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Two Parsecs From Earth surge em meio ao, possivelmente, pior momento da humanidade durante o século 21. Período em que 2020 segue trazendo variados títulos importantes na indústria dos videogames. Ainda que decepções tenham surgido, o ano consegue, até agora, entregar também títulos que correspondem às expectativas do público. Por este motivo, deixar de lado a avalanche de triple A para arriscar-se no universo indie. Afinal, há muitos títulos que nos fazem mudar totalmente a forma de pensar sobre os menores jogos, como o fantástico Horace. Infelizmente, Two Parsecs From Earth não é um destes games.

Desenvolvido pela ABX Games Studio e distribuído pela Ratalaika Games, o jogo a princípio parece ser capaz de oferecer algo descontraído e divertido. Porém tal possibilidade de descontração rapidamente se torna uma tortura, que chega do nada para mostrar a dura realidade: você não encontrará o que os minutos iniciais pareciam lhe prometer.

As falsas promessas

Two Parsecs From Earth inicialmente se apresenta de forma simpática, mostrando um visual carismático e quebrando a quarta parede, fazendo com que seu personagem principal interaja diretamente com o jogador. Elemento que, apesar de ser capaz de causar algumas risadas, vem a se tornar uma decepção.

Quando o robô Z3-L1 se encontra a “apenas” dois parsecs (uma unidade usada para medir a distância no espaço) da Terra, o que seria cerca de sessenta milhões de quilômetros, sua nave apresenta problemas técnicos e despenca rumo a um planeta desconhecido. Um grande problema para o robô, um maior ainda para o jogador. Digo isso porque tal acidente espacial é o que serve de impulso para uma experiência esquecível e problemática.

Imagem do review de Two Parsecs From Earth
Apesar de engraçada inicialmente, a interação do robô passa a ser uma tortura.

Z3-L1 passa uma boa impressão no início, interagindo com você, lhe fazendo entender que o objetivo é recuperar cargas e baterias perdidas na queda e até mesmo fazendo zombarias engraçadas sobre si mesmo e o gameplay. Na primeira vez em que vi o robô tirar sarro de algum erro cometido, aceitei a interação como algo descontraído e que seria bem-vindo durante a jornada. O grande problema é que, com o passar do tempo, Z3-L1 se torna o vizinho que você não quer ver na segunda de manhã. O robô vira um desagradável acompanhante, que força piadas e brincadeiras muito inadequadas em momentos nos quais você percebe que a péssima jogabilidade lhe obrigou a errar. Sendo assim, as zombarias soam como uma provocação descabida dos desenvolvedores.

O gameplay, o tédio e a sensação de impotência

Two Parsecs From Earth entrega, de longe, a jornada mais sem graça que experimentei em 2020. Seus controles altamente problemáticos interferem diretamente na experiência, se aproximando do insuportável. De fato é um jogo desafiador: morrer se torna comum em questão de minutos, fazendo o jogador retornar ao início da fase. O problema é que ao invés da dificuldade tornar-se um de seus trunfos, ela é um fator impedidor.

Não foram poucos os momentos em que eu tive a sensação de que os controles eram propositalmente problemáticos, justamente para fazer com que o desafio encontrado ali fosse elevado. Um mínimo avanço, um leve atraso ou qualquer erro que se possa cometer, provavelmente resultará em mais uma morte frustrante. Na medida em que o jogador percebe que não há dificuldade em si, mas sim sérios problemas com relação à jogabilidade.

Imagem do review de Two Parsecs From Earth
É só avançar… Se os controles deixarem!

A sensação de impotência, por sua vez, surge com o backtracking – ir e retornar por caminhos que você já passou. Normal do gênero, mas que aqui prega uma peça psicológica no jogador quando uma bateria está extremamente perto de você, mas impossível de pega-la devido ao gameplay cheio de falhas. Nestes momentos você percebe que não tem a habilidade necessária para alcança-la, mas na prática parece o oposto. O level design é tão fraco que desanima o jogador.

Two Parsecs From Earth parece nem sequer saber utilizar as habilidades que oferece, o que fica escancarado com as inúmeras mortes que acontecem enquanto você utiliza tais habilidades. Além de sofrer com a imprecisão de seus movimentos, os caminhos são longos e mal planejados, fazendo-o perder tempo. Tempo este que é valioso e poderia estar sendo gasto em outro jogo.

Imagem do review de Two Parsecs From Earth
Um longo e tedioso caminho lhe aguarda.

Two Parsecs From Earth tenta ser muitas coisas, mas em todas ele é incapaz de ter êxito. Sua quebra de quarta parede se torna um amontado de brincadeiras de mal gosto e comentários desagradáveis, conforme o personagem principal se torna um fardo. Sua dificuldade é nada mais do que a mistura deprimente do fraco level design e dos problemáticos controles.

É duro ter que dizer isso, mas as qualidades do jogo são poucas e seus defeitos são muitos. O título falha miseravelmente tanto em ser um metroidvania quanto em ser um jogo de plataforma de qualidade. Quase que de forma proposital, Two Parsecs From Earth agarra com unhas e dentes uma vaga na lista dos piores indies deste ano.

Review – Liberté

Rafael NeryRafael Nery09/12/2024