Star Renegades já abre com o pé na porta e uma bela animação que irá dar o tom frenético de sua trama. Há um clima de drama e desespero na cena inicial, mas também serve para revelar a energia combativa de nossa protagonista, sua disposição para chutar bundas a qualquer custo e fazer o que é certo.
O que vem a seguir é uma grande pisada de freio. A desenvolvedora Massive Damage entrega uma jogabilidade baseada em decisões táticas e riscos assumidos, que precisará ser repetida inúmeras vezes. Prepare-se para conhecer o fracasso, rir na cara dele e retornar para mais uma tentativa.
Mate, morra, repita
Os planetas livres do universo estão na mira de uma ameaça extraordinariamente poderosa. A armada que deveria proteger a democracia foi dizimada. Os invasores parecem invencíveis. O Imperium está estendendo suas garras e apenas um punhado de renegados tem alguma chance de deter seu avanço e, infelizmente não irão conseguir.
A primeira reviravolta da trama surge logo no início: o Imperium já ganhou, em diversas realidades. Seu vasto exército conquistou outras linhas temporais, mas uma cientista conseguiu enviar uma sonda para o passado, antes da invasão em larga escala e cabe a nós impedir que o destino se repita. Cada fracasso é um universo condenado e um salto quântico para outro universo. Se você acha que já viu essa trama anteriormente, não é um déja-vu cósmico ou subproduto de um entrelaçamento: essa é rigorosamente a mesma premissa do superior Into the Breach.
Sem dó nem pena, a Massive Damage pega a ideia, sai correndo e mistura com mecânicas que já apareceram também em outros títulos, como sistemas de amizade entre companheiros de batalha ou uma linha de tempo nas batalhas por turnos que nos remete a Othercide, para ficar em um exemplo bem recente. Felizmente, o que falta de criatividade em Star Renegades, sobra em carisma e execução.
Em troca de uma boa experiência, o jogo exige paciência do jogador. Atravessar fracasso após fracasso está no núcleo de sua concepção. Será necessário passar por uma longa sequência de batalhas relativamente fáceis, subir de nível, melhorar o equipamento, derrotar os tenentes do Imperium e então ser massacrado pelo chefe final daquele universo. O objetivo não é a vitória inicial, mas emergir cada vez mais forte em outra linha temporal.
Simpatia é quase amor em Star Renegades
A Massive Damage coloca na fórmula roguelike gráficos que esbanjam charme. A arte é muito bem trabalhada e o jogo surpreende também ao exibir essa maestria em diversas cenas que vão além do mata-mata por turnos contra os inimigos.
Há espaços de paz ao longo da aventura e diversos personagens que interagem entre si. Combine diálogos divertidos com a beleza dos pixels e temos aqui um título que convida a continuar jogando, nem que seja para deleite dos olhos.
Star Renegades também entrega um sistema de combate com múltiplas camadas, sistema de fraquezas e resistências, habilidades especiais, escudos, armadura e mais. O conceito de linha temporal compartilhada dentro do mesmo turno, que também vimos em Othercide, é modificada em prol do jogador. Enquanto o jogo sombrio lá fazia das tripas coração para tornar a vida do jogador um inferno, esse aqui quer ver sua felicidade e sua mensagem final é de esperança: continue lutando que um dia vai dar certo. Portanto, é possível quebrar a possibilidade do oponente reagir naquele turno, sapecando ele de bordoada, por exemplo.
Sem a necessidade de posicionar seus soldados no campo de batalha e com um leque bastante interessante de perícias, as lutas acabam se tornando mais tranquilas do que se podia esperar. Não encontraremos em Star Renegades o xadrez de um Into the Breach ou a brutalidade de um Othercide.
Isso não significa que seja um jogo fácil. A batalha contra o Behemoth final exigirá personagens bastante evoluídos, tática em profusão e muita sorte. Além disso, cada tenente do Imperium que não é derrotado também retorna mais forte no próximo universo, virando um antagonista mais significativo.
Entre as lutas, é necessário acampar e fortalecer os laços entre seus renegados. Não chega a ser uma interação do nível de uma visual novel ou mesmo outros jogos táticos, mas adiciona diálogos interessantes e desbloqueia combos entre heróis que irão fazer a diferença na linha de frente.
Fúria contra a máquina
O carisma do jogo, lamentavelmente, se dissolve quando você ouve a mesma piada ou comentário pela quarta, quinta vez seguida. Por melhor que seja sua jogabilidade, repetir as mesmas lutas, utilizar as mesmas táticas, atropelar os mesmos inimigos até chegar na batalha que realmente importa acaba se tornando cansativo bem rápido. Um pouco mais de aleatoriedade ou um ciclo um pouco mais curto poderiam favorecer Star Renegades.
Um pequeno detalhe negativo do jogo é seu elevado consumo de GPU. Para um título com gráficos que remetem à gerações passadas, há um bocado de processamento rolando. A placa de vídeo esquentou no meu PC de uma forma bem próxima do intenso Marvel’s Avengers.
Com um teste rápido, constatei que Star Renegades estava usando 50% do processamento de minha GPU parado na tela de menu, antes mesmo de começar a partida. Há algo errado na otimização, não chega a ser um problema que vá fritar seu hardware, mas gera uma testa franzida e um bafo quente saindo do gabinete.
O Imperium deseja conquistar o infinito e será praticamente esse o número de conflitos que você precisará travar para derrotá-lo. Para quem tem disposição, Star Renegades garante horas e horas de gráficos bacanudos, batalhas repletas de efeitos e personagens divertidos. Para quem deseja um pouco mais de variedade ou menos suor, Star Renegades parece mesmo um monte de ideias recicladas com embalagem bonita.