Um mundo medieval assombrado por legiões de monstros, onde você é a única esperança e onde você evolui dizimando quantidades absurdas de criaturas repetidas vezes, em um ciclo infinito de morte e renascimento. Se essa descrição vale tanto para o incensado Vampire Survivors quanto para o obscuro Witchfire, já percebemos de imediato o principal obstáculo no caminho de Hordes of Hunger: encontrar seu lugar ao sol em um cenário já saturado.
O título da Hyperstrange ainda está em desenvolvimento e isso fica bastante evidente na absoluta falta de contexto na versão enviada para testes. Nada sabemos sobre nossa heroína, sobre seu misterioso benfeitor, ou sobre a origem das criaturas que tomaram sua cidade. Não há cutscenes, as explicações são breves, os diálogos curtos, a carnificina é veloz.
Essa simplicidade narrativa nos conduz para um loop de jogabilidade igualmente simples: mate muitos inimigos, cumpra alguns objetivos, colete artefatos para evoluir, morra, gaste os artefatos, retorne para o ponto inicial e repita o ciclo. Tudo que há para se ver em Hordes of Hunger pode ser visto em dez, quinze minutos de partida.
Olha o bicho vindo!
Controlamos uma heroína que porta um montante, uma colossal espada medieval. O volume de criaturas que surgem do solo é impressionante e todas convergem na direção de sua carne. São as tais hordas de famintos do título. Felizmente, o montante é uma arma com um alcance bastante amplo e a protagonista pode ceifar uma boa quantidade de criaturas com poucos golpes.
A Hyperstrange até tenta apresentar um combate mais refinado, com possibilidade de bloquear ataques ou se esquivar. Entretanto, em um título em que estamos constantemente cercados por inimigos que atacam em diferentes direções, não há espaço ou tempo para ponderações. Essas são mecânicas que funcionariam muito bem em um jogo com batalhas mais calculadas. A matança desenfreada de Hordes of Hunger se beneficiaria muito mais com um sistema de combos. Nesse sentido, habilidades passivas, como a aura de fogo, são mais práticas que o sistema de esquiva e contra-ataque.
Cada monstro derruba um pouco de experiência ao morrer e, a cada nível conquistado, é possível escolher vantagens incrementais para aquela sessão. Novamente, o jogo insiste em oferecer vantagens para bloqueio e esquiva, mesmo que você esteja ocupado demais para pensar em tais firulas. Outras habilidades disponíveis apresentam micro-evoluções que alteram muito pouco suas probabilidades de sucesso.
Com a morte inevitável diante da maré de abominações progressivamente mais fortes, nossa heroína ressuscita em um santuário. É uma ampla área aberta, com apenas três pontos de interesse. Nosso mentor irá oferecer evoluções permanentes para o personagem. Uma cozinheira irá oferecer itens de cura e alimentos que dão benefícios válidos por toda uma sessão. O último ponto de interesse é uma forja, onde teoricamente será possível desbloquear novas armas.
Hordes of Hunger é desnutrido de ideias
Pode ser cruel avaliar uma obra inacabada, mas o fato é que Hordes of Hunger falha em se destacar entre tantos jogos medievais de matar monstro, incluindo os roguelikes. Falta um pouco mais de carne nesse esqueleto frágil. Não que matar legiões não seja divertido, ainda que eu tenha experimentado rigorosamente o mesmo mapa de novo e de novo e de novo. Para complicar, no período de testes, minha evolução foi resetada duas vezes, o que só amplificou a sensação de repetitividade.
A trilha sonora é um grande acerto, principalmente a música do menu. Qualquer música com coral infantil fica duas vezes mais assustadora do que a média. Há fragmentos de uma história maior aqui e ali também. Ainda assim, é difícil que esses elementos por si só consigam elevar Hordes of Hunder acima do lugar-comum.
A Hyperstrange demonstra potencial e traz um jogo que compensa ficar de olho e retornar daqui a um ano. Até lá, torço para que Hordes of Hunger ganhe corpo.