Em 2013, durante os meses que antecediam o lançamento do Playstation 4, a Naughty Dog apresentou pela primeira vez a jornada de Joel e Ellie para o mundo. Agora, nove anos depois, a mesma história é contada pela terceira vez em The Last of Us Part I. Desta vez, ao invés de um remaster, tivemos uma reconstrução muito mais profunda no jogo.
Utilizando o que foi aprendido com The Last of Us Part II, a nova visão do primeiro jogo vem com belíssimos visuais, interessantes modos extras e modos alternativos de gameplay. A experiência é semelhante a visitar uma antiga casa onde moramos, mas que foi reformada recentemente, trazendo um ar de novidade, mesmo que já conheçamos o local de cor.
Os micélios do apocalipse se espalham
The Last of Us Part I traz novamente a aventura de Joel após presenciar o desencadeamento de uma pandemia mundial. Um fungo derivado do Cordyceps sofre uma mutação e começa a atacar humanos, além de insetos e artrópodes, tornando os infectados em canibais selvagens.
Enquanto foge com sua família, Joel vê a iminente ruina da sociedade ao passo que cada vez mais pessoas se infectam ou são mortas por soldados, fazendo com que ele sofra uma perda imensa. Vinte anos se passam e o mundo se torna distópico, com pessoas vivendo em comunidades muradas e sob alto monitoramento militar.
Para sobreviver a este estado autoritário, Joel se torna um contrabandista, transportando bens para quem pagar melhor, seja em mercadorias ou em cartões de comida. Tudo seguia bem, até que Joel se vê preso a um serviço de transporte de carga para a organização paramilitar conhecida como Vaga-Lumes.
A carga em questão é uma jovem garota chamada Ellie, que precisa ser levada o mais rápido possível a um posto dos vagalumes, para que possam estudá-la. Afinal de contas, Ellie é especial e pode salvar toda a humanidade. Resta a Joel e sua amiga Tess a tarefa de levar a garota em troca de armas que foram roubadas deles.
Um ano, quatro estações, muitas mudanças
The Last of Us Part I não altera nada na narrativa original de The Last of Us (2013) ou seu remaster (2014). Não são adicionadas novas nuances na narrativa ou personagens, é a mesma história recontada em 1:1, com as grandes mudanças sendo aspectos visuais em sua maioria. “Não é melhor jogar o remaster então?”, você deve estar se questionando agora.
Inicialmente, quando vi o anúncio de que o jogo estava sendo relançado desta maneira no PS5, torci o nariz e pensei que não era algo louvável. Com a oportunidade de reviver a narrativa de Joel e Ellie me sendo estendida, pensei que seria a chance perfeita de ver se meu julgamento prévio estava correto.
Felizmente, posso afirmar que minhas opiniões sobre The Last of Us Part I ser um “cashgrab”, vindo junto da futura série da HBO, foram totalmente postas de lado após experimentar tanto a narrativa original quanto o DLC Left Behind. Ambas as narrativas foram reformuladas com um novo sistema de iluminação e modelos de personagens mais realistas.
Acompanhar novamente as duas histórias, ainda que sem o mesmo impacto com as reviravoltas, foi incrível demais. Isso mostra que, tal como os protagonistas da história, nesta edição definitiva, certas mudanças são necessárias para nos tornarmos melhores.
O brilho nos olhos de uma criança
A maior e mais importante alteração ocorreu, sem dúvida, no visual. Agora temos modelos mais realistas, mais interativos e cenários mais vivos do que vimos previamente. Com a tecnologia de ray tracing, cada nuance de reflexo em The Last of Us Part I se torna um espetáculo à parte.
Diferentemente das versões anteriores, sempre que vemos Ellie em repouso ela demonstra ações mais orgânicas, explorando e olhando o cenário. O mesmo capricho pode ser visto com os NPCs e inimigos, que trazem a tecnologia de motion matching, em que, através dos movimentos capturados por mocap, temos ações corporais que tentam ser mais humanas e realistas.
Adicione essa naturalidade de movimento à inteligência artificial aprimorada de inimigos e aliados e temos uma experiência ainda mais realista e pessoal, com inimigos trazendo combates desafiadores enquanto usam técnicas de flanqueio e cobertura para tornar a resposta do jogador mais difícil. Isso sem contar, é claro, a violência primal dos estaladores e infectados!
Sendo assim, o jogador deve aproximar os combates e situações de risco de maneira mais precavida. Porém os aliados também tiveram sua IA refinada e se movem para fora da visão do inimigo tal como um jogador faria, aumentando e muito a imersão. Isso acaba criando combates espetaculares, com a destruição de objetos de cenários, como pilastras, caixas e vidraças, dando aquele ar cinematográfico a tudo.
Desafios e recordes a serem quebrados
Outra grande mudança é a capacidade de escolher logo de cara a dificuldade punitiva, além da adição de modos de speedrun e permadeath, que prometem tornar o jogo ainda mais emocionante. O modo de speedrun adiciona um timer e vai cronometrando cada capítulo finalizado pelo jogador, podendo ser jogado em qualquer dificuldade.
Já os corajosos jogadores podem encarar o modo de permadeath em três opções, sendo elas a de jogo todo, por ato ou por capítulo. Causando a perda total do save, o recomeço do ato e do capítulo respectivamente, eu pessoalmente recomendo começar pelos capítulos. Afinal, perder todo o save é bem frustrante.
Além disso, uma vez que os jogadores terminem a campanha principal de The Last of Us Part I, o menu de extras se expande para além das artes conceituais do jogo de 2013, trazendo os atuais e belíssimos novos modelos detalhados de personagens e inimigos. Os extras também oferecem novos filtros de renderização e até mesmo trapaças.
Os modos de renderização permitem que filtros sejam aplicados visualmente, muitos deles os jogadores terão visto no excelente modo de fotografia do jogo, outros como o de Aquarela, 8bits e HQ são inéditos. Já as trapaças mudam o comportamento do jogo, com opções de espelhamento de cenário, munição infinita, mortes com um tiro e até mesmo mudanças de voz com hélio ou hexafluoreto, deixando-as finas e grossas.
Todos juntos no apocalipse
Outro grande ponto excelente nesta versão definitiva do jogo é que The Last of Us Part I é extremamente acessível, trazendo inúmeras opções de customização. Desta forma, o jogo pode ser o mais receptivo possível para todos aqueles que desejam experimentá-lo.
Essas opções trazem legendas, visão em alto contraste para diferenciar objetos, aliados e inimigos, auxilio de controles e navegação e, pela primeira vez (até onde sei), narração descritiva de eventos e ações. Inclusive a vibração de fala e toque dos personagens pode ser sentida através do DualSense.
The Last of Us Part I infelizmente não traz o modo multiplayer original para a nova geração, mas calma… Há um projeto de multiplayer da série programado para 2023. Será um game com sua própria história, personagens inéditos e um grande mundo a ser explorado.
The Last of Us Part I é a experiência definitiva deste clássico de Playstation 3, trazendo personagens com mais emoções, um mundo ainda mais belo do que vimos em 2013 e um gameplay refinado. Caso seja sua primeira vez jogando, um grande fã da franquia, ou simplesmente alguém buscando um motivo pra jogar novamente, The Last of Us Part I é a pedida certa.