O gênero soulslike está na moda há algum tempo e Elden Ring reviveu a compulsão dos gamers por jogos exageradamente punitivos, então podemos dizer que o indie da vez foi lançado em um momento muito propício. Souldiers, primeiro jogo do estúdio estreante Retro Forge, vem chamando atenção há algum tempo pelo seu pixel art soberbo, que remete muito à era de ouro dos jogos 16-bit. Ele também bebe da fonte da série Souls, porém é mais um daqueles jogos que muitos costumam classificar como “metroidsouls”, uma mistura de metroidvania com soulslike.
Quem já está familiarizado com jogos como Hollow Knight e Salt and Sanctuary vai se sentir em casa, pois é exatamente disso que Souldiers se trata. Você assume o papel de um guerreiro em um mundo de fantasia épica e deve explorar um vasto mapa repleto de locais secretos e caminhos alternativos a serem descobertos; ao mesmo tempo, vai ter que lidar com uma série de criaturas que não vão poupar esforços em fazer pedacinho de você, sempre naquele esquema de “bate e esquiva”.
Explorando Terragaya
Em Souldiers, somos apresentados ao reino de Zarga, que está prestes a entrar em uma grande guerra. O general Brigard, um dos principais nomes do exército Zarguiano, foi enviado com suas tropas para um local isolado que misteriosamente é atingido por um terremoto, prendendo todos os soldados em uma caverna. Para sua sorte, uma valquíria aparece no local, oferecendo salvação para aqueles que adentrarem o mundo de Terragaya e as ajudarem a recuperar o controle do local. Sem muita alternativa, nosso personagem decide seguir seu comandante portal mágico adentro, prestes a enfrentar perigos inimagináveis.
Aqui não controlamos nenhum personagem relevante para o enredo, mas sim um soldado comum do esquadrão de Brigard. Ele pode ser um guerreiro, arqueiro ou mago, seguindo os atributos e habilidades básicas que cada classe costuma ter em todo RPG. Cada um possui sua própria árvore de skills, vantagens e desvantagens – mas seguindo a lógica de todo soulslike, quem quiser uma aventura levemente mais tranquila deve escolher mago. Já aqueles que querem sofrer mais podem ir de guerreiro sem pensar duas vezes.
O que chama atenção logo de cara são os gráficos, que assim como os trailers já deixavam evidente, são lindos, ricos em detalhes e muito charmosos. Me senti jogando MapleStory pela primeira vez, e tudo bem que o estilo de arte é diferente, mas para mim é uma das maiores referências modernas quando o assunto é pixel art impecável – então não é pouca coisa. As animações dos personagens e dos inimigos poderiam ser mais fluidas, mas ainda assim estão dentro de um padrão aceitável, então visualmente falando, Souldiers é incrível!
Já como jogo, a fórmula é a mesma de qualquer metroidvania. O mapa se divide em uma diversidade de caminhos e vai da vontade e capacidade de cada um ver aonde aquilo vai dar. Muitas vezes você pode encontrar uma área totalmente nova ou apenas um tesouro mixuruca, mas o que vale mesmo é a exploração. Nem tudo estará disponível logo de cara e muitas vezes precisaremos revisitar alguns mapas para abrir trajetos que antes eram inacessíveis, mas essa é a graça do gênero, não é mesmo?
Existe uma diversidade interessante de mapas e ambientes a serem explorados, cada um com seu próprio leque de inimigos. O único problema aqui é que o jogo recebe um foco tão grande em exploração que acaba se esquecendo da história, então no começo a gente até pensa que o enredo é algo importante, só que depois você provavelmente vai se esquecer de tudo. Os poucos personagens que vão aparecendo acabam não recebendo tantos holofotes quanto se espera, então no fim Souldiers tem uma história com potencial, mas que acabou se perdendo no meio do caminho.
O novo Highlander
Terragaya é um mundo que fica entre a vida e a morte, então nós não estamos mortos, mas também não quer dizer que estamos totalmente vivos. Por esse motivo, nosso personagem nunca morre de verdade e sempre volta para lutar mais um dia – não que sua jornada será mais fácil por isso. Assim como suas inspirações, Souldiers é bem difícil e faz jus ao gênero de “metroidsouls”.
O combate em si é baseado somente em saber o momento certo de bater e esquivar, mas cada mapa traz um tipo de desafio diferente. Os inimigos não se intimidam nem um pouco quando estão levando porrada, então não dá para ficar batendo e esperar que eles fiquem “presos” dentro de um combo, de alguma forma. Você precisa estar ciente que eles sempre vão revidar e deve aprender a esquivar e defender no momento certo, mas não pense que o desafio aqui é justo. É possível ser atingido por alguns status negativos que são bastante desleais, pois nos tira a chance de se defender e permite que os inimigos continuem causando dano sem dar oportunidade de escapar. É bem frustrante, mas faz parte da experiência.
Quem tiver paciência de farmar provavelmente terá uma jornada bem mais tranquila, já que alguns ataques especiais que desbloqueamos posteriormente fazem muita diferença no combate. No geral, é difícil sim, mas também existe um bom balanceamento e até a possibilidade de escolher a dificuldade que quer jogar, então quem não curte muito essa rotina de morrer o tempo inteiro pode jogar no Fácil sem medo de ser feliz.
Porém, jogar Souldiers no Switch está mais difícil do que o jogo em si. A otimização está bem problemática, com loadings super demorados e travamentos constantes. Alguns carregamentos podem demorar mais de 1 minuto, o que é um completo absurdo. As travadas se farão presentes em momentos variados, mas sempre que você for salvar o jogo em alguma estátua, pode se preparar porque vai engasgar. A experiência no console da Nintendo está bem frustrante e, segundo os desenvolvedores, eles já estão trabalhando em melhorias, mas até o momento que este review está sendo postado, não está legal.
Souldiers não entrega muito além do que sua mistura de gêneros propõe, mas ainda é um bom jogo. Não é tão marcante quanto um Hollow Knight da vida, se destacando somente nos gráficos, e os problemas de performance podem ser um grande problema neste momento. Contudo, conforme alguns patches forem sendo lançados, certamente é um título recomendável que vai agradar a gregos e troianos.