Só tem uma forma de começar esse texto, e é com a seguinte frase: não sei o que falar, só sentir. Digo isso porque desde que comecei a jogar Brazilian Root, lançado no dia 16 de março no Steam, a única coisa que me passa na cabeça é o sentimento de que este jogo não pode ser sério. Tem que ser uma zoação, no estilo daqueles filmes da Troma Entertainment ou Sharknado, em que a intenção é ser pior possível.
Se essa não for a ideia da Patria Games, desenvolvedora brasileira independente, então estão indo pelo caminho errado. E não digo isso por conta dos bugs que encontrei jogando a versão de Acesso Antecipado, algo mais do que natural nesta etapa de desenvolvimento. Me refiro principalmente ao fato da história não ter nenhuma originalidade, da dublagem ser tosca e da linguagem mais do que explícita e escrachada. Tudo bem, esperamos que um jogo mais adulto tenha alguns palavrões (em alguns casos até muitos), mas é complicado ouvir “c*zão, comi sua mãe” a cada 30 segundos, e isso é só um dos exemplos. Os diálogos, além de repetitivos, são de extremo mau gosto, até para filmes adolescentes da década de 80.
A trama é a seguinte: faltando cerca de 30 dias para as eleições, sua filha é sequestrada. Logo, sua missão é salvá-la e buscar vingança contra quem fez isso. Criativo, não? Se assistirem o vídeo abaixo poderão perceber que demorou quase sete fucking minutos para a ação começar. Isso é muito, parece mais uma novelinha do Kojima. Com essa plot, o jogador não precisava dessa ambientação toda afinal, no fim das contas, a introdução funciona apenas como enrolação.
Brazilian Root é um FPS indie que está sendo desenvolvido com a CryEngine, e isso é um ponto positivo. A aventura se passa em lugares fictícios do Rio de Janeiro, mas obviamente baseados em locações reais como ruas e favelas. E aqui vai um elogio: a ambientação é bem fiel, apesar dos gráficos parecerem bem simples e ainda precisarem de uma melhora significativa. Os efeitos sonoros, às vezes distorcidos, também precisam de atenção. Ainda assim, nada melhor para retratar a realidade das nossas cidades em um jogo do que uma equipe formada por brasileiros.
Tropa de Elite wanna be
O grande problema nessa ambientação é justamente o fato de às vezes ser bem exagerada em certos pontos, como a forma como os traficantes se expressam. Claro, sabemos que os criminosos tem praticamente uma linguagem própria e isso é interessante. Mas em vários momentos me pareceu que forçaram muito a barra na dublagem, perdendo a mão nas falas.
É como se a Patria Games quisesse que Brazilian Root fosse o Tropa de Elite dos jogos eletrônicos, só que infelizmente passaram bem longe disso. Não dá para fugir dessa comparação, principalmente por conta do filmes estarem tão gravados na minha mente. Só conseguia imaginar Benjamin como Capitão Nascimento e que a qualquer momento ia aparecer o 06 fazendo merda no meio de uma missão.
Durante a jogatina fui descobrindo algumas coisas que me desagradaram, coisas básicas presentes em qualquer FPS da atualidade. Por exemplo: não é possível conseguir mais munição para suas armas (pelo menos não achei como). É preciso trocar pelas armas que os inimigos deixam espalhadas quando são mortos. Também não há informação da quantidade de munição que estamos carregando. A jogabilidade me pareceu bastante lenta e travada, tanto usando a combinação teclado/mouse quanto no gamepad. Ou eu sou muito ruim ou a mira é realmente difícil.
Outra coisa que me incomodou bastante e precisa ser corrigido com urgência é o dano causado por cada tipo de arma. Várias vezes era muito mais rápido matar alguém usando a pistola do que um rifle. Com a pistola bastavam poucos tiros, já com o rifle era preciso quase dez. Além do balanceamento das armas, os desenvolvedores precisam trabalhar numa hud com mapa e a quantidade de munição restante.
A imagem acima não é zoeira. Não é possível acertar alguém que esteja atrás de um alambrado, pois os tiros não cruzam essa “barreira”, mas é perfeitamente possível alvejar alguém que esteja atrás de determinados muros.
Ainda há esperança
A boa notícia é que os desenvolvedores estão a par disso tudo. No momento que escrevia este texto li no Steam que havia sido liberado o patch 1.0 que acerta várias coisas e adiciona outras, como a bem vinda opção de pular cutscenes, e que os responsáveis estão atentos ao que a comunidade está pedindo. Nas notas desse release, inclusive, tem a informação de que pretendem implementar a escolha manual de resolução, algo muito pedido pelos jogadores (atualmente o jogo usa a resolução nativa do Windows).
Brazilian Root surgiu de uma boa idéia, um jogo de tiro brasileiro que faça frente ao que temos na indústria mundo afora, e pode realmente ser um título interessante, apesar da forma como está hoje. Só é preciso dedicação, e isso parece que a Patria Games tem. Quer dizer, se tudo não for uma grande zoeira. Nesse caso, passa no crédito!