Fora os jogos de horror, mechas sempre foram uma grande paixão minha. Desde que joguei um arcade de Gundam quando jovem, sempre achei incrível ver essas máquinas saindo na “madeira”. Hoje coleciono Gunplas e outros model kits, mas nenhum destes meus conhecimentos prévios adquiridos por model kits, animes e games de mechas poderiam ter me preparado para Wolfstride.
Quando vi o trailer, pensei comigo mesmo: “que maluquice é esta?” Mas o trailer e o que recebi foram duas coisas totalmente opostas, pois Wolfstride consegue ser excelente a cada pedaço da sua história comicamente monocromática! Se você estava procurando um jogo de mechas que foge dos conceitos, venha descobrir Wolfstride neste review.
Um malandro, um caipira e um cachorro
Wolfstride é a criança brasileira que veio na trilha quente deixada por seus antecessores no gênero, Override: Mech City Brawl e sua continuação. Produzido pela Ota Imon, Wolfstride é uma “criatura” bem diferente do que estou acostumado a ver, e para mim essa é sua maior força. Trazendo um mundo que mistura inúmeras referências e lutas desafiadoras, ele conseguiu deixar sua marca em mim enquanto eu jogava a fio a aventura de Shade, Knife e Duque.
Nosso trio de “heróis”, palavra que uso na qualidade mais abrangente da palavra, se une após a morte de um quarto membro do grupo. O misterioso G.W acaba falacendo e deixa para nossos heróis um P-Wan Gallow 07, um bizarro mecha de combate que ninguém jamais tinha visto, apelidado de Cowboy. Indecisos sobre o que fazer em relação a máquina os Jack e Shade resolvem se lançar no mundo das batalha. Já Duque acredita que vender a máquina seria a melhor aposta.
A primeira luta não vai como o esperado, afinal Shade acaba tentando levar a melhor. E mesmo lutando com toda força e determinação, Jack acaba sendo derrotado pelo ataque do piloto rival chamado Godworm. Uma explosão ocorre e o susto é tão grande que Godworm, acaba morrendo de susto. Uma mistura de angustia e alegria toma conta do grupo, Jack acaba no hospital, mas como Godworm morreu antes da vitória ser declarada, os mesmo vencem a luta.
Agora com o prêmio da luta em mãos e um monte de sucata detonada que costumava ser o mecha, eles tomam uma decisão. Mesmo com Duque contrario a gastar ao dinheiro do prêmio nos reparos do Cowboy, Jack mesmo ferido queria lutar novamente e Shade já havia marcado uma nova luta. Com Bounty Hog, dono do lixão ao lado do Hangar e base dos protagonistas.
Heavy Metal Bomb
Com a luta marcada para apenas dois dias corridos, Shade e Duque precisam se virar nos trinta para colocar o Cowboy na arena. Para isso eles vão atrás da “Bruxa” Z.Z Zowie, uma senhora que mistura a habilidade de Pinako Rockbell, com a boca suja de Nui de Dorohedoro e um rosto que me lembra Yujiro de Baki. Com a sua ajuda e de outros personagens que surgem nos dias seguintes a equipe começa a decolar.
Após derrotar o sobrinho de Bounty Hog e conhecer mais dos personagens que irão nos auxiliar, somos apresentados ao real objetivo. Ele conta a Jack Knife que por Godworm ter morrido durante a batalha, Jack assumiu seu posto nas ligas ranqueadas e agora pode competir na Ultimate Golden Cup. A maior competição de mechas do mundo, trazendo trezentos competidores que devem escalar os ranks até terem a chance de desafiar a rainha do esporte.
Porém uma segunda história se desenrola sob os panos, algo relacionado ao passado de Shade e seus companheiros. Além de uma dupla de vigaristas, responsáveis por eventos “acidentais” durante o decorrer do jogo. Tudo isso enquanto tentam interceptar todo e qualquer contato que nossos heróis tenham com um misterioso soviético.
A grande realidade é que Wolfstride é o meu tipo favorito de obra. Uma grande omelete de referência a grandes outras obras, mas que pega todos os pontos fortes delas e coloca todo seu tempero de originalidade. Uma fatia de Cowboy Bebop com Afro samurai, uma pitada seca de Trigun, aquela gota de Toppa Guren Laggan e estúdio TRIGGER. E até mesmo para descer, uma dose de Bartender com G Gundam. Fora outras inúmeras referências por menores.
Uma vida, uma bala no tambor
A força e qualidade de Wolfstride residem ai, nas suas raízes ricas em obras one-shot, histórias com início, meio e fim, mas que deixam de lado a narrativa da Jornada do Herói. Além de apostar alto no quesito originalidade, criatividade e imaginação. Não há regras, coisas existem e nós aceitamos, por que estamos interessados na narrativa destes personagens e seu mundo insano.
A qualidade gráfica dos personagens enquanto nas janelas de conversação parece uma fusão de estilos de Rui Kuroki com Dead Leaves e Takeshi Koike em Red Line e Trava: FIrst Planet. Em suas espressões exageradas muitas vezes. Além do Design excelente, dando características únicas a cada personagem, sendo Joy e Knife meus favoritos até então. Wolfstride traz aquela velha e boa sensação de achar um anime bizarro e cativante na tv aberta quando mais novo, ou um jogo excelente com capa de anime na loja que ninguém conhece.
Claro que um jogo que presta tanta atenção em detalhes mesmo em um jogo em pixel art, teria uma trilha sonora excelente. Também variando em estilos em relação a amalgama de universos presentes. Temos jazz, techno, aqueles riffs agitados de rock para a pancadaria e claro e boa e velha música de cidade feliz. Mas nada supera Gooseman, o músico errante que sempre está em algum lugar do mapa. Não importa a crise ou, caos, Gooseman lives on.
Shake it, Shake your body babe
Wolfstride é um game de mecha bem diferente do que estou acostumado. Já joguei jogos de luta de mecha, jogos de estratégia e combate a lá Battlefield de mechas. E claro stealth de mechas com meu amado e perfeito Metal Gear Solid e o abandonado Left Alive que gostei tanto. Mas Wolfstride traz uma mistura de visual novel com rpg, ou seja combate por turnos e um foco maior na narrativa do universo do jogo e seus habitantes.
Wolfstride não tenta te explicar tudo, muitas vezes uma resposta pode entregar outras perguntas. Resta ao jogador estar sempre procurando diálogos ou conversas para espionar para aprender mais sobre este universo. Além de é claro, achar itens para vender, equipar no Cowboy ou só rir mesmo.
E claro, manter um robô gigantesco como Cowboy funcionando, não é trabalho que qualquer um de conta não. Para isso em Wolfstride, é necessário arregaçar as mangas e cair de cabeça nos trabalhos! Seja entregando pacotes misteriosos para caras encapuzados ou, escavando o ferro velho de Bounty Hog. Afinal de contas após cada luta são necessários reparos no mecha, é preciso comprar comida e tranqueira no mercadinho, peças com Z.Z e golpes poderosos com PIIPOO.
Estes dois em particular são os locais mais importantes para se gastar nossos Reais Doláres, a moeda usada em Rain City. Melhorando a armadura e peças do Cowboy, ficamos mais fortes e resistentes. Já comprando golpes novos com PIIPOO, ficamos mais versáteis, mesmo que aja um limite para habilidades que podemos equipar em Wolfstride. Por isso escolha sabiamente e estude sempre seus inimigos.
Coração em forma de reator nuclear
Durante o combate, Possuímos uma grade de movimento, semelhante a um campo de cartas de TCGs. Neste campo movemos nosso mecha, aproximando ou afastando do oponente, Cada movimento usa pontos de MP, enquanto cada ação, seja ataque, defesa ou recarga de munição gasta um numero determinado de pontos de ação AP. Algumas áreas do campo de movimento possuem buffs e nerfs de pontos de ataquem então cuidado!
O estilo e animação das batalhas também são bem marcantes e imponentes. Como sempre fazendo alusão a temática antiga de animes, com cada ação de ataque e defesa possuindo uma espécie de logo personalizado. Cada um com um card bem chamativo de seleção e uma animação tão marcante quanto. Wolfstride não tem medo de mostrar sua gana em ser estiloso e gritante sempre que pode.
Além disso tudo há também as cargas de Nano Fluido que servem como um trunfo durante as batalhas. Podendo acumular até três cargas, cada carga pode realizar diferentes habilidades, dependendo do que estiver equipado. Como por exemplo restaurar membros perdidos do robô, recuperar vida, aumentar ataque e defesa. Só não perca o tronco do robô, pois afinal como em Gundam, é lá onde fica o cockpit, uma vez destruída, fim de luta.
See you again, soviet spaceman
Wolfstride é dez sem tirar nem por, mesmo que não batessem os gostos, teria que admitir que o jogo entrega o que promete. Não é arrastado, tem uma atmosfera cativante que segura o jogador e uma história envolta em mistério que sempre nos faz querer mais. Com uma contagem passando sempre que avançamos a história e todos os segredos de G.W que nos deixou o mecha. Tudo isto e muito mais espera você nas arenas de Rain City e nos restos de metal de Wolfstride.