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Se um dia Zelda tivesse um filho com qualquer outro jogo que tenha mecânicas de sobrevivência (afinal, jogou um jogou todos), ele certamente seria Windbound. Sendo o segundo projeto do estúdio australiano 5 Lives (que por sinal é literalmente composto por exatamente cinco pessoas), os desenvolvedores não esconderam suas fortes inspirações com a franquia da Nintendo e ainda assim conseguiram criar um jogo cheio de personalidade.

Windbound é um game tranquilo, quase contemplativo, que não abre mão da luta pela sobrevivência e força o jogador a despertar seu eu mais curioso. Você não sabe nada sobre aquele mundo, mas sempre vai encontrar forças para buscar mais respostas.

História de pescador

Pouco sabemos sobre o enredo do jogo ou até mesmo sobre sua protagonista. Controlamos Kara, uma moça que, ao que tudo indica, foi atacada por um monstro marinho durante uma tempestade, fazendo com que seu barco afundasse. Acordamos em uma espécie de limbo, onde devemos atravessar um portal para acordar em alguma ilha deserta. A partir daqui, estamos por nossa conta para descobrir as coisas e progredir na história.

Quando eu digo que esse jogo é muito inspirado em Zelda, me refiro a dois títulos em específico: Breath of the Wild e Wind Waker. Ele transmite exatamente aquela mesma sensação que temos ao tomar o controle do Link pela primeira vez em BOTW, de estarmos soltos em um mundo imenso e desconhecido, com uma longa jornada pela frente. BOTW ainda se dá ao luxo de dizer “Link, você acordou de um sono de 100 anos, vá salvar a princesa!”, o que já é muito, pois Windbound não explica absolutamente nada quando assumimos o controle de Kara.

Onde o ciclo sempre se inicia.

Até os gráficos remetem um pouco a BOTW, com cores muito vivas. A diferença é que Windbound é ambientado em ilhas desertas e estaremos cercados pelo oceano o tempo inteiro, então este jogo tem mais azul do que tudo. Aqui entra a semelhança com Wind Waker, pois nosso primeiro objetivo no jogo é construir um barco para navegar por aquelas águas perdidas e é isso que você vai fazer na maior parte do tempo.

Apesar de não parecer, o jogo possui sim um enredo que é até mesmo dividido em capítulos, cada um ambientado em um punhado de ilhas diferentes. Enquanto no primeiro exploramos ilhas isoladas bem “padrão”, ainda teremos pântanos, matas fechadas e vários outros lugares para adentrar e desvendar os mistérios que circundam o jogo.

Não morra! 

Existem dois modos de jogo: um focado em sobrevivência e outro em história. O Survival seria o jeito certo de jogar, pois o próprio game deixa claro que é a experiência máxima que o título propõe. Nele você tem todos os desafios impostos pelas mecânicas de sobrevivência e, sempre que morrer, perde todo o seu progresso e volta do primeiro capítulo (só não perde os itens básicos do inventário). Já o modo Story pega bem mais leve e nele você pode morrer sem medo de ser feliz.

As ilhas são geradas proceduralmente, então sempre que você recomeça, nunca será da mesma forma. Apesar desse fator, não se trata de um roguelike, pois não temos morte definitiva nem combate em turnos. A única coisa que realmente muda é o layout das ilhas e a posição em que aparecem no oceano, pois os itens, criaturas e elementos que encontramos continuam lá (só que reorganizados).

Em Windbound, o oceano é seu melhor amigo.

Kara possui uma barra de HP e outra de Stamina, que diminui sempre que fazemos qualquer ação (correr, nadar, atacar etc.) e diminui mais severamente quando ela está com fome. Isso nos obriga a procurar frutas ou caçar animais o tempo todo para garantir que tenhamos Stamina, caso contrário fica impossível de fazer qualquer coisa. Você só encontra essas coisas explorando as ilhas que circundam o oceano, então o jogo te obriga a visitar cada uma que encontrar.

Para obter carne e outros materiais importantes você precisa entrar em combate e, em Windbound, esse é um fator bem falho. Você tem a possibilidade de usar uma boa variedade de armas (desde que você as construa primeiro), mas além das batalhas serem um tanto monótonas, leva tempo para se acostumar. O jogo tem um sistema de “travar a câmera” na direção do oponente, mas não é como travar a mira em qualquer jogo de ação, aqui a câmera foca no nada e você precisa se virar para acertar os bichos. É um pouco difícil e no geral não tem muita estratégia, você só ataca e sai correndo para desviar, tornando as lutas um tanto sem graça.

A movimentação da personagem também é muito travada. Os movimentos não transmitem realidade e parece que todo comando nesse jogo é absurdamente pesado. A câmera é “pesada” de movimentar, os pulos são pesados, até para andar parece que estamos carregando pesos nas canelas. Não deixa de ser funcional, mas quebra um pouco a imersão.

Mandando um SOS.

Felizmente, eles capricharam nos elementos naturais do jogo e o que mais impressiona aqui é a água. Estamos 80% do tempo no mar e as ondas tem uma física bem realista, empurrando o barco e se chocando contra ele. Outros detalhes como a reação da fumaça ao vento e até o próprio efeito do vento sobre o barco também impressionam.

Como os problemas estão mais centrados em torno da movimentação da personagem e do combate, a experiência no geral é muito satisfatória. Para ficar melhor que isso, poderiam ter adicionado uma trilha musical mais presente. O jogo dá muita ênfase no som ambiente e praticamente a única música que ouvimos é a do barco, que é sempre a mesma, então não demora para enjoar.

Se você adora Zelda (principalmente os títulos citados) e não dispensa um jogo de sobrevivência, Windbound é mais que obrigatório. Ele diverte por horas a fio e proporciona uma experiência memorável.

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