Temáticas de piratas nunca saíram da moda e estão sempre rondando o mercado do entretenimento, junte essa mística aos ares e ofereça piratas voadores para não errar. Foi exatamente o que a Hungry Couch Games definiu como temática para Black Skylands, publicado pela tinyBuild (do recente Undungeon) em outubro deste ano, depois de muito tempo em early access.
Espero que este review ressalte o esforço dos desenvolvedores e a proximidade com a comunidade comprovaram que toda dedicação e bom trabalho geram bons resultados, mesmo quando alguns erros surgem para tentar quebrar essa mágica.
Capitão, muitas inspirações à estibordo
Com muitas influências que parecem terem saído diretamente de Tropas Estelares para a narrativa, além de buscar em Assassin’s Creed: Black Flag uma maneira de explorar este mundinho, trazendo o combate de Hotline Miami e o crafting de Stardew Valley, Black Skylands oferece uma experiência de mundo aberto com uma história interessante.
No papel da jovem Eva, fazemos parte dos Provedores e vivemos na ilha voadora conhecida como Fathership. Por conta do envolvimento de seu pai, Richard, com os misteriosos Lingers, criaturas monstruosas que andam em bandos conhecidos como Enxame e ameaçam o mundo de Aspya, sua terra natal sofre um ataque devastador dos Caçadores.
Sem muito spoiler para não estragar como o jogo evolui sobre o relacionamento entre os Provedores, Caçadores, Falcões e os monstros que vivem na região conhecida como Tempestade Eterna, acompanhamos a jornada de Eva por diversas ilhas para restaurar a paz e dispersas as trevas que perduram à sete anos.
Todos os títulos falados até aqui servem como base para a construção de toda experiência criada criada pela narrativa ao se desenvolver por conta da proposta de gameplay. Como assim? Este é um jogo top down, ou seja, com vista superior ao melhor estilo Hotline Miamie e GTA, porém essa herança também se mantém no combate frenético e truculento.
Esse estilo de visão aérea também favorece a exploração feita por meio da navegação pelos ares à bordo do famoso Behemoth, o navio voador da sua família. A história se desenrola ao explorarmos o mundo aberto e indo de ilha em ilha, seja libertando o povo local ou descobrindo mais sobre as ameaças que corroboram com o título do jogo. Tudo se encaixa perfeitamente para que seja uma viagem agradável e recompensadora, de maneira simples e prática, sem muita enrolação.
Que tiro foi esse que tá um arraso!
A base do jogo é pura ação. Com muito armamento pesado e tiro pesado para todos os lados, seja pelos ares com batalhas entre aeronaves ou em terra, dentro das ilhas que são ocupadas pelos inimigos e que precisam ser varridos, para você libertar aquele povo oprimido e que se juntará à sua luta.
Navegar pelo mapa livremente, seja seguindo alguma missão principal ou secundária, para libertar as ilhas, fincando seu estandarte, não está no jogo gratuitamente como a principal inspiração de Black Flag. Longe de ser um mero “Ubisoft The Game”, você precisa dessa atividade para liberar melhorias de armamento, navios e a produção de matéria-prima utilizada para a recuperação e progresso da sua ilha natal.
Como “truculento”, como sugeri anteriormente, seria pela maneira menos polida nos movimentos e mira, tanto ao controlarmos como Eva ou os navios. Mova-se rapidamente ao redor dos inimigos e opte pelas três armas que você pode equipar ou por ataques corpo a corpo para eliminá-los sem problemas, inclusive os chefões. Detalhe para os ataques furtivos, que podem eliminar facilmente seus algozes (independente da força ou defesa deles).
Além do armamento pesado, muito do combate e principalmente a exploração em terra, ou até mesmo em “assalto” às outras embarcações, você realizará com o apoio de um gancho. Ao melhor estilo A Link to the Past e um “quê” de Bionic Commando, você vai se jogar (literalmente) pelos céus para alcançar distâncias maiores ou ir de pedaço em pedaço de terra ou madeira, para chegar ao seu destino. Simplesmente uma escolha genial para deixar a movimentação da protagonista ainda mais interessante e desafiadora.
Um indie completo e bem recheado
Quando sugiro ser um título indie completo, ele oferece muito conteúdo em jogo e inclusive vem acompanhado de diversos problemas. Muitas vezes me vi obrigado a encerrar o executável por ele ficar travado sem motivo, seja ao carregar ou por executar alguma sequência que acabou “quebrando” o jogo.
Isso aconteceu logo de início, quando eu ainda estava testando a movimentação com o gancho, decidindo se iria com mouse e teclado ou controle, ou até mesmo com muito mais horas de jogatina ao fazer uma viagem rápida para Fathership, que era para ser uma ilha base no jogo.
Ao olharmos para tudo o que Black Skylands pode oferecer, além do mundo aberto, temos a gestão da sua ilha, construindo instalações e operacionalizando a produção de itens e melhorias. Você também pode redecorar seu ambiente de origem, trazendo itens de outras ilhas para a sua própria locação.
Muito legal também a ideia de termos uma “pesca aérea”, ao encontrarmos pontos sinalizados durante a exploração do mundo. Através de um game de ritmo, apertando botões direcionais em sequência, somos agraciados com um bom loot de suprimentos muito úteis para a nossa sobrevivência.
Por diversas vezes você vai se distanciar da história para se perder pelo mundo, ilhas ou missões secundárias, fazendo com que o universo de Aspya apresente-se ainda mais rico e recheado, pronto para você ir em todas as áreas disponíveis (menos a misteriosa área da Tempestade Eterna). Está longe de ser um problema, pois tudo acontece de maneira fácil, simples e prazerosa, até mesmo quando nos perdemos ou ficamos sem gasolina para continuar navegando entre as nuvens.
YO HO HO e uma garrafa de rum!
A pixel art deste jogo é de cair o queixo, mas não necessariamente pela beleza e sim pelo cuidado ao retratar os detalhes e itens. Tudo muito fácil de ser reconhecido, encontrado e lidado. A trilha sonora também está lá para criar momentos de tensão e calmaria ao utilizarmos as correntes de vendo em nosso favor ao navegarmos. Cada detalhe foi pensado e colocado no jogo com esmero e cuidado.
Mesmo com diversos bugs e constantes atualizações, inclusive com uma carta aberta na primeira tela quando o jogo carrega, os detalhes fazem deste indie um grande jogo. Se a exploração é algo prazeroso e os quebra-cabeças aparecem para criar breves respiros à ação, o apoio de Luma, sua mariposa e companheira de viagem, pontuam o carisma por trás de toda a jornada.
Com a promessa de se manter atualizado, inclusive tendo o recente Aerial Update já lançado com melhorias no combate aéreo, e acompanhado de uma comunidade em constante crescimento, os desenvolvedores conseguiram fazer de Black Skylands um tesourinho que merece ser descoberto. Esta é uma das provas de que um bom produto é resultado de evolução constante e diálogo com seu público.