O trabalho de Sos Sosowski complementa o catálogo da Devolver Digital com o recente McPixel 3 e reforça a irreverência da distribuidora, além de resgatar o humor escrachado da década de 80 para levá-lo aos gamers dessa geração atual.
Para simplificar, imagine um mundo em que a Nintendo removesse qualquer filtro ou proibição, oferecendo a Mike Judge (criador de Beavis and Butt-Head) ou Trey Parker e Matt Stone (criadores de South Park) a chance de criarem um novo Wario Ware.
Dedo no c* e gritaria!
Talvez o Vinícios Duarte, também conhecido como dono e responsável pelo Gamerview, me repreenda por este começo? Possivelmente. No entanto não tem como definir McPixel 3 de uma maneira mais rápida e coesa.
Depois de ter virado um sucesso cult, após o lançamento no longínquo ano de 2012, e o sumiço/cancelamento do segundo jogo, McPixel retorna para um terceiro jogo ainda mais hilário e sem noção, como eu nunca tinha visto anteriormente.
Quase como uma paródia do McGyver, neste jogo o seu objetivo no papel do herói será salvar o dia, mas sendo o mais criativo possível e pensando muito fora da caixinha. Nem só de bombas viverá este título, mas prepare-se para sobreviver à aeronaves em queda livre, incêndios, monstros gigantes, miniaturização do personagem, veículos desgovernados e vilões.
Entenda também que “salvar o dia” não signifique resgatar todos os envolvidos na situação ou história, mas talvez seja sinônimo de salvar sua própria pele e sair ileso de qualquer ameaça.
Dentro de poucos segundos, com fases tendo mais ou menos tempo para raciocinar, você precisará interagir com poucos elementos em tela para que a história prossiga, seja para um final bom, ruim ou a finalização daquela fase.
O grande desafio será evitar o raciocínio lógico para ir na tentativa e erro, já que muitos mini-games possuem maneiras inesperadas de prosseguirem ou desfechos surrealistas. Na verdade o que mais importa é jogar repetidas vezes para tentar fazer 100% de cada história, conferindo todos os rumos e dando boas risadas.
Não pare e nem pense, apenas faça
McPixel 3 possui um looping muito repetitivo, mas que está longe de ser cansativo. Ao longo das 12 fases, você jogará por mais de 60 mini-games em que precisarão ser finalizados, não necessariamente com 100% dos acontecimentos desbloqueados. A cada “falha” por não encerrar aquela microjornada, você seguirá para a próxima e retornará para ela repetidamente até que todas as sequências sejam cumpridas.
Além do botão acelerar e passar por animações já visualizadas, além de ter a chance de cumprir um mini-game com apenas uma tentativa, o jogo oferece gratas surpresas na jogabilidade e que quebram a monotonia da repetição.
Com sua maior base sendo o gênero point-and-click, com “mãozinhas” para indicar os elementos disponíveis para interação, cada fase possui uma história e que pode trazer um mini-game de tiro, shoot ‘em up, lutinha, beat ‘em up e corrida.
Sempre trazendo uma surpresa, inclusive com mini-games em que você não controlará McPixel, a fórmula de sucesso para este título indie acaba sendo a maneira frenética como você precisa reagir ao que aparece em tela.
Esta quebra de expectativa, desde chutes no saco à escatologias exageradas, fará com que o humor forçado ao melhor estilo Jackass (ou o famoso “quinta série”) surja como complemento aos acontecimentos no jogo.
Rápido, nostálgico e limitado
A direção de arte é simples e quase suja, com pixel art sem cuidado e propositalmente rudimentar para ser estranho e facilitar o humor, mesmo em situações que possam ser julgadas como erradas ou vergonhosas. No entanto a trilha sonora é um problema forte no jogo, por ser limitada, cansativa e repetitiva, apresentando uma falta de cuidado que não existe no conceito por trás do jogo ou visual.
Infelizmente a parte de som acaba prejudicando até mesmo as melhores sequências de história e mini-games, que precisam do apoio sonoro para aumentar ainda mais o humor em joguinhos que aparecem somente a partir do terceiro “mundinho”. Resgatando com força os seriados, filmes e jogos, com fortes referências à Friends e sitcoms da década de 90, além de Duro de Matar, Star Trek, Superman, Tom e Jerry, Top Gear, Among Us, Final Fight, entre outros, estes poderiam ser ainda melhores se tivessem recebido um cuidado maior na trilha e efeitos.
Por ser um jogo breve, assim como seus mini-games e rápidas histórias, durando no máximo cinco horas de diversão, o desafio é baixo enquanto a diversão é garantida. Talvez com modos mais difíceis ou quebra-cabeças mais complexos, até mesmo exigindo uma exploração maior pela cidade ou formas mais trabalhosas de conquistar as moedinhas que liberam novas áreas e fases, McPixel 3 brilharia ainda mais.