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Se tem um estúdio que está trabalhando a todo vapor, mesmo com todas as dificuldades de 2020, é a Square Enix. O lançamento do todo poderoso remake de Final Fantasy VII mal esfriou e já temos um novo remake de um de seus clássicos para jogar: Trials of Mana, o terceiro título da franquia Mana que foi lançado exclusivamente para o Super Famicom em 1995, mas só veio para o ocidente em 2019 na coletânea Collection of Mana.

É realmente uma pena que nós, meros ocidentais, só tivemos a oportunidade de jogar esse título (através de meios legais, obviamente) no ano passado, pois é um jogão! Facilmente um dos jogos mais bonitos do SNES e com um gameplay absurdamente divertido. O remake é fiel até demais à obra original, o que é ótimo, mas isso também originou todas as suas falhas.

Múltiplos caminhos

A história é aquele clichê que vemos em todo JRPG, seja clássico ou moderno. O mundo de Mana sofre uma época de calamidade, onde várias figuras planejam tomar o controle do mundo através dos poderes dos Benevodons, criaturas sombrias que foram seladas pela Deusa Mana há milhares de anos atrás. O papel dos personagens nessa trama não fica claro, pois cada um possui sua própria história e motivações, então em suma, a principal ideia é que os protagonistas precisam encontrar a Mana Sword para salvar o mundo.

Trials of Mana disponibiliza seis personagens diferentes para escolhermos: um será o principal (a história vai girar em torno dele) e os outros dois serão o suporte em sua party. Cada um possui uma classe e uma origem diferente, então você tem seis campanhas únicas para jogar, todas durando em torno de 20 horas. Os que você não escolheu farão cameos na sua campanha, então de certa forma, o caminho de todos eles estão interligados. Aliás, os personagens que você escolhe para te acompanhar possuem suas próprias campanhas, e essas só podem ser vistas caso eles sejam o protagonista, então resumindo: o jogo tem muito conteúdo!

Ainda assim, isso já era algo que existia no clássico, então não é uma novidade. Quem procura muito conteúdo inédito nesse remake pode sair decepcionado, pois novamente reforço que este título é muito fiel ao clássico e não traz tanto conteúdo novo. Certas coisas ficaram até datadas e soaram como uma oportunidade desperdiçada de enriquecer ainda mais a história e o universo de Mana.

Cada personagem possui sua própria campanha e estilo de combate.

Um exemplo: todos os diálogos com NPCs são extremamente simplórios, bem semelhantes com os JRPGs das antigas. Isso tira qualquer curiosidade que o jogador possa ter de aprender mais sobre aquele mundo, pois sabe que tudo que vai ouvir das pessoas são frases sem sentido como “Uau, que dia bonito!” ou “Eu amo minha família”. O jogo também não traz nenhum tipo de sidequest, então no final os NPCs só estão lá para “enfeitar” o cenário.

Mesmo completando todas as seis campanhas, dificilmente você vai se engajar com aqueles personagens e suas motivações. Tudo parece superficial e bobo demais, fazendo com que o jogador perca o interesse pela história facilmente e talvez até interferindo em seu fator replay, pois muitos podem se sentir desmotivados em jogar as outras campanhas. Pelo menos, o universo do jogo é bem bonito e divertido de explorar, com vários vilarejos, raças e ecossistemas diferentes.

Sucesso atemporal 

A parte boa é que, por outro lado, a fidelidade com o original também deu muito certo. Primeiramente, vamos enfatizar o quanto os gráficos do jogo estão incríveis. Tudo bem que o clássico continua lindo até hoje, mas a Square Enix conseguiu fazer uma transição muito suave do 16-bit para o cartoon tridimensional. O visual de Trials of Mana não fica atrás de nenhum outro jogo semelhante, nem mesmo das maiores referências do estilo como Ni no Kuni 2 e Dragon Quest XI.

O visual está incrível!

A trilha sonora também está estupenda. Todas as faixas são as mesmas do clássico, porém orquestradas. O mais legal é que você ainda tem a opção de alterar as músicas remasterizadas para as clássicas em 16-bit a hora que quiser, um ótimo recurso para os fãs mais nostálgicos.

A melhor parte de Trials of Mana continua sendo o combate, sem sombra de dúvidas. Por mais simples que seja, ainda é muito fluido e satisfatório, ainda que a câmera insista em atrapalhar. Não que seja horrível, longe disso, mas por ser um RPG de ação, precisamos de dinamismo ao trocar de um alvo para outro e a câmera não acompanha o personagem, então precisamos ficar ajustando manualmente o tempo inteiro. Felizmente, isso não tira o brilho do sistema de combate do jogo.

Podemos compará-lo ao remake de Final Fantasy VII, para que todos consigam entender de uma forma mais ampla. Ele possui mecânicas de hack ‘n’ slash, mas sem perder o lado estratégico dos RPGs, pois você pode abrir um menu no meio do combate para dar um respiro, bolar uma estratégia e dar ordens para seus companheiros. Você também pode controlar quem quiser nas lutas, pois a IA sempre faz um bom trabalho com os outros dois.

Você pode plantar sementes para ganhar itens.

O sistema de classes também permanece e dessa vez melhorado, o que é um dos poucos diferenciais desse remake. No original, cada personagem possuía três upgrades de classe e duas vertentes em cada um, então você podia se especializar em um único tipo ou tornar seu personagem híbrido, deixando os combates bem customizáveis. A novidade é que agora possuímos um quarto upgrade que só pode ser acessado no pós-game e vai ocupar bastante os jogadores que quiserem continuar jogando após concluir a campanha, afinal, são seis personagens!

Apesar dos pesares, o remake de Trials of Mana não faz feio e oferece incontáveis horas de diversão. Mesmo com uma história pouco instigante e com um sistema um tanto repetitivo, o fator replay ainda é alto devido às campanhas únicas de cada personagem e, no final, o combate sempre acaba sendo a parte mais empolgante. Será uma experiência tão divertida quanto a do clássico.