Enxergar nosso futuro pode ser tanto uma benção quanto uma maldição, mas imagine se você tivesse o poder de definir o destino das pessoas ao seu redor! Essa é a ideia central de The Cosmic Wheel Sisterhood, mais novo jogo do estúdio espanhol Deconstructeam – autores do incrível The Red Strings Club, que eu particularmente adoro. Sendo mais um título de narrativa onde suas decisões realmente importam, assumo que a temática da vez não é muito minha praia, mas resolvi me arriscar para ver o que o trio valenciano iria aprontar desta vez.
Substituindo o mundo cyberpunk e a combinação de bebidas por um universo totalmente forjado no misticismo, The Cosmic Wheel Sisterhood nos apresenta a uma sociedade de bruxas, criaturas mágicas e muita adivinhação. A vibe mística ajuda a abordar diversos temas pesados e contemporâneos, sempre com um foco muito grande em questões de saúde mental, transtornos psicológicos e autoconhecimento. É um jogo que gera diversas reflexões e, acima de tudo, mostra que nenhuma boa ação sai impune.
O futuro na palma da sua mão
Aqui assumimos o papel da bruxa Fortuna, uma vidente que foi banida do seu clã e condenada a um exílio milenar. Tudo isso aconteceu depois que ela previu a destruição do seu próprio grupo, algo que não foi muito bem visto pela líder da fraternidade. Depois de passar 200 anos vagando sozinha por um mar infinito de estrelas, Fortuna decide invocar Ábramar, um Behemoth (criatura mística mais velha que o próprio universo) que concede seus poderes para que ela consiga dar a volta por cima… por um preço.
Com os poderes de Ábramar, teremos a oportunidade de criar um novo deck de tarô, totalmente do zero e da forma como bem entendermos. Essa é uma das grandes virtudes do jogo, pois aqui é possível editar absolutamente tudo! As cartas são forjadas a partir de um elemento da natureza (cada um representando previsões e sentimentos distintos) e devemos escolher um cenário, uma criatura para representá-la e alguns detalhes para complementar. Cada escolha aqui dará um efeito diferente para a carta, que no final vai ditar o destino das pessoas!
Essa definitivamente é a parte mais legal de The Cosmic Wheel Sisterhood. Ao longo do nosso exílio, receberemos a visita de diversas bruxas (algumas amigas de Fortuna e outras nem tanto), sempre com a possibilidade de ler o futuro delas. As cartas que receberemos nas previsões são aleatórias, mas você tem o poder de escolher sobre qual aspecto da vida da personagem ela será atribuída. Isso vai desbloquear algumas perguntas personalizadas e é aqui que você definirá qual será o destino daquele indivíduo.
Parece irrelevante dizer para alguém que ela vai se ferir gravemente ou até mesmo perder sua vida em breve, mas todas as histórias aqui vão se entrelaçando até chegar a uma conclusão completamente absurda e caótica. Tem mais: você não tem a opção de voltar um save antigo para consertar suas escolhas, então este é um jogo sobre consequências e, não menos importante, sobre os perigos de se brincar com o futuro.
Cada detalhezinho influencia na sua história e não existe um cenário 100% perfeito, onde você consegue evitar todo tipo de desgraça alheia. Assim como suas cartas desempenham um papel fundamental nessa jornada, seus diálogos com Ábramar e com todas as bruxas também são decisivos, então até mesmo a mais insignificante das respostas pode ter peso lá na frente.
Só para eruditos
Se você chegou a jogar outro título do Deconstructeam anteriormente, provavelmente já sabe bem onde está se metendo. The Cosmic Wheel Sisterhood segue o mesmo padrão dos seus irmãos, sendo um título visualmente simples e ainda mais básico em termos de jogabilidade – afinal, estamos falando de um estúdio composto por apenas três pessoas!
Os gráficos seguem um pixel art razoavelmente detalhado, mas que não conta com sprites super requintadas ou animações fluidas. É bonitinho, mas você passará 80% do jogo dentro do quarto flutuante de Fortuna, então não temos muitas mudanças de cenários por aqui (com exceção dos flashbacks que testemunhamos em certos capítulos). Em compensação, a trilha musical é soberba e faz jus à temática mística do jogo. Achei as músicas simplesmente incríveis, principalmente por conseguirem colaborar com aquele misto de temor e curiosidade envoltos ao futuro.
A jogabilidade é extremamente simplória, consistindo apenas na escolha de diálogos e, vez ou outra, assumindo o papel de um point and click onde você mal consegue movimentar o cursor (especialmente no Switch, que dificulta bastante essa função). Tudo já é pré-definido e você pode controlar o cursor apenas em uma área delimitada, como na mesa de criação de cartas, por exemplo. Dito isso, esse é um daqueles jogos para quem não tem preguiça de ler toneladas de diálogos e não se importa com a falta de controle do personagem.
Para quem curte uma boa história, não tem erro. The Cosmic Wheel Sisterhood pode ser lento no início, pois passamos muito tempo criando cartas e as primeiras leituras não trazem uma grande variedade de futuros no deck. Contudo, conforme você avança e conhece novos personagens, o enredo acompanha aumentando o nível de tensão; posso garantir que nenhuma história pessoal apresentada neste jogo é brincadeira de criança. Quanto mais você afeta o destino do mundo, mais relutante fica na criação das cartas e na própria arte da adivinhação.
Se está no seu futuro ou não jogar este jogo, é você quem decide. Apenas vá de coração aberto e tente ser prudente nas suas escolhas, pois elas têm poder!