Skip to main content

Idealizado pelo australiano Ben Droste, fundador da 100 Stones Interactive, The Eyes of Ara é um jogo de puzzle e exploração bastante semelhante a The House of Da Vinci – e consequentemente The Room. O título foi lançado originalmente para os PCs em 2016 e algum tempo depois para os smartphones, em 2018 para o iOS e em 2019 para o Android.

Na trama adentramos um velho e remoto castelo, que aparentemente está abandonado, mas tem causado interferências nas redes de comunicação de um vilarejo próximo. Nossa missão é descobrir e desativar a fonte dessa interferência. Porém, lendas sombrias circundam o velho casarão, se referindo a assombrações, mortes e desaparecimentos sem explicação. Apesar de muitos duvidarem destas crendices, ninguém ousa chegar perto dos portões deste local imaculado pelo tempo.

Os mistérios ocultos por detrás destes muros

Aqueles que já jogaram jogos do gênero, como os supracitados The Room e The House of Da Vinci, ou até mesmo Agent A, vão se identificar facilmente com a jogabilidade e mecânicas de modo geral. A ideia é simples: desvendar os mistérios deste castelo, solucionando puzzles, recolhendo trechos de livros e manuscritos, que irão oferecer dicas para avançar por entre os aposentos.

Imagem do jogo The Eyes of Ara.
Esses Alfacebookeiros só reclamam.

A resolução de puzzles é o aspecto chave, que dá ritmo a trama, e permite, entre outras coisas, acessar novos locais, obter itens enclausurados e avançar pelos corredores do castelo. A complexidade dos puzzles varia mas, em geral, eles costumam exigir raciocínio lógico do jogador. Muitas vezes será necessário o uso de algum item que precisa ser combinado a outro, ou uma combinação anotada em algum manuscrito, ou puzzles simples de lógica, combinação de elementos de uma mesma categoria e assim por diante.

Obscuro até demais

A exploração é um fator crucial, vasculhar – literalmente – todos os cantos para encontrar pormenores é essencial. Para tal, diferente da maioria dos títulos do gênero, aqui contamos com uma câmera livre, ou seja, podemos observar todo o ambiente em 360º, de cima a baixo. Isso acrescenta uma complexidade a mais na experiência, já que, com uma câmera fixa, estamos limitados a aquele ambiente de observação.

Porém, em dados momentos a exploração pelo cenário é confusa, devido – muitas vezes – ao tal recurso de câmera livre, ao cenário com elementos semelhantes e os ambientes escuros. Pois há cenários onde existem diversas portas e elas costumam ser muito parecidas entre si. Não foram poucas as vezes em que entrei seguidas vezes no mesmo local que havia acabado de sair devido a essa confusão.

Imagem do jogo The Eyes of Ara.
Como se fosse fácil encontrar algo no meio dessa bagunça.

Outro problema é a dificuldade em perceber os detalhes presentes em um ambiente devido à baixa iluminação. Enxergar algum item escondido em algum canto, que só pode ser acessado caso você interaja diretamente com ele, é um problema. Muitas vezes, o local onde a câmera fica posicionada não contribui. Por sorte, há uma configuração de brilho nas opções que ajuda a contornar (um pouco) essa situação, no caso das jogatinas no modo portátil do Switch.

Outro ponto problemático são justamente os elementos interativos: são pouco claros, principalmente se você jogar com o realce deles desativado. É complicado saber o que possui ou não interação, pois não há algo que os diferencie, eles são literalmente iguais aos elementos do cenário. O entrave é agravado em locais onde existe um mar de objetos misturados como, por exemplo, em armários. Então, o que resta fazer é ficar tocando em todos os cantos para descobrir se existe algum objeto de interesse – ou item colecionável. Sem falar nas vezes que ficamos feitos tontos sem saber para onde ir ou o que fazer, por deixar passar algum objeto ou local interativo chave.

Imagem do jogo The Eyes of Ara.
Às vezes é um pouco antinatural a forma como esse realce é feito.

Além disso, The Eyes of Ara conta com colecionáveis: são diversos itens que poderão ser encontrados pelos cenários, entre moedas, fotografias, quadros, bonecos de ação e por aí vai. Esses elementos, no Switch, servem apenas para atiçar os ‘complecionistas’ de plantão, já que – diferente das outras versões do título que contam com conquistas – aqui teremos apenas a satisfação de encontrá-los, sem nenhum extra adicional por esse feito.

Controle sem controle

Em The Eyes of Ara, os comandos também não são tão ágeis quanto dos jogos com que é comparado. Aqui, pelo fato da câmera ser livre, não há uma maneira de retroceder à sala anterior com um atalho de toques simples, como tocar ao mesmo tempo com dois dedos na tela, por exemplo. Isso torna a ação mais lenta, já que é necessário virar a câmera, tocar na porta para aí sim voltar. O restante dos comandos funciona como na maioria dos jogos do gênero.

Imagem do jogo The Eyes of Ara.
Aquele lugar misteriosamente tenebroso.

Assim como ocorreu com o port de The Room para o Switch, temos a possibilidade de jogar no modo TV com o Joy-Con (direito) sendo um pointer. Dessa forma basta apontar para o objeto que deseja interagir e pressionar o botão ZR. Nesse sentido, os comandos funcionam relativamente bem, chega a ser mais cômodo controlar a câmera pelo analógico do que via touch. Ademais, neste modo contamos com um feedback tátil via HD Rumble ao passar o cursor por algum item interativo, assim indicando o que é interativo, um recurso bastante útil, mas que só funciona neste modo.

Um detalhe que achei um tanto inconveniente foi a impossibilidade de utilizar qualquer comando via botões quando se joga no modo portátil. Só é possível utilizar a tela touch, tanto que, caso deseje, pode simplesmente desconectar os Joy-Cons e jogar apenas com a tela em mãos.

Imagem do jogo The Eyes of Ara.
Elementos detalhados.

Este recurso parece interessante do ponto de vista de economia de bateria, porém, o fato de não haver qualquer possibilidade de utilizar os comandos comuns quando neste modo, nem ao menos para controlar a câmera, é um pouco drástico. Seria interessante ter essa opção disponível, já que nem sempre os comandos via touch são os mais precisos e confortáveis de se jogar. Sem citar que estamos jogando em um console com tais características disponíveis, diferentemente de um smartphone por exemplo.

The Eyes of Ara conta com gráficos muito caprichados e bonitos, com os objetos sendo ricos em detalhes e os cenários bem construídos. O tamanho dos cenários também impressiona, porém um ponto que pode quebrar um pouco a imersão são as transições entre uma sessão a outra, algo que por exemplo, não existe em The House of Da Vinci. Mesmo fazendo parte de uma mesma sala, ao acessar um local específico, é necessário aguardar um momento. Não é algo extremo, porém tira um pouco da fluidez do gameplay.

Imagem do jogo The Eyes of Ara.
The Big Brother is watching you.

Quanto a trilha sonora, ela nem sempre está evidente, deixando apenas os sons ambientes para aumentar a tensão. Entretanto, onde se faz presente, possui arranjos minimalistas, sem nada muito chamativo, para contribuir com a atmosfera enigmática e instigante. O destaque fica para a localização, totalmente em português brasileiro. Isso ajuda muito, especialmente para analisar os diversos trechos de manuscritos, cartas, textos, livros e etc. – acredite, há muita coisa para se ler aqui. Há alguns pequenos erros de concordância em algumas passagens, mas de modo geral está propício.

Com uma trama intrigante, vastas áreas de exploração e um bocado de mistérios, The Eyes of Ara vai agradar aqueles que estão sedentos por uma sequência de The Room, aqueles que gostaram de The House of Da Vinci ou mesmo querem explorar mais jogos do gênero. Apesar de contar com certos problemas no gameplay, este é um título que vai entreter os aficionados por mistérios e puzzles.