Um exercício frequente entre os desenvolvedores indies consiste em misturar gêneros e criar algo em cima disso. Nem sempre dá certo, mas é dessa coragem de arriscar que saíram jogos incríveis como Aegis Defenders, Sundered e Absolver. É muito prazeroso botar as mãos em jogos assim, principalmente quando não se sabe o que esperar. Porém nada me preparou para Yoku’s Island Express, nem mesmo o trailer de lançamento. Um metroidvania misturado com pinball? Não é possível…
Para minha grata surpresa, sim é possível. E funciona tão bem que eu não conseguia parar de jogar, ainda mais por conferir essa joia preciosa no conforto e portabilidade do Switch. Mas não se deixe enganar pelo visual todo fofinho, pois Yoku’s Island Express faz jus ao gênero metroidvania oferecendo um elevado grau de dificuldade.
A jornada do besouro carteiro
Tudo começa quando o pequeno protagonista do game, um besouro carteiro chamado Yoku, chega à ilha de Mokumana. Pouco antes de pisar em terra firme, um ataque ocorre e os seres que habitam a ilha entram em pânico. A começar pelo carteiro local, um pterodáctilo cagão que deixa em suas mãos a responsabilidade de entregar correspondências importantes para três chefes da ilha. E assim o jogo começa, com Yoku carregando sua bola de pinball presa por uma corda. Entra aí o conceito básico do pinball: com os gatilhos esquerdo e direito você controla os flippers (palhetas) azuis e amarelos, respectivamente. Com eles você dá impulso na bola para alcançar novas áreas e assim explorar o mapa, além de rolar a bola manualmente.
Não se prendendo ao padrão de posicionamento diagonal, o jogo oferece flippers que o impulsionam também para outras direções, inclusive pra baixo. O mapa de Mokumana é todo interligado do jeito tradicional do gênero, com quatro locais distintos diferenciados pelo visual (todo pintado à mão, coisa linda). O elemento pinball entra de duas formas: como flippers pelo cenário e como mesas. As áreas do mapa apresentam mesas pequenas e grandes, inclusive com desafios e recompensas. Tem até três chefões pra enfrentar em mesas especiais.
Não há morte em Yoku’s Island Express, apenas uma leve punição: você perde frutas, a moeda do jogo. Você começa com um limite na sua carteira, que aumenta conforme expande a capacidade máxima. Com estas frutas você desbloqueia flippers e compra itens de alguns personagens. Felizmente, o jogo não limita a quantidade de frutas encontradas, sendo sempre possível conseguir mais voltando em mesas de pinball já exploradas.
Seu objetivo consiste em ajudar os nativos realizando missões como encontrar uma caixa de ferramentas para consertar uma ponte, achar companhia para uma árvore deprimida, descobrir o paradeiro das mariposas e colocar cartas em caixas de correio espalhadas pela ilha. Cada missão rende uma recompensa, desde frutas a upgrade importantes. Há também tesouros, muitos deles em lugares de difícil acesso ou escondidos em passagens secretas. Por fim temos os Wickerlings, criaturinhas que ao serem coletadas ajudam a chocar um ovo que resulta no segundo final do jogo.
Como pôde notar, há muito o que ser feito nesta jornada. E tudo é muito bem amarrado, inclusive com puzzles na medida certa. Dá até mesmo para pintar a sua bola para resolver charadas, além de deixá-la mais bonita. Agora, sendo um metroidvania, pode ter certeza que você irá travar neste game. Eu mesmo travei umas seis vezes sem saber o que fazer, indo e voltando pelo mapa para descobrir. O backtracking é inevitável, o que pode cansar em alguns momentos. Mas isso logo é resolvido ao desbloquear o Beeline, um sistema de transporte que lembra os barris de Donkey Kong Country. Com isso, você viaja rapidinho pelos quatro cantos do mapa.
O gameplay também se estende para outras mecânicas além do pinball. Logo no início você arruma uma língua de sogra que o ajuda a resolver puzzles, como acordar alguém ou girar um catavento. Mais pra frente você consegue um peixe que o permite mergulhar, um aspirador de lesmas explosivas (usadas pra dar impulso ou destruir obstáculos) e um Sootling amarrado numa correia para girar em plantas carnívoras (que funcionam como gancho). Deu pra sacar o nível de criatividade dos desenvolvedores, né?
Transbordando carisma pra todos os lados
Mokumana é belíssimo, rico em detalhes e cheio de vida. Lembra inclusive o estilo artístico da franquia Rayman Origins e Legends. Os habitantes são super simpáticos e desenvolvem conversas divertidas, mesmo quando estão em perigo. Boa parte deles você precisará rever mais de uma vez ao concluir as missões, principalmente para colher recompensas ou informações para continuar a aventura. Esqueceu pra onde tem que ir? Converse com eles para lembrar as dicas. Claro, alguns irão repetir os diálogos, mas não custa nada tentar e ter um pouco de paciência.
O jogo conta também com uma trilha sonora maravilhosa, calma, prazerosa de ouvir. As músicas foram compostas por Jesse Harlin, que trabalhou em Mafia III e vários jogos da franquia Star Wars. Cada música representa um canto da ilha de forma magistral; e não demorou pra música tema (Yoku Taidua And The Village) grudar na cabeça e me fazer assobiar pela rua ao buscar pão na padaria.
Yoku’s Island Express é incrível, embora não seja perfeito. Há alguns locais no mapa que são tão difíceis de acessar que cansa o jogador após várias tentativas, um mal comum do gênero. A campanha dura entre 8 a 10 horas e é impossível não se encantar com o visual magnífico e toda a genialidade depositava no game. Que venha uma continuação!