Originalmente lançado para dispositivos móveis em 2017, através de financiamento coletivo, o estúdio eslovaco Blue Brain Games concluiu seu primeiro e ambicioso projeto The House of Da Vinci, um jogo de puzzles com elementos históricos da renascença, baseados na vida e obra de Leonardo da Vinci.
Essa obra ficcional tem como base uma das figuras mais importantes do renascentismo, como também um dos maiores gênios da história da humanidade, se destacando em inúmeras áreas em que atuou. Uma figura emblemática como essa por si só já serviria de alicerce narrativo para inúmeras produções e, no caso, jogos.
O enigma de Leonardo
A época é a renascença italiana (alta renascença, período entre 1450 ~ 1527), e desempenhamos o papel de um dos aprendizes mais promissores e de confiança de Da Vinci. O mestre desapareceu, mas antes disso nos deixou uma mensagem e nos confiou a sua casa, para que possamos desvendar os mistérios por trás de suas últimas criações e o porquê dele estar sendo perseguido por uma misteriosa organização.
Para os fãs de jogos de puzzle, e particularmente aqueles que jogaram os títulos da franquia The Room, esse jogo se mostrará bastante familiar, pois ele utiliza basicamente as mesmas mecânicas e estilo de gameplay, no qual você passa por salas repletas de enigmas que precisam ser resolvidos para que possamos escapar e avançar – os famosos “escape games” (jogos de fuga com desafios).
Um dos pontos vitais de The House of Da Vinci é a necessidade de se ater aos detalhes. A grande maioria dos enigmas exige observação aos pormenores de objetos e ambientes, para encontrar, por exemplo, mecanismos ocultos que acionam determinados circuitos.
Como é de se esperar, pensando em Da Vinci, existem diversos aparatos bastante engenhosos em sua oficina e outros aposentos da casa, com mecanismos complexos e bem elaborados, o que transmite mais veracidade a ficção. Inclusive, podemos ver diversos esboços e protótipos de projetos feitos pelo próprio durante o gameplay.
Além disso, um fator de destaque em The House of Da Vinci é que os colecionáveis que podem ser encontrados são invenções reais do mestre Da Vinci. Os projetos estão espalhados pelas fases, ocultos em meio aos cenários. Ao coletá-los, acessando a sessão de conquistas, nos é apresentada uma uma sala onde podemos experimentar virtualmente essas invenções em ação, junto a uma breve descrição do item – com direito até ao período em que foram concebidos. Desde uma máquina de impressão rudimentar, até as já tão citadas máquinas de guerra criadas pela figura renascentista.
Os puzzles de The House of Da Vinci em si variam entre os mais simples até os mais complexos, intercalando entre eles durante as fases, mas a dificuldade de modo geral é bem equilibrada, para que aqueles menos familiarizados ao gênero possam desfrutar dessa experiência.
Aliás, o jogo conta com um sistema de dicas, e caso o jogador fique empacado em alguma sessão sem saber o que fazer ele lhe indicará de maneira sutil a ação que deve ser realizada em seguida. É um sistema até interessante e que funciona bem na maioria das vezes, porém de vez em quando, as dicas de tão sutis ficam um tanto quanto confusas, principalmente em puzzles cujas salas envolvem elementos semelhantes.
As dicas não dizem literalmente o que precisa ser feito, para não estragar a experiência, mas dizem algo como “abaixo do medalhão existe uma torre de madeira entalhada que parece ser móvel”. Porém existe mais de um medalhão e mais de um objeto semelhante a uma torre de madeira na sala, o que me deixou mais perdido do que sanou a minha dúvida sobre o que fazer. Nesse caso, enfatiza a exigência de atenção aos detalhes por parte do jogador.
A Mona Lisa dos olhos
Assim como em The Room, aqui temos acesso a ferramentas especiais que nos ajudam a “enxergar além”, no caso duas invenções de Da Vinci (na ficção), o Oculi Infinitum e o Oculi Tempus, duas lentes com poderes sobrenaturais. Com a primeira podemos ver mecanismos ocultos, e com a outra podemos enxergar o passado em determinados puzzles, inclusive avançando e retrocedendo em um curto espaço de tempo.
Essa segunda lente cria uma mecânica bastante interessante, que normalmente está associada a acionar um mecanismo que exige movimentos determinados, e que sem essa visão do passado com a sequência correta de acionamento, não poderíamos sequer desvendar a solução.
Ao acessar uma nova sala e solucionar determinados puzzles, vamos encontrar cartas destinadas a nós por Da Vinci e fragmentos de mensagens encaminhadas ao mestre por seus perseguidores. Essas informações aos poucos vão nos fornecendo mais detalhes sobre o que aconteceu e o porquê de estarmos ali. A grande vantagem é o jogo estar disponível em português.
No total, há sete capítulos disponíveis, que em média irão render por volta de seis horas de gameplay em uma primeira sessão, dependendo do seu nível de habilidade na solução dos quebra-cabeças. Pode não parecer muita coisa, porém é um conteúdo bastante satisfatório, tendo em vista que boa parte dele é único e os puzzles não se repetem, somente tornando o uso das mecânicas mais complexos e elaborados.
Graficamente, o jogo é bastante atraente, rico em detalhes e com cenários que, apesar de limitados, são bem construídos. Não há uma vasta trilha sonora, na realidade há basicamente sons ambientes e efeitos das ações executadas (como mecanismos acionados) do que músicas durante o gameplay, e quando estão presentes surgem de maneira bastante sutil. Mas isso não chega a ser ruim, afinal contribuem com a imersão e a sensação de mistério.
The House of Da Vinci é bastante gratificante, e nele solucionar um enigma mirabolante de maneira lógica realmente traz muita satisfação e nos motiva a continuar. Os amantes do gênero ficarão empolgados em resolver as charadas de Da Vinci enquanto exploram os aposentos de sua residência em busca de pistas sobre o que pode estar afligindo a vida do mestre e o mistério por trás de seu sumiço. Para os fãs de puzzles – e da franquia The Room – e entusiastas de Leonardo da Vinci, é um jogo quase obrigatório. E ao que tudo indica, em breve pode contar com uma sequência.