Já faz tempo que o Steam deixou de ser uma loja curada – parece mais uma feira do que uma loja, para ser sincero. Há poucos critérios policiando o que é vendido, e isso naturalmente abre espaço para jogos baratos e de baixo orçamento que frequentemente valem o que custam. Mas um sub-tipo desses jogos baratos, o “jogos de puzzle que parecem saídos de um iPhone”, parece sobreviver com alguma dignidade. Eles quase sempre possuem regras simples, dispensando assim tutoriais longos ou visuais detalhados, e essa simplicidade faz com que seja barato desenvolvê-los, o que permite que eles sejam vendidos a preços baixíssimos. Basta uma ideia remotamente interessante e uma série de desafios para justificá-la.
Mas enquanto esse conceito pode agradar fãs incondicionais de desafios lógicos, para outros eles acabam passando por brandos, e não no bom sentido. Há uma razão pela qual quebra-cabeças de mesa (e outros gigantes da cultura humana, como o xadrez e o cubo mágico) não são mais tão populares hoje em dia; como poderiam? Video games são capazes de oferecer experiências mágicas em comparação, com regras, paisagens e ideias que nunca poderiam existir no nosso mundo – e mesmo assim olha aqui elas, bem na sua frente!
“Puzzles de iPhone”, por assim dizer, utilizam muito pouco dessa mágica, se limitando a desenvolver a ideia principal com um mínimo floreio ao redor. Assim a experiência de jogar um deles é próxima da dos quebra-cabeças de mesa, com os desafios mentais e só, sem história ou exploração ou efeitos visuais, nada que distraia a concentração. O problema é: como convencer alguém não particularmente investido em quebra-cabeças a dedicar tempo e energia em um jogo enquanto elas poderiam estar jogando Portal, por exemplo?
De lá pra cá, de lá pra lá
Twickles é do início ao fim uma carta de amor à essa instituição, com cada quina projetada sob medida para fazer dele o mais inofensivo e medíocre possível. Refletindo o ethos dos desenvolvedores, o menu apresenta três escolhas simples: Começar o jogo, Opções e Sair. Opções apresenta as configurações básicas que você esperaria de qualquer jogo para PC. Uma exceção interessante porém é a tradução para o português brasileiro disponível, não que o jogo tenha mais de umas quinze palavras diferentes (foram cinco só no menu).
Começar o jogo te permite selecionar um entre os níveis já desbloqueados e, claro, você os desbloqueia solucionando o nível anterior. Em cada fase há um botão para reiniciar o puzzle e um para voltar para o menu, sem trabalho e sem dor. Nesse sistema não há fricção, é o jogador e o quebra-cabeça com muito pouco entre um e outro. Quando pensamos em imersão nos videogames geralmente pensamos em ambientes 3D e histórias elaboradas, portanto é curioso que jogos assim a encontre indo pelo caminho oposto, buscando o menos ao invés do mais.
Mas por mais que a filosofia da simplicidade permeie a experiência como um todo é o seu impacto no gameplay que mais importa, garantindo que não exista mais do que algumas poucas regras para se lembrar. Cada quebra-cabeça é uma malha de quadrados que podem ser girados em 90° para ambos os lados, individualmente ou em conjunto (a malha inteira). Cada quadrado pode conter um pedaço de uma galeria que serve de caminho para uma bola, e o objetivo é levar essa bola de um quadrado específico a outro, que marcam o início e o fim de cada percurso, na menor quantidade de giros da malha possível. É essa a fundação do jogo – claro que, como em todo jogo do gênero, são adicionadas complicações ao passar das fases. São regras simples que o jogador aprende em menos de cinco minutos brincando com o jogo, mas que são o mínimo suficiente para dar espaço a uma série sempre crescente de problemas. O famoso “basta uma ideia remotamente interessante e uma série de desafios para justificá-la”.
Ainda mais, quem possui experiência com desafios do tipo vai fechar o jogo sem dificuldades, tirando um pouco de divertimento apenas da novidade quando uma complicação nova é apresentada. Para todos os outros há um pouco de dificuldade, nada que te mantenha acordado, mas o suficiente para exigir concentração. Assim, Twickles apela ao possivelmente pequeno nicho do “realmente gosto de puzzles mas não sou muito bom”, sem oferecer muito para se destacar na multidão.
Assim Twickles não é um jogo excepcional de forma alguma; quem costuma jogar em smartphones sabe bem do que eu estou falando. Sim, o alto grau de polimento faz o que poderia passar por preguiçoso sugerir elegância até, e a dedicação de jogos do tipo à simplicidade nos ensina uma lição ou outra sobre imersão. Mas a palavra que ainda melhor resume Twickles é “medíocre”, então antes de considerar comprá-lo é importante considerar o quão eticamente confortável você está em financiar mediocridade. E o quanto você gosta de puzzles, pois isso também é importante.
Prós:
🔺 Um jogo elegante
🔺 Simples e direto
Contras:
🔻 Medíocre
Ficha Técnica:
Lançamento: 28/09/17
Desenvolvedora: Neox Studios
Distribuidora: Assemble Entertainment
Plataformas: PC