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The StoryTale é o primeiro título do desenvolvedor russo Maxim Nuriev, aparentemente simples, mas com a premissa de uma história rica e gameplay diversificado. Temos um autêntico jogo de plataforma 2D, onde acompanhamos uma princesa – e um príncipe – por dungeons infestadas de goblins e cheias de armadilhas, com diferentes habilidades à disposição.

De cara, já é apresentado um menu simples e sem nenhuma interface muito rebuscada. Tudo bem direto – inclusive, esta tela inicial também é o menu de pausa durante o gameplay -, com as configurações em meio às opções de jogo. Felizmente, essa simplicidade não foi sinônimo de um gameplay raso, e os desenvolvedores realmente capricharam nesse sentido, com destaque para a parte artística e mecânicas diversificadas.

A princesa sonhadora

Na trama de The StoryTale, acompanhamos uma jovem princesa que adentra seu quarto bastante irritada, e ao que parece ela está insatisfeita com sua condição de realeza e não quer se tornar uma futura rainha. Seu verdadeiro sonho é se tornar uma feiticeira. Já é noite e ela começa a ler contos sobre aventuras fantásticas quando subitamente acaba adormecendo.

Então ela é acordada por um portal que aparece em meio ao seu aposento e a suga para as profundezas de uma dungeon, assim se iniciando nossa jornada. Do outro lado, um príncipe de um reino próximo está preocupado com o súbito sumiço da princesa e inicia sua busca pela donzela – nem tão em perigo. O gameplay se sucede como um livro de histórias infantil: no início de cada fase somos agraciados com uma parte do conto, que é narrado por uma voz feminina (em inglês). Isso nos oferece uma breve continuidade da história a cada nova interação.

Imagem do jogo The StoryTale.
Um portal misterioso no meio de uma noite tempestuosa? Quem nunca.

As fases de The Story Tale se alternam entre os dois personagens, porém a predominância durante a jogatina são das fases com a princesa. O gameplay dos dois é completamente diferente, apesar dos níveis serem semelhantes. Enquanto a princesa possui poderes de manipulação da realidade e nenhuma resistência contra ataques inimigos, o príncipe utiliza de sua força física e pode manipular armas, como um martelo, e os inimigos não causam dano algum a ele – o que lhe propicia a alcunha de ‘O Príncipe Imortal’ -. Tanto os poderes da princesa quanto as armas do príncipe precisam ser coletados no decorrer de cada fase para serem utilizados.

No caso da princesa, temos à disposição um total de nove poderes distintos: a invisibilidade, poder de crescimento (tal qual o Mega Mushroom da franquia Super Mario Bros.), slow motion (poder de tornar a velocidade do ambiente lenta), pulo alto (amplia a altura dos pulos em mais que o dobro), glider (permite a princesa planar suavemente por declives), poder de invocar nuvens (invoca blocos de nuvens nos quais é possível andar sobre durante um breve momento), poder de invocar molas (para saltar mais alto), poder de flutuar e o teleporte (que permite que se teletransporte por curta distância).

Já o príncipe pode utilizar dois tipos de armas distintas, que possuem dois efeitos elementais cada. O primeiro, o martelo, é uma arma grande e pesada que permite atacar os inimigos com força, porém devido ao peso, limita sua habilidade de pulo. Seus dois efeitos disponíveis são a natureza e o trovão – com o primeiro podemos utilizar seu golpe massivo para saltar em um movimento de pêndulo, e com o segundo causar maior dano contra os inimigos.

Imagem do jogo The StoryTale.
Ninguém para esse príncipe.

A segunda arma é a corrente – que pouco se parece com uma -, que serve para causar dano em área contra diversos inimigos. Seus efeitos adicionais são gelo e fogo – o primeiro congela os inimigos por alguns instantes e o segundo lança os inimigos atingidos à longa distância. Toda essa gama de poderes dos dois protagonistas proporciona uma boa variedade de possibilidades durante o gameplay de The StoryTale.

De início, somos introduzidos a estas mecânicas aos poucos, e ao longo da jogatina elas irão se misturando. Haverão fases onde os poderes da princesa se alternarão automaticamente a cada 15 segundos, tornando mais dinâmicas – e desafiadoras – estas etapas. Cada poder só pode ser utilizado individualmente, e nas fases onde há a possibilidade de escolha, eles estarão disponíveis para troca nos checkpoints.

Falando neles, eles são essenciais para a conclusão das fases – principalmente no caso da princesa, que morre com apenas um único hit -, afinal elas são recheadas de inimigos dos mais diversos tipos. Eles variam entre os que atacam diretamente, os que atacam à distância, os que invocam outros inimigos e aqueles que simplesmente ficam atrapalhando sua passagem, todos sendo variações de goblins ou semelhantes. Não há batalhas contra chefes.

Imagem do jogo The StoryTale.
Aquela tela cheia de inimigos que só de lembrar da raiva.

O príncipe, ao encostar em um inimigo, se repele, o que pode ser usado ao seu favor para alcançar certas plataformas mais altas. Diferente dele, a donzela não possui poderes para repelir os inimigos, somente fugir ou desviar deles – apenas o poder de torná-la gigante serve para esse propósito, porém ele é restrito a fases específicas (e raras). Isso significa que morrer e retroceder ao último checkpoint será um fator comum – principalmente nas fases mais avançadas.

Infelizmente, isso nem se deve tanto à sua habilidade – ou falta dela, como no meu caso -, mas ao fato de alguns comandos serem imprecisos. Não necessariamente de forma absurda, mas em relação a algumas ações e poderes específicos, como por exemplo o ato de pular e voar – que por acaso segue o mesmo padrão de nadar. A dica que deixo é: jogar este jogo com o teclado é uma experiência que definitivamente você não precisa ter, acredite.

Outra questão que pode ser ainda mais frustrante em The Story Tale é a presença de armadilhas de espinhos espalhadas pelos cenários. Elas por si só não são o problema, porém quando se misturam com certas vegetações de cenários específicos, ficam praticamente camufladas ou simplesmente se confundem com este elemento. É quase uma ilusão ótica sadicamente posicionada.

Imagem do jogo The StoryTale.
Nadar ou voar pra mim tanto faz.

Há goblins que vêm para o bem

Uma mecânica curiosa presente em algumas fases de The StoryTale é a de ajudar certos goblins necessitados. Eles costumam estar à procura de algum item específico que está escondido entre o cenário ou em posse de outro goblin inimigo. Ao recuperar e devolver este pertence ao seu dono, ele se tornará nosso amigo, e em futuras fases iremos observar que certos inimigos possuem coloração diferente do comum (para fácil identificação), e estes não irão nos atacar – o que é de grande ajuda.

Para além disso, algumas fases contam com mecânicas de funcionamento específicas. Em algumas delas, os inimigos só se movimentam conforme a personagem se movimenta, ou seja, algo semelhante ao jogo Braid. Outra mecânica é a dos inimigos invisíveis ou dos elementos da fase (plataformas) invisíveis. Tudo isso agrega ainda mais ao desafio e à variedade no gameplay.

No total, The StoryTale conta com 70 fases, que não costumam ser longas em sua maioria, porém algumas exigem mais perícia – e paciência – para serem concluídas. Para completá-las, é necessário coletar uma chave que irá liberar o portal para avançar ao próximo estágio. Essa chave normalmente se encontra dentro de um baú, que por sua vez possui outra chave, que está – adivinhe – em outro baú, o que se resume na coleta de três chaves por fase – com algumas poucas fases fugindo essa regra.

Um detalhe interessante é que as chaves servem como bússolas para a localização dos respectivos baús. Já que o jogo não conta com um sistema de mini-mapa, essa foi uma solução bastante interessante e elegante para contornar a situação – e funciona satisfatoriamente.

Inimigos invisíveis? Sim, eles estão lá.

A caça por essas chaves e baús basicamente torna algumas fases desnecessariamente mais longas, já que por vezes te farão desviar de seu caminho, assim alongando seu tempo de gameplay, não de maneira natural. O mesmo acontece com as fases, apesar de numerosas, que se assemelham muito com outras, tornando o gameplay repetitivo e maçante. Talvez um número menor de fases tornasse o jogo mais enxuto nesse sentido.

Um dos outros problemas presentes em The StoryTale é a falta de um menu de seleção de fases, muito comum em jogos do gênero. Isso significa que, ao concluir um nível, não será mais possível acessá-lo novamente, a menos que se inicie um novo jogo, o que consequentemente fará você perder o progresso anterior. Mesmo após concluir a campanha, essa opção inexiste – o que atrapalha especialmente aqueles que gostam de coletar conquistas.

Simplicidade cativante

Um dos destaques deste título, sem sombra de dúvidas, é sua arte, toda pixelada e extremamente bem animada. As animações dos personagens, mas principalmente dos inimigos em sua variedade, surpreendem. Apesar de visualmente simplistas, chegam a ser fofos, bastante agradáveis e carismáticos. Os artistas realmente capricharam neste quesito. Na parte musical, não há nada que se destaque, sendo a trilha sonora algumas vezes repetitiva.

Você odeia slimes? Vai odiar.

Em geral, The StoryTale pode agradar quem curte o gênero, e chamar a atenção daqueles que gostam do fator história. O grande número de fases e horas de gameplay não necessariamente se traduzem em uma experiência tão fluida, mas as mecânicas diversificadas e o desafio podem cativar os mais interessados.

Review – Liberté

Rafael NeryRafael Nery09/12/2024