A parceria entre as desenvolvedoras Mantra e Sinergia Games trouxe um dos metroidvanias mais esperados desde 2021. Elderand é o resultado do trabalho de desenvolvedores nacionais e da distribuidora Graffiti Games, famosa pelo divertidíssimo Turnip Boy.
Viceral em sua proposta contrapondo o visual vibrante, temos a chegada de mais um souslike com uma belísssima pixel art que se esforça para inovar dentro do gênero, se destacando pela maneira como constrói seu mundo e propõe a experiência de sobreviver às loucuras e violência.
Era uma vez um culto aos antigos deuses
Os desenvolvedores buscaram no terror lovecraftiano muitas referências, inclusive visuais, para conseguirem trazer para o jogo a escuridão e o desconhecido como base para o medo pelo incompreensível ao construir essa jornada épica.
No controle de um herói, conhecido como mercenário, que parte em uma aventura pelos reinos de Elderand em busca de glória e riqueza, com a missão de colocar fim na maldade do legado de Sertris em nome do grande sacerdote, conhecendo a sombria mitologia que assola este mundo por diversos motivos e enfrentando os mais terríveis inimigos.
Gostaria de trazer um olhar por toda a história que encontramos, mas infelizmente ele bebe diretamente de Dark Souls, construindo sua história com pergaminhos que encontramos ao longo do extenso mapa e complementado, mesmo que minimamente, pelas relíquias que você encontra.
Através dos compêndios mitológicos aprendemos mais sobre a tríade de criaturas cósmicas e titânicas que deram origem a esse mundo, assim como transformaram regiões, como Omulore, ou possuem uma ameaça iminente, como a Grande Catedral.
Adicione diveras outras localidades e você terá uma grande diversidade de ambientes muito bem representados visualmente, com tumbas, cavernas, castelos, pântanos e locais que farão você pensar duas vezes em explorar pelo medo de morrer. Afinal o principal elemento de um souslike, a fogueira para salvar seu progresso, nem sempre estará num local próximo ou de fácil acesso.
A quantidade de inimigos e chefões também impressiona, principalmente por ser um jogo indie, que desde o início se propõe em trabalhar com foco na experiência para o jogador. Com aquela sensação de que você pode morrer ao avançar para a próxima tela ou encontrar um chefão quando menos espera, faz com que tudo seja feito de maneira mais cadenciada e de maneira cautelosa.
Cavaleiros com armas gigantescas, serpentes guerreiras, ogros gigantescos e feiticeiros misteriosos sentados em seu trono são algumas dos diversos desafios que você terá em uma jornada que exigirá algo próximo a dez horas de jogo. Esse tempo pode aumentar drasticamente quando você decidir investir seu tempo na evolução do seu personagem.
Infelizmente um dos pontos negativos do jogo é a demora que temos em ganhar acesso aos equipamentos mais fortes ou que permitem um combate mais elaborado. Foram mais de três horas para sair do básico e cinco horas para ultrapassar o nível 40, inclusive essa demora também está relacionada para liberarmos a viagem rápida entre as fogueiras que encontramos.
Seja por propor um jogo mais cadenciado, com atenção aos detalhes e cautela na exploração, inclusive aprendendo o comportamento dos inimigos, os desenvolvedores não vão facilitar a vida de quem busca um gameplay mais frenético.
Muito grinding e backtracking
Elderand possui um sistema simplificado de RPG, em que você terá a opção de customizar seu personagem com arma primária, secundária, arco, armadura e acessórios. Além disso você poderá sua vitalidade, sabedoria, força e destreza, que está diretamente relacionada ao estilo de combate buscado por você.
Meu estilo foi apostar em uma arma rápida para inflingir dano e causar algum efeito negativo, como envenenamento, para aproveitar a boa escolha dos desenvolvedores para os controles e a facilidade em alterar não somente a minha arma primária, mas alterar todo o set de equipamentos, usando meu cajado e atacando à distância com magia.
Durante as primeiras horas ficará claro que você precisará investir parte do seu tempo na evolução dos seus status, além de buscar por armas melhores após alcançar Terrakan. Até lá você talvez sofra um pouco para sobreviver aos combates dos três primeiros chefões, já que contra os inimigos normais você pode correr para a fogueira e recuperar sua energia.
Muitas vezes tive a mesma impressão negativa que encontrei ao jogar Elden Ring, em que talvez eu estivesse muito fraco ou muito forte para a região que eu estava explorando. O desafio parecia nunca estava balanceado, o que causava muita alteração de tempo entre uma área e outra, sem manter uma constância na exploração.
Divertido, viciante e desafiador
A teoria de que um soulslike faz você tentar diversas vezes, aprendendo com seus erros e observando seu inimigo, até você conseguir avançar em sua jornada está muito presente em Elderand. Com um excelente level design, o visual pixelado detalhista e que se preocupa muito em representar os elementos, acompanhados de uma excelente trilha sonora fazem deste indie uma jóia rara.
Acredito que não focar em uma única história para o herói ao mesmo tempo em que explora diversas narrativas focadas em personagens, vilões e regiões, foi um grande acerto dos desenvolvedores. Gostaria de ter acesso mais fácil à história, já que muitas vezes o vício por situações desafiadores me fazem evitar explorar a esmo para investir mais tempo em griding dificultam a coleta dos pergaminhos.
O jogo é muito recompensador, pelo foco no loot e tesouros como proposta inicial ligada ao herói, inclusive na maneira como apresenta novas armas, relíquias e habilidades ou magias. Ter as lâminas, ao melhor estilo God of War, ou o ataque rápido das adagas e o ataque mágico ao melhor estilo Kamehameha, além das possibilidades que auxiliarão na exploração vertical. Detalhe para as suas “conquistas” ao participar de rituais de sacrifício, com vantagens e desvantagens às custas de seguidores deste culto misterioso.
Num primeiro momento Elderand pode ser “mais do mesmo”, como já vimos em diversos jogos, além de inibir muitos jogadores pelo desafio alto e uma curva de aprendizado muito íngreme desde o começo, mas que merece ser jogado pelo bom conjunto de elementos que ele oferece. Se você não for conquistado pelo estilo artístico, com certeza será muito bem recompensado com uma boa escrita e em PT-BR!