Review – Yu-Gi-Oh! Early Days Collection

A chegada de Yu-Gi-Oh! Early Days Collection ao Switch 2 e PC marca um momento especial para fãs do clássico jogo de cartas da Konami. Desenvolvida pela Digital Eclipse, a coletânea reúne nada menos que 14 títulos, muitos deles inéditos fora do Japão, e traz à tona não apenas a nostalgia dos duelos de Game Boy até Game Boy Advance, mas também levanta discussões sobre preservação, acessibilidade e a evolução da franquia. Para jogadores como eu, que cresceram com os card games de Pokémon e Yu-Gi-Oh!, esta é uma oportunidade única e rara, mesmo que acompanhada de alguns deslizes.

Em celebração ao 25º aniversário do jogo de cartas, essa pode ser considerada uma verdadeira cápsula do tempo, pois pela primeira vez está sendo permitido que novos fãs conheçam a origem da franquia e que veteranos relembrem duelos marcantes. A inclusão de jogos nunca lançados fora do Japão, como Monster Capsule GB, amplia o acesso a experiências até então restritas, enquanto que para a Konami, trata-se de uma homenagem à história do Yu-Gi-Oh! e de uma estratégia para manter viva a memória dos primeiros duelos digitais.

É hora de relembrar o duelo

Essa coletânea impressiona pela variedade, mas já fica o alerta de que nem todos os títulos envelheceram bem, afinal temos um trabalho de reunir os jogos e não refazê-los, com remaster ou remake, mantendo muitas das mecânicas repetitivas, interfaces arcaicas e falta de tutoriais, num pacote um tanto quanto datado e que pode frustrar jogadores acostumados com games mais modernos, principalmente os card games mais atuais. Mesmo assim, há espaço para diversão, especialmente para quem busca uma experiência autêntica dos anos 2000.

Yu-Gi-Oh! Early Days Collection entrega uma coleção robusta, que vai desde o pioneiro Yu-Gi-Oh! Duel Monsters (1998) até 7 Trials to Glory: World Championship Tournament 2005. A seleção de títulos é ampla e cobre desde os primórdios do Game Boy até a era de ouro do Game Boy Advance. Jogos como The Sacred Cards e World Championship Tournament 2004 ainda se destacam pela profundidade e fidelidade ao TCG, enquanto experimentos como Monster Capsule e Dungeon Dice Monsters oferecem variedade e mostram a ousadia da Konami em testar novas fórmulas. Os simuladores de card game mais amados também estão presentes, como The Eternal Duelist Soul e World Championship Tournament 2004, que continuam sendo referências para quem quer aprender ou revisitar as regras clássicas.

Apesar da maioria dos jogos manterem apenas o modo single-player, a coleção já oferece suporte a partidas online em Yu-Gi-Oh! Duel Monsters 4: Battle of Great Duelist e World Championship Tournament 2004, com promessa de atualizações futuras para outros títulos, mas ainda sem data prevista para isso acontecer. A ausência de multiplayer online em boa parte da coleção pode ser encarada como um ponto negativo, especialmente para quem busca duelar com amigos ao redor do mundo. Junte este ao fato dos mais de dez jogos terem como base o mesmo sistema de gameplay, com loopings baseado nas características de cada adversário e você pode enjoar rapidamente ao finalizar um ou dois jogos.

De olho nas atualizações com foco em qualidade de vida, os desenvolvedores adicionaram a função de rebobinar (rewind), que permite voltar atrás em jogadas erradas, tornando os duelos menos frustrantes, além de podermos acelerar o jogo para agilizar partidas mais lentas, facilitando a vida de quem busca uma experiência mais dinâmica. O save state, inexistente nas versões originais e que exigia o término de partidas ou até mesmo campeonatos para salvar o progresso, permite que você salve seu progresso em qualquer ponto do jogo, facilitando a vida para quem não tem tempo de jogar longas sessões e permitindo retomar duelos exatamente onde parou. Fazendo par com melhorias, Yu-Gi-Oh! Early Days Collection oferece desbloqueio de cartas, personagens e a remoção de restrições de baralho e cartas proibidas, tornando o jogo ainda mais acessível e flexível, além de permitir que cada jogador ajuste a experiência ao seu gosto e customize sua jogatina.

Nostalgia com marcas do tempo

A Eclipse Digital mandou muito bem no quesito sobre preservação histórica ao adicionar uma galeria digital com artes de caixa e manuais originais, porém não foi além e deixou de fora as artes conceituais ou documentos históricos que permitiriam aprofundarmos ainda mais a experiência e conhecimento sobre a franquia. No entanto, se preocuparam em fazer com que a direção de arte mantivesse o charme pixelado dos jogos originais, com menus simples e opções de bordas e filtros que ajudam a adaptar a experiência aos padrões atuais.

Seguindo os passos do resgate nostálgico visual, a trilha sonora de Yu-Gi-Oh! Early Days Collection é um dos elementos mais marcantes da coletânea, preservando a essência sonora dos jogos lançados originalmente para Game Boy, Game Boy Color e Game Boy Advance. O trabalho realizado nesta edição foi de remasterização, elevando a qualidade do áudio para os padrões atuais sem descaracterizar as composições originais, que já se destacavam pela criatividade mesmo com as limitações técnicas dos portáteis da época. Mesmo em sua simplicidade e foco na funcionalidade, sem muito conteúdo exclusivo ou com interfaces mais elaboradas que carregasse a riqueza visual da franquia, os jogadores estarão sempre com os tradicionais chiptunes, telas vivas e cores vibrantes.

Yu-Gi-Oh! Early Days Collection é, acima de tudo, um produto indispensável para fãs nostálgicos e colecionadores, mas pouco convidativo para novatos ou quem espera uma experiência moderna e polida. Seu maior mérito está na preservação e acessibilidade de títulos históricos, mas a falta de capricho em extras, a ausência de multiplayer online em quase todos os jogos limitam seu potencial. É uma coletânea que cumpre seu papel de homenagem, mas que deixa claro que o tempo não perdoa certas mecânicas até mesmo para títulos icônicos e que moveu um mercado de jogos de cartas. Para quem busca uma viagem ao passado este é o jogo perfeito, mas para o público geral, talvez seja apenas uma curiosidade histórica e um lembrete de que nem todo duelo deve ter uma hora para acontecer.