A FromSoftware reinventou os RPGs de ação com seu gênero soulsborne. Com escassez de itens, dificuldade absurda e com chefões que mais parecem muralhas do que pequenos desafios, atraiu diversos jogadores que desejavam a glória de zerar os títulos. Entre eles, temos a série Souls com Demon’s Souls e a trilogia Dark Souls, Bloodborne e, o mais recente, Sekiro: Shadows Die Twice.
A Bandai Namco Studios tentou entrar na onda com a mesma pegada em estilo animê, com Code Vein. Na promessa de trazer desafios e mortes pelo caminho, tudo estava convergindo para que você revivesse todo o estresse e honra dos títulos citados acima. A pegada nipônica e com personagens carismáticos, o jogo consegue trazer uma nova abordagem e ter uma leve diferença de suas inspirações.
Cybervampiros 2077
Para começar, vamos colocar as cartas na mesa. O primeiro passo é customizar completamente o seu personagem, o que traz de volta um sentimento que Jump Force deixou. Com várias novas opções e inúmeras vestes, é muito difícil que venha a encontrar dois jogadores com o mesmo set. Se não quiser perder tempo com isso, não tem problema. Eles possuem opções pré-definidas para os mais apressados.
E não são apenas as feições e roupas que você pode customizar. Seu personagem é um “Vazio”, nome dado aos que possuem abertura a aprender qualquer estilo e utilizar armas diferentes. Espadas, machados, lanças, baionetas e técnicas especiais de cada estilo são facilmente adquiríveis, dando abertura para que você preencha ele com o seu estilo. Porém, indico fortemente que você treine em vários para quando a necessidade surgir.
Agora que já sabe o quanto poderá personalizar dentro de Code Vein, o enredo te dá ainda mais opções. No papel de uma Aparição, você necessita constantemente de sangue para sobreviver. Isso. Exatamente como os vampiros. Num mundo pós-apocalíptico, se você sucumbe a essa vontade se transforma num Perdido. Eles são criaturas monstruosas que vagam atrás de qualquer coisa que se mova.
Numa série de acontecimentos, você descobre que o número de humanos é muito menor do que de Aparições. Daí, elas se alimentam das Nascentes de Sangue, as quais também estão escassas. Seu personagem, como o bom e velho escolhido, tem o poder de despertar novas Nascentes no lugar das que estão mortas. Se unindo ao grupo de Louis e Yakumo, vocês passam a explorar terrenos abandonados cheios de Perdidos para retomar a fonte de vida.
Sem mais delongas, onde isso vai parar? Conforme avança, derrota inimigos, faz novas parcerias e desenvolve a exploração nos mapas, você descobre Códigos de Sangue. Estes são tipos de técnicas diferentes, quais podem ser obtidas da mesma forma que níveis e itens, juntando Brumas. Sendo tudo obtido de uma forma só, é precisa muita estratégia para saber a hora de aprender uma habilidade nova, subir de nível ou comprar armas mais poderosas. Um erro de cálculo e sua fase pode se tornar ainda mais complicada.
Code Vein é para novatos e para hardcores
Mas não é tão difícil quanto imagina, viu? Apesar de afirmar que bebe da dose da FromSoftware, Code Vein é assustadoramente mais acessível que os jogos do gênero. Confesso ter morrido apenas duas vezes nas primeiras 10h de gameplay. Uma por ser pego de surpresa por cinco monstros ao mesmo tempo e a outra por insistir em enfrentar uma boss com um set desfavorecendo a velocidade, sendo que ela era bastante rápida.
Você consegue aumentar de nível de forma rápida, se assim desejar, além de suas armas sempre causarem um dano maior do que espera. Fora isso, após a missão tutorial do game, você tem consigo parceiros na equipe que facilitam ainda mais a sua vida dentro dos confrontos. Para quem deseja ingressar no estilo e se assusta com o que falam dos demais, essa é a porta de entrada ideal aos iniciantes.
Se você já está se descabelando, afirmando que não vale a pena por não ser tão complicado assim, dá para ficar. Ele cede ferramentas para facilitar a vida, mas não te obriga a usá-las. Você pode entrar em missões solo, se morrer não precisa resgatar a sua Bruma que se perdeu no caminho, limitar o seu estilo num tipo de arma específica ou até mesmo enfrentar um chefão sem usar os itens de cura. Posso te dar certeza que isso te trará desafios tão grandes que obtive igual apenas com Sekiro, por exemplo.
O que realmente incomoda em Code Vein é a tentativa a todo momento de se firmar como um jogo parecido com os demais. As antigas fogueiras foram substituídas pelos viscos. Cidades e grandes locais devastados cheios de monstros com armas gigantescas pelo caminho. Você até encontra aquelas criaturas gosmentas e gigantes que têm alguma habilidade distinta dos outros daquela área. Comandos e mecânica, tudo igual. Parece que ele não quer ser visto como algo além de uma cópia de tudo que foi criado até aqui.
Sendo sincero, o que me surpreendeu positivamente foram os momentos nos quais você descobre mais sobre aquele mundo e os personagens de dentro dele. Yakumo, por exemplo, que se alimenta de comida mesmo sem necessidade alguma, apenas por medo de um dia esquecer de como é o gosto e como foi viver na época que era um humano comum. Ou a personagem Io, que se apega ao protagonista, por se identificar que ambos não possuem memórias. Pequenos momentos entre as fases que acrescentam mais ao lore do título, mas que infelizmente ficam no meio da ação e não recebem tanto espaço para profundidade.
Longe de querer falar o que devia ou não ser feito, mas ter trabalhado melhor essa ligação entre os personagens e suas histórias antes do jogo teriam trazido algo que a FromSoftware nunca conseguiu. Nos jogos dela sempre há um mundo imenso, um personagem solitário e nada sobre união ou um background dos secundários bem-trabalhados. A Bandai Namco estava com a faca e o queijo, no português claro, e não conseguiu fazer um sanduba melhor, apenas mais um igual a tantos outros.
Até mesmo a base onde eles ficam instalados, cheia de recursos, parece vazia, vaga, sabe? Você consegue mudar ainda mais coisas de sua aparência, deitar numa cama, sentar e observar o ambiente, treinar, conversar, ouvir música, adquirir itens, mas nenhum desses pontos influenciam diretamente no jogo ou em sua história principal. Parece mais um local para respirar antes de seguir para as próximas aventuras do que um lar de vários vampiros.
Na batida do pseudo-Drácula
Porém, a trilha-sonora de Code Vein merece uma enaltecida. Certo que jogo de animê com vampiros já segue uma ideia clichê para quem assiste esse tipo de desenho. Ao adicionar uma pitada de emocore às músicas, por mais que seja um bordão ainda maior, eles formam uma identidade tão conhecida, mas ao mesmo tempo tão acolhedora que você se pega desejando ter outras durante o game. Apenas a base já tem duas, a abertura outra e, conforme avança, vai descobrindo as demais. Coincidentemente, o nome da banda que assina a trilha é VAMPS.
A personalização de tudo pode até atrair os mais ávidos por montar diferentes estratégias e os chefões trazem belos combates, ainda mais para quem curte animação japonesa. Porém, não estranhe se no meio das partidas notar certa queda de frames. É muito perceptível, mas não atrapalha a gameplay e deve ser consertado em futuras atualizações. Isso acontece com frequência quando há muitos personagens em tela.
Apesar de ser uma excelente porta de entrada para quem quer conhecer mais do gênero e ter um preparo psicológico antes de enfrentar Dark Souls, Code Vein não oferece nada que te faça sentir que ele seja uma nova visão do mercado de RPGs de ação. Enquanto não temos Elden Ring, vale a pena dar uma chance ao título, mas sem colocar muita expectativa em cima dele.