Hee ho! Ter a oportunidade de jogar Soul Hackers 2 com certeza foi bem empolgante, principalmente para quem acabou de vir de Persona 5 Royal e Shin Megami Tensei V. Se o futuro da franquia Devil Summoner estava sendo escrito, este com certeza é um dos momentos mais importantes para se acompanhar a série.
Com o lançamento chegando como um trem-bala pelas mãos da Atlus, tivemos uma chuva de conteúdo nos últimos anos e espero que isso não pare tão cedo. Porém, também expõe uma das fraquezas do estúdio que é de acompanhar a evolução da tecnologia em seu geral. SMT 5, por exemplo, não faz uso de nenhuma das funções exclusivas que o Switch tem a oferecer. SH 2 segue pelo mesmo caminho.
Ainda que tenha chegado também para o PlayStation 4 e Xbox One, ele bem que podia se favorecer da tecnologia que o PS5 e Xbox Series oferecem, mas em questão de performance não traz nada de inédito. O que isso tudo tem a ver? O óbvio: não adianta nada prender histórias boas em experiências monótonas.
Desequilíbrio em Soul Hackers 2
Nas primeiras horas de Soul Hackers 2, uma imagem mental já se estabeleceu e não foi retirada de forma alguma enquanto explorava a aventura. Em um resumo simples, senti como se estivesse jogando um Persona 5 para adultos. Não que isso seja ruim, já que a trilha-sonora e o estilo ajudam muito e foram um dos principais fatores que me fizeram passar mais de 120 horas na aventura dos Phantom Thieves.
Porém, as coisas não se encaixam devidamente no quesito “clima”. Sabe aquele sentimento de que há algo errado qual não consegue visualizar precisamente? Isso vai te perseguir pela jornada, independente se jogou os títulos anteriores da Atlus ou não. Se por um lado as músicas empolgantes e os monstros coloridos chamam a sua atenção e levantam o ânimo, a depressão da vida e o peso da trama vão te derrubar.
O resultado disso é um desequilíbrio bem incômodo para os jogadores. Não me entenda errado, o game NÃO é ruim. Passa um pouco distante disso, sendo bem sincero com vocês. Acredito que o único problema é terem apressado as produções para saírem em um curto período sem darem uma atenção profunda que cativou os fãs por todo o mundo ao longo das eras. Em tecnologia e clima, as coisas não se encaixam tão bem e você sente que está consumindo uma obra “vazia”.
Como eu disse, Soul Hackers 2 tem uma proposta interessante e chamará a atenção de parte do público. O sistema de RPG é bem-executado, com uma progressão estável e que acaba até com algumas falhas que vimos nos títulos mais atuais da desenvolvedora. Se tem algo que eles se provam ali é no amadurecimento de sua fórmula, que está ainda mais dinâmica que já foi vista antes.
Mesmo que tenhamos combates em turnos, isso se volta a favor deles e permite que o seu seleto público receba um material de alta classe. Eu mesmo me surpreendi com a evolução que eles tiveram e, apesar de não ter apreciado muito tudo quanto especifiquei acima, a vontade de continuar jogando e vendo onde tudo ia levar se manteve.
A trama é consistente e séria
Para ser parte da linha Devil Summoner, uma história mais sombria é basicamente uma exigência e o lançamento não foge disso. Nele acompanhamos a trama de Ringo e Figue, duas inteligências artificiais criadas para impedir o apocalipse. Para isso, elas tem de salvar a vida de duas pessoas: um cientista e um membro do grupo Yatagarasu. Porém, ambas chegam tarde demais e ambos estão mortos.
Enquanto Figue apenas aceita o destino e segue em frente na missão, Ringo não lida tão bem assim com a situação e pratica a técnica proibida de ressurreição em Arrow. Aí que entra o motor do enredo de Soul Hackers 2, quando compreendem que o personagem realmente é um dos elementos mais importantes e que moverá a aventura para frente. Não é à toa que, antes mesmo da abertura, vemos um prólogo dele em sua casa quando abrimos o jogo.
A partir disso, outros personagens começam a surgir e tudo se desenrola para o embate entre o grupo principal e o Iron Mask, um ser que está atrás das lendárias Covenant. São cinco espalhadas pelo Japão e, conquistando todas, ele poderá recriar o mundo à sua vontade. De acordo com o que Ringo e Figue viram, isso de fato irá acontecer caso elas não impeçam as suas ações.
Vamos voltar a bater o martelo da discórdia aqui: por mais que os heróis sejam bons, a pressa de mostrar todo o grupo reunido e em ação atropela bastante do envolvimento entre os jogadores e eles. Colocando Persona 5 em comparação aqui novamente, nele houve um momento para cada um ter seu destaque e importância na trama. Isso impacta bastante enquanto você joga. Já no novo game, em questão de 2/3h no máximo já temos a equipe formada e eu não poderia me importar menos com cada um deles. Só Arrow tem o carisma para conquistar o público e os outros que lutem para te ganharem.
Para saber mais de cada um, você terá de explorar um ambiente chamado Axis que é opcional e completamente genérico. Quem jogou Digimon Story Cybersleuth vai bater o olho e se lembrar perfeitamente do que é percorrer corredores azuis com cubos por todo o lado para dar aquele ar digital da coisa toda. O level design de Soul Hackers 2 não entrega tudo e confesso que só de retornar para lá o meu olho já virava. É ótimo para farmar e capturar novos demônios, de resto? Não vale a pena, sendo bem sincero.
Decisões que incomodam os fãs
Outros recursos, antes importantes para a franquia, também são deixados de lado e isso acaba incomodando bastante. Sabe a opção de negociar com os monstros que aparecem em sua frente para convidá-los a entrar em sua equipe e ampliar ainda mais o seu poder de fogo no meio dos combates? Aqui ela não existe. Se eu tiver sorte, encontro um deles no meio dos mapas que esteja disposto a conversar para essa discussão ocorrer. Nem mesmo as fusões ajudam tanto neste quesito.
O mapa também é um ponto bem chato. Você não tem um botão para que ele apareça por completo e ajude você a se guiar. Ele funciona por 100% do tempo em cima da tela e do que estiver lá presente. Ou isso ou você não enxerga nada dele de forma alguma, simples assim. Imagina ter de ficar analisando e vendo a melhor rota enquanto o medo de vir algum demônio em sua direção de forma repentina surge? Um saco.
Sei que dá para perceber que não tive a melhor experiência do universo com Soul Hackers 2, porém nem só de recursos questionáveis que se formou o meu texto. Gostei bastante das músicas mudarem conforme eu iria mudando de skin, por exemplo. Assim como eu adorei os upgrades que são realizados através das armas e dos itens que encontro nos cenários. Isso ajudou bastante a dar um fator replay que sinto faltar nos demais games da franquia.
Além disso, eu realmente gostei da forma como a história geral progride. Sei que já falei sobre ali em cima, porém ver como os pontos vão se unindo, não apenas no geral como o envolvimento de outras vertentes, empolgam demais. O sobrenome “Kuzonoha” manda um abraço para aqueles que compreendem o seu significado.
O que eu levo disso tudo: às vezes não vale a pena prender um enredo tão bem focado e interessante em um conjunto que não o valoriza. Enquanto eu jogava, tudo o que imaginava é que precisava apenas ver o próximo passo e para onde tudo aquilo iria, ignorando todos os demais fatores ou os considerando apenas em prol deste progresso. O Axis é um destes exemplos, só entrei lá para farmar e ver se achava itens bons para encarar os vilões principais com mais pompa.
No final das contas, quem é fã de tudo que a série Devil Summoner trouxe até aqui vai encontrar formas de curtir o que Soul Hackers 2 tem a oferecer. Mesmo com os problemas. Se você quer iniciar a sua aventura diretamente neste capítulo, não recomendo tanto assim. Será mais simples seguir para Persona 5 que acabará agradando mais. Pelo menos essa foi a impressão que carreguei, levando em consideração todos os pontos favoráveis.