Assim que vi Soundfall na Nintendo Indie World, já sabia que aquilo era uma compra certa para mim. Jogos de ritmo sempre me cativaram, assim como a perspectiva vista de cima sendo famosa por games como Diablo que enchem meus olhos de esperança (enquanto minha carteira se esvazia). Porém, quando finalmente fiz o download dele, uma sensação mista me atingiu e posso afirmar que apesar da teoria ser uma das boas, na prática não funcionou tão bem assim para mim.
A proposta é simples: atire, ataque com espada e se movimente conforme as músicas tocam e os inimigos te atacam. Neste fator, o título brilha e realmente entrega aquilo que você tanto espera. Neste ponto, não há dúvidas que a desenvolvedora teve o conceito de um grande acerto nas mãos: barra de ritmo, diferentes armas para usar, oponentes diferenciados e que podem confundir qualquer um na primeira vista…tudo encaminhando para que eu falasse apenas sobre as mil maravilhas dele.
Só que, conforme você avança, vai percebendo suas maiores falhas e infelizmente não são coisas que dá para se ignorar ou passar um pano. Se você já comprou e aceita um conselho, jogue as primeiras fases e cenários e seja feliz da vida. Passou dali, as coisas desandam e acabará se cansando de forma bem rápida até daquilo que te convenceu a estar ali no game. Digo isso por estar até ansioso para me aventurar neste jogo, imagino quem nem isso estava como se sentirá.
Cuidado com Soundfall
Para começar, se você jogou Soundfall no Nintendo Switch vai se deparar com um grande problema logo de cara: no modo portátil tudo funciona ali de forma minúscula. A única coisa que dá para ler sem forçar a vista são os diálogos entre os personagens entre uma fase e outra e pronto. Armas, descrições ou qualquer outra coisa que exige uma leitura básica vão te dar trabalho neste sentido. Opte por jogá-lo na televisão para evitar desgaste.
Aí tenho certeza de que alguém virá aqui nos comentários para falar “ué, só não ler”. Dá para fazer isso, concordo plenamente. Não é um daqueles games que exigem um alto nível de compreensão para você avançar. A questão é que inclusive as fases e seus inimigos que aparecem no mapa são pequenos. Algumas vezes não dá nem para vê-los adequadamente quando uso meu Switch no modo de mão. Alguém poderia ter pensado em quem tem apenas o Lite como opção. Eu me safo, mas e os demais?
Certo, vamos pular para a parte que eu superei esta adversidade e estou jogando em uma tela adequada para ele. Apesar das músicas te envolverem e a aventura até ser gostosa, o level design não ajuda em nada. Não que as fases sejam feias, longe disso. Porém, elas não combinam com a mecânica que o título apresenta. Quando você finaliza uma missão, são mostrados diversos rankings e o que precisa fazer para atingir eles.
O primeiro é básico: finalize a fase antes do som entrar em loop. Dá para fazer isso numa boa em Soundfall, inclusive é algo que consegui resolver sem maiores dores de cabeça. Porém, vi problemas que em todo o cenário há ramificações para você explorar e descobrir segredos e ouso dizer que é impossível realizar algo tranquilamente com o timer lutando contra você. Pego um item bom ou consigo um ranking maior que me dará mais experiência? Ele me força a escolher apenas um deles e teria de repetir a fase para conquistar o outro.
A princípio, era até meu plano fazer duas vezes cada cenário e pegar tudo. Só que ele atinge lá na frente o pior dos problemas: repetições excessivas. Da primeira fase até a última, do oponente mais fraquinho até o chefão final, você fará exatamente a mesma coisa. Muda as armas e equipamento. Raramente você terá de mudar sua estratégia para se adequar ao que rola com determinadas hordas que surgem. Porém, vamos ser sinceros? Não há profundidade alguma na mecânica. E também não creio que haja desculpa para se esconder no elemento “indie”. Cris Tales, Hades, Hollow Knight e diversos outros estão aí de prova.
Há coisas boas nele
Após este longo desabafo, eu contra-indicaria o jogo? Também não. Há espaço nele para se divertir e posso afirmar que, por mais que meu foco tenha se voltado aos seus problemas, não é nenhum daqueles títulos que diria para descartar e fazer outra coisa. Dá para enxergar as coisas boas e curtir do início ao fim também. Inclusive o fator replay, se você pular o desgaste, é um grande chamariz para completar os desafios no menor tempo possível e com armas melhores.
E podem falar o que for de Soundfall, mas da música eu defenderei com todas as forças. A pessoa que fez a seleção dos sons está de parabéns, no mínimo umas 5 ficaram na minha cabeça por dias e movimentar e agir conforme o ritmo delas ajuda a embalar ainda mais. Este tipo de sincronia é muito difícil de se encontrar no mundo dos jogos e pelo visto a galera da Drastic Games se comprometeu a entregar de forma impecável o que mais chamará o público.
As animações entre as fases também são muito bacanas, com algumas eu reservando para se tornarem inclusive um papel de parede em meu PC. E ainda que elas cativem, os diálogos entre os personagens são completamente sem sal e genéricos, o que me tirou um pouco de ter uma experiência mais positiva conforme avançava. Nem digo a história em si, mas a interação que é tão necessária para motivar os jogadores a acompanharem o crescimento deles.
De qualquer forma, dá para aproveitar alguns fatores e ser embalado pela busca da batida perfeita. Eu julgo desagradável diversos fatores que observei durante a análise, que tornaram a experiência em algo bem mais chato do que esperava encontrar. Sempre começo com a expectativa zerada por temer ser desapontado e, ainda assim, saí mais negativo do que compreendendo a situação por completo.
Porém, por tudo que ouvi de outras pessoas que conseguiram se divertir em Soundfall e pular estes detalhes, recomendo caso esteja muito curioso e se não vê a hora de botar suas mãos nele. Há espaço para todos os tipos de gostos e o seu pode estar incluso naquele que curtiu ainda assim. Se já estava na dúvida, só espero que não esteja carregando um Nintendo Switch Lite na sua mão.