Skip to main content

Se Yakuza Kiwami fosse lançado em 2014, ao invés daquela enxurrada de remaster e remakes desnecessários do início dessa geração, com certeza seria um excelente começo para os gamers. Longe de ser apenas um port para PS3 e PS4, tentando cumprir a exigência dos HD Remasters, a SEGA apostou em refazer todo o trabalho para trazer um lançamento que pudesse introduzir o Ocidente nessa franquia incrível, além de reforçar a recente chegada de Yakuza 0. Um título completo para quem sempre teve curiosidade em acompanhar a jornada da máfia mais famosa do planeta, esse é mais um “jogão da porra” que chega em 2017 e consegue brigar no mesmo patamar das novidades milionárias que tivemos até agora.

Essa é a prova que mesmo depois de seis lançamentos, com o sexto título programado para chegar no Ocidente em Março de 2018, a franquia Ryu ga Gotoku, como é conhecida no Japão, segue firme, forte e conquistando muitos fãs a cada dia. Você terá a oportunidade de participar desde o início da jornada de um jovem mafioso em um jogo que cumpre aquilo que a franquia promete: uma história excelente com muito humor e violência, digna dos filmes em que Quentin Tarantino se baseou.

Dragão nascente

Não ignorando o capítulo 0 da franquia, mas esse é o verdadeiro começo da saga de Kazuma Kiryu, do clã Tojo. Após os acontecimentos envolvendo seu chefe, Sohei Dojima, seu amigo de infância Akira Nishikiyama e sua noiva, Yumi, o jovem Dragão é preso por 10 anos e vê sua jornada de sucesso, perante as demais famílias japonesas, desmoronar. Somente com a ajuda do seu antigo chefe, Shintaro Kazama, é que ele descobre que a saída de Kiryu da cadeira também veio acompanhada do misterioso sumiço de Yumi e o roubo de 10 bilhões de Yen. Com a trama central estabelecida, você precisará proteger uma pequena orfã, chamada Haruka, e tentar solucionar os mistérios por trás das recentes mortes, as mudanças ao seu redor e os repentinos desaparecimentos.

Akira Nishikiyama e Kazuma Kiryu, a dupla principal de Yakuza Kiwami

Esse é mais um dos jogos que a Sony tem em seu portfólio de exclusividade e que oferece uma experiência cinematográfica. São sub-plots bem construídos e que contribuem diretamente para a vida de um mafioso, fazendo com que Yakuza Kiwami se torne um jogo interessante de ser jogado e também assistido. Durante as quase 20 horas de jogatina tive a companhia da minha noiva que se empolgava a cada sequência, mesmo sentindo certo desinteresse durante o gameplay por conta de elementos repetitivos. São cenas muito bem construídas e de tirar o fôlego, como se estivéssemos acompanhando um filme ou seriado americano; a pegada hollywoodiana no formato em que a narrativa é construída se torna um dos diferenciais e ponto forte do trabalho realizado pela SEGA.

Mesmo em 2005, quando o jogo saiu para PS2, as suas limitações e dificuldades eram vencidas pelo interesse gerado na história. Nem aquele Stranglehold, com o John Woo, que saiu para XBox 360 prometendo ser um filme jogável, muito menos Uncharted com seu carisma, consegue brilhar mais do que a jornada de Kazuma Kiryu. Detalhe importante: esse é apenas o primeiro jogo de uma franquia ativa há mais de 10 anos.

Os embalos de sábado a noite, no seu “QG temporário”

Claro que em alguns momentos você acaba se sentindo meio perdido pela quantidade de nomes, nomenclaturas orientais para as organizações, ou até mesmo sentir a história um pouco lenta, já que jogos mais antigos não iniciavam de maneira frenética, como Uncharted 2 impôs ao mercado a partir de 2009. Basta você passar as primeiras horas de jogo, mais ou menos na segunda ou terceira hora, que cairá no trem do hype ao descobrir os primeiros indícios de conspiração e plot twist que com certeza vão conquistar quem está jogando. Para uns pode até parecer meio clichê (minha noiva que acompanhava toda a história começou a prever certos fatos), mas vale a pena acompanhar pelo desenvolvimento dos fatos e não pelo acontecimento propriamente dito. Uma pena a história, mesmo com mais de uma década, não poder ser abordada livremente por mim nessa análise, pois a partir do seu segundo encontro com Kazama, seu antigo chefe, ela engrena de maneira impressionante com vários detalhes que estragam para quem está apenas começando.

Carisma nipônico

Kazuma Kiryu pode até parecer o japonês mais tradicional, com sua frieza e racionalidade, porém muitos outros personagens vão conquistar um espaço especial durante o jogo. Todos são muito bem construídos e com potencial de se desenvolverem ao longo da narrativa, deixando de lado aquele estereótipo de serem rasos, que muitos jogos de mundo aberto possuem, para darem lugar àqueles que não só contribuem para a trama principal como fazem com que ela fique refém deles. Yakuza não existiria sem o seu casting, que vai além de apenas interações para se tornar engrenagens importantes e que vão ditar o ritmo, o sentimento e até mesmo a maneira como o combate acontece.

Com certeza as cenas sobre o relacionamento entre os personagens vai te conquistar

Isso mesmo, os próprios personagens são responsáveis por termos as quatro maneiras que Kiryu luta! O culpado por isso é Goro Majima, um dos personagens mais icônicos da franquia e que conquistou os fãs ocidentais pelo seu desenvolvimento em Yakuza 0, retornando em Yakuza Kiwami com a novidade “Majima Everywhere”. Ele será o responsável por fazer Kiryu voltar à sua forma após os 10 anos de prisão, com encontros aleatórios durante a jogatina e com aparições das mais hilárias possíveis; como policial, stripper, de dentro de uma lata de lixo ou bueiro, Majima é um recurso novo e exclusivo dessa versão, que vai liberando durante a história o Dragão Dojima, estilo de luta exclusivo de Kiryu, e que antes só era possível acessar após finalizar a versão de PS2. Não pense que sempre será fácil encontrá-lo, pois algumas vezes você precisará interagir com algo ou ir até certo lugar para ativar esse encontro.

Majima se tornou o queridinho da galera depois de Yakuza 0

Nishikiyama é um dos pontos principais no quesito evolução, já que ele acaba sendo o responsável por vários dos desenvolvimentos ao seu redor e inicia a trama sendo um coadjuvante fraco, praticamente como alguém dispensável. Se Kiryu foi um personagem capaz de criar sua fan base desde o início, na minha opinião isso só foi possível por ter seu amigo de infância lado-a-lado nessa história de poder e vingança. O mesmo vale para Kazama e o Detetive Makoto Date, que surgem como expoentes para trazer um pouco mais da realidade sobre polícia e criminosos para dentro da ficção, além de se tornarem figuras importantes e referências para importantes desdobramentos que o jogo apresenta.

Esses são apenas alguns dos nomes que vão chamar sua atenção e merecem que você aproveite cada segundo de aparição, pois a movimentação que a história possui entre uma sequência de violência, contribui significantemente para o desenrolar do enredo sem deixar o ritmo cair. Tudo acontece de maneira natural, parecendo até um retrato da realidade em que acompanhamos a vida de cada um deles. Até mesmo a pequena Haruka consegue protagonizar momentos com peso dramático e de grande importância, se afastando do estereótipo da menininha que precisa ser salva pelo herói do jogo como, por exemplo, em Resident Evil 4 com a Ashley.

Beleza sangrenta

Kiwami, que vem no nome do jogo, significa Extremo e é a esse ponto que chegamos quando precisamos falar sobre o visual do jogo. Um jogo que parece estar vivo e trabalhar de maneira impressionante o visual. Kamurocho, o bairro onde se desenrola praticamente todo o jogo, foi inspirado no bairro conhecido como Kabukicho, em Tokyo. A iluminação, as fachadas gigantescas e coloridas, as ruas agitadas e as atrações foram cuidadosamente trazidas para dentro do jogo e deram vida ao bairro de Kiryu, sem contar que a abertura do jogo é um deleite aos olhos. Uma chuva forte cai e poças se formam para atuarem como demonstração e transmitir o recado da SEGA de que eles não estavam de brincadeira quando prometeram refazer o jogo e trabalhar na Dragon Engine, a mesma utilizada em Yakuza Zero e 6.

Kamurocho ou Kabukicho? Realidade ou ficção?

Acompanhando um ambiente vivo e bonito, não poderiam faltar as atrações para você passar um tempo extra com missões paralelas ou pequenos objetivos a serem conquistados por meio da interação com você, jogador. São bares para passar o tempo com uma boa bebida em seu cardápio diverso e locais para comer; casas de jogos com sinuca, dardos, boliche e o famoso SEGA Club foram otimizados para serem ainda mais interessantes e criarem o desafio ideal para esquecermos do tempo. Uma pena não contarmos mais com os jogos clássicos que existiam na versão de PS2 como, por exemplo, Outrun e Fantasy Zone, mas agora temos Mesuking, um card game que mistura mulheres de biquíni, usando acessórios que remetem à insetos e luta em ringues, além de uma máquina de perikura, aquelas minifotos. Importante ressaltar que ambos são apresentados por uma criança que afirma serem atrações populares entre os pequenos! Vai entender, né?

Por ser um lançamento da década passada e de duas gerações atrás, Yakuza Kiwami não é um jogo de mundo aberto e sofre daquele mal com áreas delimitadas dentro de um mapa maior. A cada extremidade, delimitada por uma barreira invisível, você precisa de um novo loading para que a sequência de acontecimentos e interação possam seguir em frente. Nada que atrapalhe, mas pode ser um ponto de estranheza para os mais novos e que não estão acostumados com esse tipo de mecânica.

A cada combate você verá sangue, muito sangue

Em contraponto à limitação de espaço do mapa e áreas a serem exploradas, o sistema de combate foi refeito e deixou tudo mais fluído. Agora você pode alternar entre Beast, Brawler, Rush e Dragon, o “novo estilo” por ser acessível antes do término do jogo. Essa combinação deu fluidez e permitiu diversas sequências de finalização, além de deixar os combates mais dinâmicos. Nada é perfeito e as lutas ainda são travadas quando temos os chefões pela frente, em que a quantidade de energia ou os agarrões acabam sendo discrepantes em comparação à quantidade de dano que Kiryu consegue inflingir; sem contar as vezes que os agarrões quebram os combos e os chefes não seguem com a animação, apenas como um pequeno bug que atrapalha a sequência de golpes.

Olha o agarrão desnecessário aí, gente!

Os combates também ocupam outra parte ruim do jogo por serem muito repetitivos. Já eram em 2005 e agora com essa versão, os gráficos em HD são tão atrativos que Yakuza Kiwami parecia mais uma visual novel em CGI e que infelizmente éramos interrompidos para lutar contra alguém. Muitas vezes eu queria ficar apenas assistindo e acompanhando a história e não lutando! No entanto as lutas ficaram ainda mais legais de se jogar por conta da árvore de habilidades que, além do Dojima Dragon, temos diversas conquistas para aumentar o poder de ataque e os golpes utilizados pelo protagonista. Executá-los com perfeição é gratificante e ter a oportunidade de ver as brutais sequências de finalização se tornam prêmios adoráveis de serem conquistados.

Um pedacinho do Japão no seu PS4

Considero um pecado comparar Yakuza Kiwami com um GTA da vida, pois esse é quase um jogo perfeito e consegue rivalizar com os títulos inéditos da franquia. Sobreviver à mais de uma década sem perder seu fôlego e ser reapresentado como algo inédito não é para todo mundo. Você será capaz de curtir um pedacinho do Japão, curtir a atmosfera nipônica e ainda conhecer como seria a vida de um mafioso japonês, tudo através de um jogo com uma trilha sonora bem executada e o visual impressionante que SEGA conseguiu entregar.

Contemplem o nascimento do Dragão de Dojima

Essa história é fruto do excelente trabalho de Hase Seishu, escritor japonês especializado em romances com temática criminal e com a máfia, e que nos dá a oportunidade de acompanharmos em uma mídia só o que vemos em animês, mangás, live actions e filmes com essa temática. E nós, gamers, temos o prazer e a honra de presenciar algo executado tão bem, ou melhor, retrabalhado ainda melhor do que o original e expandindo a série para esse lado do mundo, aproveitando um novo público disposto a acompanhar a vida e ascensão de Kazuma Kiryu, o Dragão de Dojima, em busca do posto mais alto da Yakuza. Agora é só esperar os bons resultados da franquia para termos os outros jogos serem lançados no futuro.

E, se depois dessa análise ter ficado tão extensa, mesmo não tendo abordado tudo que eu queria (quem sabe quando chegar o sexto jogo), você ainda estiver em dúvidas sobre como o remake proporciona uma experiência muito acima da original, esse vídeo vai conseguir demonstrar as mudanças entre o jogo original e Yakuza Kiwami.

Review – Liberté

Rafael NeryRafael Nery09/12/2024