A chegada de The DioField Chronicle, junto ao lançamento de Triangle Strategy e vários outros games, recria uma das maiores gerações de RPG que a Square Enix trouxe à vida. Ainda nos anos 90 e início dos anos 2000, a empresa inovava e nos trazia uma diversidade absurda de lançamentos no gênero. Cada um com um estilo e performance diferente, acabaram todos se tornando queridos para uma legião de fãs e dão saudades para os mais saudosistas. E, pelo visto, os bons tempos estão voltando.
Nesta nova aventura, a experiência surpreende justamente por não ser apenas um RPG tático como o conhecemos. Na verdade, ele é mais um RTS que absorve elementos do estilo para formar um gameplay único e que vai te envolver conforme avança em sua campanha principal. Sendo assim, não espere nada muito parado ou que te deem tempo demais para raciocinar suas estratégias: os minutos correm e se pensar demais será devastado pelo exército inimigo.
A partir disso, meus caros leitores, chegou uma das mais gratas surpresas do ano. Ainda que tenha sido anunciado recentemente e a campanha de marketing não tenha sido tão agressiva, reserve um tempo para jogá-lo e aproveitar a diversão que proporcionam ali. Não que ele cause um grande impacto, mas serve como uma porta de entrada para uma mudança real no que conhecemos hoje.
Inovação é a chave de The DioField Chronicle
The DioField Chronicle mistura alguns recursos para formar como única a sua experiência. Você tem o castelo principal onde pode andar, conversar com os NPCs, acrescentar habilidades, comprar itens etc., assim como vimos em Fire Emblem: Three Houses e Three Hopes – só que em uma escala menor. Também temos diversas missões que aprofundam seu relacionamento social com o esquadrão e permitem saber mais de suas histórias e motivações.
Porém, o que mais brilha é o combate dele. Eu estava bem cético, confesso, quando soube que ele seria mais um RPG tático de ação do que os clássicos que conhecia e amava. Apesar disto, só foi entrar no primeiro combate que deu para perceber as inúmeras possibilidades de terem formado um RTS ao invés de “mais do mesmo”. Eu ouso dizer que não sei se este será o novo passo que darão no gênero, como os RPGs de turno se transformaram em jogos de ação, mas a proposta devia ser considerada.
Isso porque torna tudo ainda mais fluído e te dá mais dificuldade na tomada de decisões. Querem um exemplo disso? Você está defendendo uma barricada contra a invasão do pelotão inimigo e além de terem três frontes para te atacar, vem um campeão montado em Wyvern pelos céus cuspindo fogo e devastando tudo em cima de mim. Devo focar nos outros tentando derrubar a passagem antes que vençam a partida, enquanto jogam labaredas em mim? Devo tentar matar o Wyvern o mais rápido possível e rezar para a CPU ser lerda o bastante para não chegar onde querem?
Essas escolhas são cruciais e ter de toma-las no calor do momento pode se mostrar um desafio e tanto para quem busca algo assim em The DioField Chronicle. Ainda que você esteja na dificuldade “Normal”, encontrará uma baita batalha pela frente. Um pequeno spoiler aos desavisados, só completando o que falei acima, a CPU não é burra de forma alguma. Se você tomar a decisão errada, será punido por ela. Seja na forma da derrota, seja perdendo algum membro do seu time no caminho ou sendo obrigado a usar um recurso que estava sendo reservado para o grande chefão daquele lugar.
E algo que gostei bastante do que a Square Enix montou para esta jornada foram as micro-missões que você pode completar em cada cenário. Completar elas pode ser mais desafiador conforme o seu avanço, como evitar que qualquer personagem morra de sua party ou até mesmo fazer todo o percurso e vencer em menos de seis minutos. Isto te dará pontos de melhorias que podem ser usados para habilitar novas armas, poderes para suas invocações, técnicas e muito mais. Particularmente falando, neste quesito eu gostei demais do que vi e me soou bastante agradável.
Uma trama clichê, mas não ruim
Já na história, sendo bem sincero, não enxerguei nada que me deixasse surpreso ou que cause um grande impacto. Você acompanhará a saga de Ardrias, um mercenário que acaba liderando o grupo Blue Foxes com seus amigos e se veem no meio de uma invasão massiva do exército inimigo. Como o território deles é uma ilha, há uma certa dificuldade para os grandes vilões entrarem por lá, mas com ajuda interna de um grupo traidor você se vê em um verdadeiro sanduíche de intrigas.
A razão disso são alguns cristais encontrados em The DioField Chronicle, que são utilizados para os soldados conseguiram reproduzir magias mesmo sem treinamento adequado ou muito trabalho. Isso firmará as forças imperiais em The DioField Chronicle, qual você evitará o avanço a todo custo. Sendo bem sincero com vocês, não é nada que eu já não tivesse visto em Triangle Strategy, também da Square Enix. Porém, se este game não passou pelo seu radar previamente, é capaz dessa aventura mais recente te emocione mais do que a mim.
Apesar de você ter um bom background ali e conhecer as razões de cada personagem fazer o que vê em tela, não senti muito carisma por eles e achei tudo bem clichê. Para não falar que tudo nisso é uma grande série de eventos já vistos em várias outras mídias e games, a personagem Waltaquin é extremamente interessante e eu amei ter uma healer que não seja a “santa” da equipe. Com uma personalidade caótica, ela é de longe a mais chamativa do enredo nos diálogos e desenvolvimento da história.
Mesmo assim, jogando a real para todos que estiverem lendo aqui, nada do que vi dela é ruim ou foi abaixo do esperado. Temos de acabar com o conceito de que clichê em si é algo negativo, se levado em conta que não há tropeços ou que não seja feito de qualquer forma. Houve um cuidado nos detalhes e nos personagens que excede a qualidade e faz tudo ter uma base bem sólida aos jogadores.
Performance ótima para um experimento
O que mais pesará na experiência de The DioField Chronicle é o desenvolvimento do jogador dentro do game. Nas primeiras fases, você abrirá diversos mapas diferentes e que trazem propostas distintas dentro da história. Proteger ou atacar, invadir ou resgatar, será um mar de rosas pronto para o seu mergulho. Porém, quando você visita o mesmo cenário 3 ou 4 vezes pela própria história – fora as vezes que você retornou para grindar níveis – pode te cansar um pouco. Principalmente por já conhecer quais são os pontos-chave de sua vitória ali.
E ainda que seja um RTS, você pode “pausar” as operações para dar algum comando e ver a disposição dos inimigos na tela. Isso não te dá tanta vantagem em esquadrões que estejam em movimento, mas ajuda bastante a montar algo antes de executar qualquer tarefa. Assim, mesmo que cometa erros, na maioria das vezes terá tempo hábil para se recuperar e voltar à vitória. Eu creio que nos dois primeiros capítulos você já terá uma breve noção do próprio time também, tanto de suas forças quanto das fraquezas, para se dar bem nas partidas.
Explorar essas facilidades pode melhorar e muito a sua vida, mas eu acredito que te tiram um pouco do grande desafio que estão propondo. Em determinados momentos eu sabia exatamente o que fazer e como agir, mesmo entrando em algum espaço pela primeira vez. Simplesmente entrei, verifiquei o estágio na pausa, soube onde ia explodir, como movimentaria minha tropa e os flancos que atacaria. Em questão de segundos tudo estava feito conforme planejei na minha mente. E vamos combinar, eu não sou nenhum gênio da estratégia.
Não me menosprezando, claro, mas senti que estes elementos me tiraram um pouco do sentimento de conquista em The DioField Chronicle. Queria ter mais liberdade para completar minhas tarefas, assim como cenários mais interativos do que encontrei. Se levar em consideração que é um RTS, podiam muito bem terem inserido cenários sendo destruídos, por exemplo, para barrar minha passagem e me obrigar a tomar outro caminho ou coisas do tipo. No máximo que vê serão barricadas e oponentes no caminho, algumas instalações como torres e canhões, mas não foge muito disso.
Isso torna a experiência ruim? Não, muito longe disso, mas ainda assim são coisas pequenas que me afastaram de dar uma nota máxima por aqui. A performance de voz está impressionante, recomendo usar o japonês para ter uma emoção a mais no seu gameplay, assim como graficamente ele está lindo e condizente com as coisas que vemos do gênero. A única coisa que faltou foi uma legenda em português, mas sabemos como funciona a atenção deste mercado para a nossa linguagem.
Se está buscando uma grande aventura e quer testar suas estratégias em um formato novo, The DioField Chronicle será a pedida certa em pleno 2022. Será uma excelente forma de conhecer uma roupagem inédita de RPG tático e te motivar a se desenvolver ali para vencer os combates. Podemos não ter uma excelência no contexto geral, mas o que temos em mãos vai te empolgar e muito enquanto joga. E não é isso que importa, no fim das contas?