No fim, acaba impressionando, porque é realmente muito satisfatório conseguir uma sequência perfeita de golpes.
A jornada de Yu é mais interior do que épica: cada batalha é uma repetição que não se repete, cada recomeço, um passo adiante. Forestrike é um convite para falhar, e falhar bem até que a derrota se torne aprendizado e o movimento se torne natural. Tudo isso vale as boas horas de jogatina até dominar e desbloquear tudo que o jogo tem a oferecer.
Prós:
🔺Os combates são fluídos e lotado de técnicas
🔺A Presciência é original, tornando o aprendizado parte da narrativa
🔺É um roguelite bem construído: morte importa, mas não elimina tudo
🔺O visual em pixel art é detalhado e bem bonito
🔺Tá lotado de itens para desbloquear
Contras:
🔻Os textos dos menus requer uma revisão
Ficha Técnica:
Lançamento: 17/11/2025
Desenvolvedora: Skeleton Crew Studio
Distribuidora: Devolver Digital
Plataformas: PC, Switch
Testado no: Switch


