Fã de estratégia em turnos? Este provavelmente é o jogo certo. Terminei minha review de Wargroove com o sentimento de que ganhamos um bom representante para um gênero que andava meio em baixa e que outrora era bem representado por Advance Wars ou Fire Emblem.
Sob a promessa de entregar aos jogadores um pouco do que fora visto anteriormente, mas com melhoras, a dev Chucklefish coloca no mercado um dos jogos mais inteligentes dos últimos tempos. Há falhas? Há, mas nada que faça perder a cabeça ou querer destruir o console.
Personagens e histórias extrovertidas
O início da campanha acontece sob um tutorial, que se estende por quase todo o jogo. Há uma guerra rolando entre dois mundos distantes. Um, dos mortos-vivos, é representado por Sigrid, enquanto o outro, dos humanos, é representado posteriormente pela rainha Mercia, dos Cherrystone, que luta pelo trono após ter seu pai assassinado por Sigrid, logo em um dos primeiros atos do game.
A trama está entregue e a grande missão é vingar a morte do rei e retomar o reino de Cherrystone, dominado agora pelos mortos. Logo de cara você chega a um universo grande, lotado de personagens carismáticos e boas histórias que vão de traições, vinganças e, obviamente, batalhas por território. Há ainda as side-quests, que aqui trazem um ar de novidade para um gênero muitas vezes dominado pela mesmice.
De missão em missão, há mudanças nos objetivos, como ‘chegue ao local determinado’, ‘defenda-se o quanto puder até determinada ação acontecer’, ‘mate o comandante com apenas X turnos’ e por aí vai. Outra questão que merece atenção é a grande variedade de raças, cada qual com suas fraquezas e pontos fortes, além dos terrenos que encontramos. Há desertos, florestas, áreas geladas, castelos, montanhas, lagos, locais cujas características próprias afetam o combate e pedem por mudanças nas estratégias.
Só não há tanta variedade no funcionamento dos exércitos. Por exemplo: exceto pelos comandantes, não há diferenças entre as raças quando o assunto é o exército. Todos os soldados são iguais em comportamento e status, mudando apenas a forma como são apresentados. O cavaleiro será sempre o cavaleiro, o espadachim será sempre o espadachim. O que os diferencia são suas skins e nomes.
Porém, como escrito acima, há os comandantes. Como sugerido no título, cada um possui seu Groove, ativado após sofrer danos ou realizar ações em turnos. Saber utilizar os Grooves pode ser a diferença entre uma batalha perdida e a vencida. Outra coisa muito bem feita são os diálogos entre os personagens. Todos são criativos, bem escritos e pensados. Além de bacanas, vez ou outra contêm referências para a cultura brasileira em sua localização. Parabéns aos envolvidos!
Quase tudo na medida
Em determinada missão contra Ragna, dos Felheim, abusei dos ataques e encurralei a personagem a fim de matá-la. Qual foi minha surpresa? A I.A apuradíssima. Sabendo de sua eminente derrota, a chefe utilizou seu Groove, no caso o poder de pular grandes espaços, para fugir de mim e ficar em um ilha isolada, sem acesso, apenas comandando seus exércitos, o que me fez mudar a estratégia para derrubar sua base para vencer. Por isso, pense cada passo com sabedoria. Um movimento em falso ou mal pensado pode custar caro, já que toda ação feita não tem volta.
Um ponto a se discutir é a dificuldade, que considero alta. Entretanto, não é um ponto negativo para mim, e sim positivo. De uns tempos para cá, vivemos cercados de jogos fáceis que entregam a vitória de bandeja. Em Wargroove é diferente. Como citei antes, pensar cada movimento, do primeiro ao último, faz com que sua vitória esteja mais próxima. Os adversários não estão para brincadeira e sempre venderão a partida bem cara. Ainda assim, entendo que os novos players sintam dificuldade, portanto é bom que exista opção de mudá-la e optar por algo mais fácil.
Quanto aos gráficos? Maravilha. Somos entregues ao melhor que o estilo 8-bit pode oferecer. Tudo é extremamente bem desenhado. Da água às nuvens, passando pela fumaça dos vulcões aos pássaros que voam pelos campos… Para quem gosta de pixel art e visuais retrô, é um prato cheio.
Modos bons e Criador de Mapas
Mesmo sentindo falta de mais identidade aos exércitos, todos funcionam bem e o melhor jeito de observá-los em ação está no Arcade Mode. Recomendo jogá-lo após o término da campanha já que todos os personagens estarão desbloqueados. Escolha sua raça e enfrente outra. Simples, rápido e completamente eficiente.
Há ainda um Puzzle Mode que, como o próprio nome diz, traz quebra-cabeças voltados às batalhas. Há ainda um criador de conteúdo personalizável, onde é possível colocar campanhas, mapas e batalhas online para todos os players ao redor do Mundo. Não sou o melhor dos caras para isso, mas pelo pouco que vi e vindo de escolas como Roller Coaster Tycon e Stronghold Crusader, afirmo que é intuitivo e bem legal.
Sendo tudo isso pouco, você ainda pode batalhar em modo online ou local com até quatro pessoas. Outro ponto positivo: há cross-play entre PC, Xbox One e Nintendo Switch; Playstation 4 de fora. Palmas para jogatina em grupo.
Trilha e animações de batalha sem brilho
Por mais que o pacote seja sólido, outros problemas precisam ser pontuados. A trilha sonora, por exemplo, é repetitiva e portanto um pouco chata. A cada turno jogado, a música reinicia, o que acaba sendo um inferno já que ela é sempre a mesma. Gruda como chiclete, com o efeito de não ser boa. Senti o mesmo nas animações de batalha. Há um momento que também cansam pela repetitividade. Pelo menos a Chucklefish disponibilizou a opção de retirá-las. Eu tirei, e o jogo ficou mais legal sim.
Porém, com uma campanha gostosa de se jogar, personagens marcantes, diálogos criativos, side-quests, e vários modos de jogo, Wargroove supera seus problemas e cumpre com o que promete. Infelizmente, creio que um jogador novato no gênero de estratégia em turnos possa não dar tantas chances para o jogo da Chucklefish. No entanto, recomendo que esses jogadores se rendam ao título e descubram o quão legal este tipo de jogo pode ser.