Skip to main content

Quando a Bandai Namco anuncia uma nova adaptação de um animê para os consoles, sempre fica aquela ansiedade por uma aula de qualidade em ver uma animação se tornar algo interativo. O recente sucesso de algumas animações japonesas vem inflando essas expectativas e The Seven Deadly Sins tem seu espaço reservado nesse grupo desde o seu anúncio como exclusividade da Netflix. Com a esperança de que mais um bom jogo de animê estava para chegar, os detalhes e trailers serviam para alimentar o monstro da ansiedade que vinha crescendo, mas que parece ter morrido na praia.

Será que os sete pecados capitais foram derrotados pelo histórico da empresa responsável pelo seu lançamento? Ou nós que estamos mal acostumados e não sabemos aproveitar um jogo mais simples? Neste review você saberá se vale mesmo a pena investir na luta contra os Cavaleiros de Britânia.

Preguiça

Inicialmente conhecido apenas como Nanatsu no Taizai, mangá criado por Nakaba Suzuki e publicado nas páginas da Weekly Shonen Magazine, tanto o animê quanto o mangá conseguiram conquistar muitos fãs e em pouco tempo ocuparam o espaço criado pelo fim de Naruto, Bleach e outros títulos jovens. Oferecendo um grupo de heróis carismáticos, uma temática já batida, abusando de estereótipos narrativos e apostando numa história bem simples, a Bandai Namco foi fiel à sua obra original para trazer um jogo simples. Importante essa parte: simples não é sinônimo de inacabado, ok? Talvez ela tenha sofrido do mesmo pecado capital de King, um dos personagens do jogo, apenas por não ousar. Também podemos pensar que uma empresa que lançou Naruto: Ultimate Ninja Storm e One Piece Pirate Warriors, com uma proposta de jogos completos, repletos de conteúdo extra e experiência com dezenas de horas, sequências animadas e motivos para você continuar jogando até esquecer da vida, infelizmente parecem terem se perdido em meio às próprias ideias e escopo para esse jogo.

A história é empolgante como o animê, porém com conteúdo muito breve e sem os momentos mais dramáticos (que não sejam os principais)

Durante o jogo você acompanhará Elizabeth Liones, princesa do Reino de Liones, que foge em busca dos Sete Pecados Capitais para ajudar a recuperar o reino e salvar o Rei Bartra, mantido em cativeiro após o golpe de Estado executado pelos Cavaleiros Sagrados. Acompanharemos a primeira temporada do animê e descobriremos boa parte inicial da história, já que o mangá está em seu volume 21 e conseguiu expandir bastante seu conteúdo indo além do que é apresentado no começo dessa jornada. Elizabeth e Meliodas (o capitão dos Sete Pecados Capitais e também conhecido como o pecado da Ira do Dragão), na companhia de Hawk (o porco sabichão e esquentado), passam à lutar atrás dos demais pecados desaparecidos por mais de 10 anos para enfrentar a tirania dos algozes que ocupam o trono.

Ganância

Sabe quando queremos fazer tudo para impressionar, mas não conseguimos fazer nada? Isso quase aconteceu com este jogo. A Natsume Atari tentou fazer um jogo de luta com missões que mesclassem o estilo Musou, criando uma expectativa muito grande desde os trailers e tentando impressionar pela proposta. Para quem acompanhou os anúncios e vídeos pré-lançamento, assim como eu, acabou recebendo um pacote que não era bem tudo isso. Knights of Britannia nem é luta como se esperava, muito menos um jogo estilo “correr, bater e conquistar”, que o gênero Musou promete. Com uma jogabilidade muito simples e minimalista, esse parece ser mais um lançamento de PS2 e que consegue impressionar pelas animações e qualidade visual que o PS4 oferece. Como assim? Um jogo de PS2? Exatamente! Se você pegar os jogos dos Cavaleiros do Zodíaco, Naruto e até mesmo One Piece, de duas gerações atrás, verá que The Seven Deadly Sins está no mesmo patamar que esses títulos que abarrotavam as prateleiras.

Não espere muito das lutas desse jogo! São razas e sem muitos desafios

Na maioria do tempo você contra Meliodas, Ban, King e os demais personagens, até mesmo Gilthunder, um dos Cavaleiros Sagrados, dentre outros (que não cabem aqui por conta de spoilers); o problema é que para controlar você basicamente tem um botão para combos de ataques fracos, o quadrado, e o botão para UM ÚNICO ataque forte, o triângulo. Você não leu errado! Esqueça a combinação com os dois botões, pois você só pode usar o quadrado diversas vezes e atacar uma única vez usando o triângulo. Nada de mudar a animação dos movimentos e investir em combos diversos ou até mesmo desbloquear mais conteúdo para diversificar o gameplay. Prepare-se para usar o mesmo ataque do início ao fim!

Dentre as limitadas possibilidades de jogabilidade, você terá partidas em arenas contra um inimigo ou, como já disse antes, numa tentativa de simular partidas em jogos Musou em que você combate diversos “minions” que não oferecem resistência ou desafio algum. Num terceiro estilo de partida você controla Elizabeth para coletar itens pelo cenário, desviando de ataques dos inimigos e contando com golpes do porco Hawk, e tudo isso dentro de um tempo pré-determinado. Como se não bastasse, uma quarta opção de partida acontece quando você controla a gigantesca Diane, o pecado capital da inveja da Serpente, em que basicamente você precisa destruir tudo e todos.

É realmente muito gratificante controlar a Diane e destruir tudo

O problema em tudo isso está basicamente em: desafios baixíssimos contra inimigos previsíveis e que, com o tempo certo ao usar a esquiva ou conseguindo atacar incessantemente sem deixar o inimigo se recuperar, você derrotará todos sem nenhuma dificuldade. O outro ponto negativo são os cenários não planejados e apenas na tentativa de adaptar o animê, deixando de lado qualquer preocupação em favorecer a jogabilidade e travando sua movimentação pelo cenário. Seja por itens espalhados, construções ou até mesmo ambientes muito fechados e pequenos, atacar, esquivar ou se defender podem ser um desafio ainda maior quando você estiver em alguma fase que não seja mais aberta ou ampla. Prepare-se, pois fatalmente seu personagem ficará preso em alguma pedra ou quina de parede! Isso sem contar a mecânica dos itens que explodem, pegam fogo ou curam você ou até mesmo os inimigos, e que surgem quando você destrói algum dos objetos, prédios ou paredes dos cenários – o que não é totalmente negativo, pois assim é que você arrecada o “dinheiro” do jogo para desbloquear upgrades e melhorias na imensa árvore de “habilidades” (e cuidado com esse termo, pois em nada mudará as animações ou golpes).

Inveja

Knights of Britannia tinha tudo para ser um excelente jogo, porém acabou ficando nesse limbo entre algo interessante e que serve apenas como um bom fan service para quem acompanha o animê e mangá. Eu me diverti bastante jogando. É divertido controlar o Boar Hat, bar de Meliodas e que se locomove como casa/veículo pelo mapa e destinos da aventura, porém achei que ficou muito mal resolvido a questão de menu em que eu preciso “estacionar” o Boar Hat para ter acesso aos menus e opções de missão, upgrades, party, etc.

Você se move pelo mapa atrás da missões com o Boar Hat, o bar de Meliodas

Essa questão envolvendo o hub tem algo de muito interessante que é a “fofoca” sobre os Sete Pecados Capitais, que acontece sempre após cada partida,  quando os aldeões locais se reúnem no Boar Hat para passar a noite, isso acompanha o seu resultado de batalha e serve para você descobrir conteúdos “escondidos” no mapa. Esses detalhes fazem o jogo se aproximar bastante do animê, até mesmo por oferecer uma trilha sonora que continua o excelente trabalho já feito na versão animada, com uma pegada mais medieval e que lembra (de longe) Fairy Tail, da mesma forma como o visual e o trabalho em estilizar tudo no cel shading continua com aquela impressão de que estamos jogando o desenho.

Tudo seria maravilhoso se não fosse a inveja de tentar seguir o sucesso das demais franquias da Bandai Namco sendo que ainda temos um animê muito cru e novo, que no fim acabou perdendo bastante do potencial por sair muito cedo e oferece pouco para quem já está acostumado com esse estilo de jogo. Some isso tudo ao fator de desafios bem fracos, o jogo agrada mais como item de coleção do que realmente um bom jogo de luta (se é que podemos classificar ele nesse gênero). Por sorte existe o modo Duel que dá a opção do multiplayer para o jogador se divertir numa luta contra os amigos, mesmo que dentro das limitações do jogo.

Ah! Os jogos japoneses…

O que importa é você conhecer essa incrível história de fantasia medieval para entrar nesse mundo e partir do game para o animê, disponibilizado pela Netflix, e o mangá lançado mensalmente no Brasil pela editora JBC. No jogo a história é contada com muito conteúdo cortado e de maneira bem rápida, removendo quase completamente as sequências com drama (algo bem raso e simples) e tendo foco no embate entre os personagens. Com certeza você vai sentir falta de mais informações ou até mesmo do real motivo pela crise que acontece e faz com que as lutas se desenrolem. Por isso The Seven Deadly Sins: Knights of Britannia funciona muito bem como porta de entrada e um jogo para gamers mais novos ou inexperientes nesse estilo de luta/musou.