Não! Não. Dessa vez não. Não vou começar o review falando de espaço, fronteira final, nenhuma dessas frases mais clichês que turminhas do barulho aprontando em altas confusões na Sessão da Tarde. Se bem que, analisando bem Spaceland, poderia até caber nesta descrição.
O mais novo jogo da Tortuga Team, desenvolvedora e distribuidora, traz ao mundo da estratégia por turno as histórias que ficaram famosas durante as décadas de 1950 e 60 por meio das, hoje, narrativas de ficção científica.
Só mais uma fronteira
Seguindo nos moldes das opções mais tradicionais de combates estratégicos por turno, Spaceland nos leva a acompanhar uma equipe de resgate rumo a um planeta abandonado e quem quer que estivesse lá residindo.
Consigo sentir o cheiro dos gibizinhos e livros pulp, aquelas páginas amareladas e basicamente esfarelando na sua mão enquanto fuçamos pelas estantes de sebos e bancas de revistas passando por diversas obras que seguem o padrão da Era de Ouro da ficção científica, mesmo que produzidas anos ou décadas depois.
Começamos acompanhando a chegada de um recruta a este planeta teoricamente abandonado há algum tempo. Este processo de descoberta não poderia ser mais desconhecido e familiar ao mesmo tempo. E logo já encontramos o primeiro dos nossos parceiros. O clássico veterano anti-herói de casca grossa e coração mole.
O desenvolvimento e a exploração do planeta no geral é bem limitado. Basicamente seguindo em linha reta de missão em missão sem muito discutir. Nada de novo no front. Por mais que as missões não tenham lá muita variedade nos seus conceitos básicos, a sensação que fica é que a cada punhadinho de missões nos deparamos com uma bem diferente do habitual.
Porém, a estrutura básica de sair do ponto A e ir para o ponto B se mantém. Para cada fase também temos a oportunidade de coletar alguns itens especiais que nos permitem melhorar nossos equipamentos e habilidades, que de certa forma nos forçam a repetir as fases algumas vezes para conseguir estes itens. Até tentei fugir um pouco desses itens extras para upgrades, porém a escalada de resistência e dano causado pelos inimigos força que tenhamos sempre os melhores itens possíveis. Independente disso, as fases são muito semelhantes entre si e as soluções dos problemas são muito parecidas.
As melhorias dos equipamentos são quase que obrigatórios caso você não queira ter uma dificuldade absurda para matar e não morrer. Porém não dão opções de escolha, a linha de upgrade é direta e reta. Com uma linha de pensamento dessas, eu preferiria que não me dessem essa opção e só melhorasse conforme eu avanço as missões.
Não tem wi-fi, conversem entre si
Agora, contando com a mediocridade das fases e das melhorias, o que tem de excepcional no jogo? Digo-te de pronto: a interação entre os personagens. Entre as missões, é possível testemunhar interações entre os personagens.
Cada uma delas mostra que aqueles personagens que aparentavam ser estereótipos rasos e sem mais a mostrar ou demonstrar do que as interações pré e pós-missões, na verdade, são seres humanos complexos e com suas próprias histórias de vida, experiências prévias, anseios e medos. Realmente não era algo que eu estava esperando levando o resto das coisas em comparação.
São diálogos realmente válidos, do nível que não vi em boa parte das experiências de jogos que já tive. O suficiente para me deixar pensando por algum tempo, parado olhando para a tela sem me direcionar para a próxima missão. Devo admitir que muito raramente isso me acontece.
Bom, por fim, Spaceland é uma experiência que remete diretamente à ficção científica clássica, com jogabilidade inspirada nos jogos de estratégia por turno do fim do século XX, sem acrescentar nada demais, porém fazendo o que se propõe de forma competente. O grande diferencial está somente no carisma e nas interações dos personagens. Recomendo, mas com ressalvas.