Antes de falar sobre Stray Children, eu preciso voltar no tempo… Na era do PlayStation 1, mais precisamente em 1997, a Love-de-Lic (atual Onion Games) lançou exclusivamente no Japão um game chamado Moon. Trata-se de um JRPG que tira onda dos clichês do gênero, colocando o herói como responsável pela destruição, saque de casas e o massacre de centenas de criaturas. O jogador assume um personagem secundário que tem como missão desfazer os “atos heróicos”. Eis que este game mexeu com a cabeça de Toby Fox, criador de Undertale.
Em 2019, Moon foi traduzido para inglês e lançado no ocidente primeiramente no Nintendo Switch. Posteriormente, saiu para PlayStation 4 e PC com o subtítulo Remix RPG Adventure, com alguns ajustes e resolução widescreen. E, claro, muita gente pôde se encantar com este incrível e humorado anti-RPG. Onde quero chegar? Bem… Moon inspirou Undertale, e Undertale inspirou Stray Children em retorno. Logo, minha empolgação pra curtir este “novo JRPG das antigas” estava na alturas.

O jogo do cartucho preto
Stray Children começa com uma criança sozinha em um apartamento no Japão. O protagonista, que você nomeia como desejar, possui a cara de um cachorro. Seu pai sumiu e a mãe deixou um bilhete dizendo que tem comida pronta, mas você não encontra nada pra comer. A campainha toca e na porta aparece um sujeito estranho chamado Kenken, dizendo talvez saber o motivo do sumiço do seu pai. Os dois seguem para um metrô abandonado e lá você descobre um esconderijo onde seu pai trabalhava em um jogo retrô chamado Crescent Moon. Seu pai desapareceu no mesmo dia que a produção do jogo foi concluída, ficando pra traz um misterioso cartucho preto. Kenken diz pra não tocar em nada enquanto corre pro banheiro, mas a curiosidade fala mais alto e os dois são sugados pra dentro do jogo.
Caindo neste mundo, descobrimos que tudo está em colapso. Boa parte dos habitantes foram transformados em slimes, enquanto outros lamentam o iminente fim do mundo. Após um novo evento, Kenken e o protagonista vão parar em Childonia, um país habitado por crianças. Fora do forte, onde elas vivem, estão os idosos. Eles foram transformados em criaturas hostis que devoram as crianças. Seguindo o estilo de Moon, seu objetivo é salvar as criaturas de sua própria desgraça através do diálogo e compaixão. Mas não pense que será uma tarefa fácil: cada criatura possui uma dor interna que, se você escolher a sequência errada de diálogos, pode desencadear uma árdua batalha.

Abre-te Sésamo
O combate acontece aleatoriamente e por turnos, seguindo o estilo clássico dos JRPGs, mas também inclui momentos de bullet hell para você tentar se safar do ataque inimigo – como vimos em Undertale. Você pode escolher entre atacar, usar um item ou conversar. O diálogo é o caminho mais pacifista, mas exige do jogador uma sequência correta de frases. Escolhendo certo, o inimigo reage positivamente, o que não evita um ataque (por emoção exacerbada). Ao errar, você é atacado e a conversa será resetada. Acertando a ordem, a criatura começa a chorar e uma nova opção aparece no menu de conversa (Open Sesame), com a qual você liberta a alma do oponente. Parece simples, mas é bem mais difícil do que derrotá-lo do jeito tradicional.
O problema é que, para saber como lidar com as criaturas, é preciso explorar o mundo e encontrar itens e dicas importantes que são anotadas em um livro. Mas como os encontros ocorrem na surpresa, você pode entrar em uma batalha completamente despreparado e não conseguir acertar a sequência de frases. Quando isso acontecer, o jeito é voltar no save ou partir pro ataque mesmo. Pior é quando você decide derrotá-lo e, um tempo depois, descobre como vencê-lo na base do diálogo. O jogo faz isso de propósito, inclusive com diálogos sem pé nem cabeça para dificultar o seu progresso.

Para se dar bem em Stray Children, você precisa explorar cada cantinho, ler placas, procurar baús, se equipar com o loot, verificar se alguma coisa mudou no cenário e, principalmente, conversar com todos os NPCs que encontrar pelo caminho. Assim como nos JRPGs de PlayStation 1, tem coisas que à princípio não são claras e te fazem ficar perdido, sem saber pra onde ir ou qual item usar. Por exemplo: o que devo fazer com um sutiã sujo? Em batalha, como diabos vou entender a conversa com um pássaro? Em outras palavras, este game definitivamente não é para qualquer um.
Propositalmente difícil
Apesar da dificuldade elevada, o caminho das pedras (do diálogo, pacifista) o faz lidar com assuntos como tristeza, cansaço e depressão, promovendo uma experiência narrativa mais profunda. É como se o jogo quisesse fazer você sentir o mesmo que as criaturas, sendo exposto às falhas e tendo que lidar com a sua própria impaciência. A vida é assim, uma montanha-russa de altos e baixos, não é mesmo? Minha dica é: anote cada resposta correta até decifrar a ordem da conversa e desbloquear o Open Sesame.

A apresentação de Stray Children é maravilhosa, com estilo artístico único que imita as limitações de renderização e resolução do PlayStation 1. Os cenários, as personagens, os combates, tudo em Stray Children é estranhamente bonito e charmoso. A excelente trilha sonora também combina com tudo, seja na exploração ou combate. Mas o toque especial encontra-se no humor que só os japoneses conseguem dar, como vimos em Black Bird. Você realmente se sente jogando um game dos anos 90, mas com a criatividade de mentes experientes do mercado.
Prós:
🔺Arte charmosa no estilo dos JRPGS de PlayStation 1
🔺História bastante profunda e intrigante
🔺Humor afiadíssimo
Contras:
🔻A frustração é inevitável, principalmente nos chefões
🔻A exploração poderia ser menos linear
Ficha Técnica:
Lançamento: 30/10/2025
Desenvolvedora: Onion Games
Distribuidora: Onion Games
Plataformas: PC, Switch
Testado no: PC


