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Assassin’s Creed sempre teve a fórmula perfeita para virar filme: um bom roteiro épico e cheio de teorias da conspiração, heróis improváveis, cenários belíssimos, cenas de luta e ação empolgantes e figurinos que inspiram qualquer direção de arte. Após um tempo digerindo a ideia, a Ubisoft tomou a iniciativa e resolveu levar a cabo o desenvolvimento da produção em versão cinematográfica. E quem comprou a briga da adaptação foi o diretor Justin Kurzel, amparado pela produção de Michael Fassbender e roteiro de Michael Lesslie, Adam Cooper e Bill Collage.

Sob o olhar crítico de fãs pelo mundo todo, Kurzel parece não se intimidar ao entregar uma obra ousada, com elementos originais, porém sem perder a mão do que fez da série o que ela é hoje. Segundo o próprio diretor, sua intenção era levar o espectador à uma viagem inacreditável à história de Assassin’s Creed. E sim, ele cumpriu com sua promessa.

Quem conhece a série de jogos, irá encontrar as referências básicas de maneira bem construída, como a briga que rola entre assassinos e templários, a apresentação da Maçã do Éden, os mistérios que a envolvem, e como funciona a regressão através da Animus que, à primeira vista, pode ser um tanto confusa, mas que com o desenrolar do filme é possível entender seu mecanismo.

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Original sem perder a essência

O enredo foi construído em torno de Callum Lynch, que após ser condenado à morte cai nas mãos de um empresa misteriosa, a Abstergo. Ao ser apresentado de maneira aleatória, sob um discurso duvidoso, ele é submetido a experiências e apresentado à Animus, uma espécie de máquina do tempo genética, que o levará há mais de 500 anos de seu tempo para reviver a trajetória de seu antepassado.

O foco dessa volta no tempo é a descoberta da Maçã do Éden, objeto que guarda segredos sobre a humanidade e que podem mudar os rumos da história como a conhecemos. Michael Fassbender vive o assassino Callum que, por sua vez, regressa ao corpo de Aguilar, seu antepassado, para reviver o período nefasto da inquisição espanhola – que faz todas as cenas de ação valerem a pena. Durante a construção de seu personagem e a explicação do Credo dos Assassinos, tudo parece se encaixar. Os rituais e o objetivo em comum dos guardiões da Maçã seguem intactos e sincronizados de certa maneira com o que se vê nos jogos. Porém, existe uma lacuna bem sensível quando o assunto é o porquê da Maçã do Éden ser tão desejada e perigosa.

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O livre-arbítrio é o plot principal, mas não faz muito sentido para quem assiste. Parece até um discurso meio bobo de quem quer apenas uma desculpa para criar um enredo. Quando Jeremy Irons impõe os perigos de uma sociedade livre e pensante, que pessoas devem viver para obedecer, parece apenas a ideia de um fascismo fanfarrão, mas ainda assim fica faltando alguma coisa.

Outra ponto que vale a comparação do jogo com o filme, embora seja bem interessante a versão imaginada por Kurzel, é a Animus. A máquina que leva Callum para o passado parece algo saído da série Matrix. O trambolhão dá movimentação ao personagem enquanto este corre por suas lembranças. Mas, em alguns momentos, nota-se certas piruetas impossíveis e situações de desconforto do próprio ator ao ser içado alto, deixando-o com cara de “roda essa cena logo que eu quero descer”. Pode ser que a máquina dê mais dinamismo à cena, mas que é estranho, é.

Coloca o capuz e vai

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No que o filme se perde em significado de roteiro e parafernálias científicas, ele ganha com as cenas de ação. Quem joga Assassin’s Creed vai se empolgar. Os parkours absurdos que os personagens fazem dão frio na barriga de quem assiste em 3D. As perseguições e as lutas também são muito bem coreografadas e dão aquele ar de frieza e maestria que só os Assassinos do Credo carregam. Tudo é muito dinâmico, sem perder o fôlego, as cenas aéreas são deslumbrantes, com direito a acompanhar o vôo da águia, que visualiza todo um campo de batalha antes da sincronização e o tão esperado Salto da Fé, que foi filmado de verdade. O dublê Damien Walters se arriscou e deu um pulo a 38 metros do chão pra gente contemplar o momento mais simbólico da saga.

O filme Assassin’s Creed é um trabalho de respeito e isso é inegável. Feito para fãs e para quem nunca sequer jogou a franquia, o longa de Kurzel traz elementos dos jogos sem perder a mão da realidade que torna tudo diferente e único. Por isso este é, sem dúvida, o primeiro passo para que, daqui pra frente, a história das adaptações de games para os cinemas tome um rumo diferente e mais digno.