Desenvolvida pela CI Games através da Cry Engine, a série Sniper Ghost Warrior tem acumulado uma sequência de títulos que se propõem a cumprir premissas bacanas, mas ficam aquém por problemas técnicos e de design. A última tentativa da CI com sua franquia envolveu o uso de mundo aberto em Sniper Ghost Warrior 3, onde as telas de carregamento longuíssimas e frequência inconstante da taxa de quadros se somavam ao design pouco inspirado para criar uma experiência decepcionante.
Com a ideia de voltar às raízes e também introduzir um elemento de arcade ao jogo, a dev agora lança Sniper Ghost Warrior Contracts, que segue um formato semelhante ao dos títulos mais recentes da série Hitman, numa seleção enxuta de fases orquestradas para o incentivo de replays por pontuações maiores e exploração de novas possibilidades. O pacote, apesar de mais eficiente que o anterior no que propõe, é limitado no entanto por alguns problemas técnicos familiares e algumas escolhas de design duvidosas.
Atire sem perguntar
Uma trama básica amarra as cinco missões (sem contar o tutorial) espalhadas pelo território montanhoso da Sibéria, colocando o jogador na posição de um misterioso assassino conhecido como Caçador a mando de uma organização igualmente misteriosa, que lhe designa contratos que vão desde roubar dados até despachar figuras políticas importantes. Nada de elaborado, e nem precisava ser, mas há uma falta de uma melhor construção de mundo para fazer a empolgação fluir – tudo se limita às cutscenes durante os longos carregamentos de início de jogo.
Felizmente, a experiência com Sniper Ghost Warrior Contracts se mantém direta e focada, passando uma lista de objetivos ao jogador que, no controle do Caçador, conta com recursos úteis como uma máscara de Visão Aumentada, um traje resistente a danos que permite ainda o uso de plataformas para exploração dos cenários e, é claro, um arsenal customizável. Apesar de problemas iniciais com a interface e funcionamento inconstante do mapa da área, que hora sim, hora não deixa o jogador identificar qual o objetivo presente em cada marcação, dá para entender tudo rapidamente.
Assim que o jogador completa seu primeiro contrato e adquire pontos de desempenho, os grandes problemas do game começam a surgir. Ao se dirigir a um ponto de extração para resgatar seu progresso e ganhar dinheiro e fichas para gastar em melhorias, há a opção de continuar na fase ou sair para o menu. No menu, é possível usar estes pontos para comprar upgrades para os equipamentos do Caçador, além de novas armas e peças customizáveis, porém há um detalhe: para que as mudanças façam efeito na jogatina, o jogador terá que selecionar o mesmo contrato novamente do início.
Sim, upgrades e modificações de armas não podem ser realizados durante fases, embora o jogo dê a opção de voltar aos menus. Ou seja, a ideia é jogar esses longos níveis de cabo a rabo acumulando pontos e rezando para que não precise de nenhum equipamento mais avançado para completar todos seus contratos, o que torna o sistema de progressão muito menos ideal ou satisfatório. Pelo menos, as melhorias disponíveis fazem grandes diferenças assim que implementadas, o que alivia um pouco essa dor de cabeça.
Falando em dor de cabeça, vamos à questão dos checkpoints. Ao invés de um sistema funcional de saves manuais, Sniper Ghost Warrior Contracts segue o mesmo modelo ultrapassado de checkpoints ativados automaticamente, sem um critério certo. Em um shooter linear, como é o caso de Call of Duty, é um modelo que ainda serve, porém dentro da proposta de tentativa e erro em áreas mais amplas de Contracts, é um obstáculo gigante no caminho do aproveitamento do jogo, deixando o jogador mais inquieto pela falta de confiança nos saves do que pela tentativa de escapar à visão dos inimigos.
Isso também mina o trabalho de level design feito pela CI Games, que é bastante competente em criar uma variedade de caminhos distintos e atalhos dentro de cada um dos cinco mapas principais de Sniper Ghost Warrior Contracts. A presença de áreas com platforming, outras com campos minados e algumas que contam com edifícios e estruturas complexas agrega a uma boa variedade, que por outro lado nunca perde sua consistência também. É uma pena que a exploração destes mapas fique menos agradável com a falta dos saves manuais, desencorajando a experimentação.
Visão comprometida
Acrescentando ao campo dos problemas, está também o desempenho técnico e gráfico de Sniper Ghost Warrior Contracts, que como quase todo título construído na Cry Engine, apresenta severas limitações nos consoles – e olha que testei o jogo em um PS4 Pro. Enquanto Ghost Warrior 3 limitava a taxa de quadros a 30fps mas falhava em produzir um tempo de frames constante, com uns mais curtos que outros, aqui a meta é atingir os 60fps, algo que cogitava ser possível com o descarte da estrutura de mundo aberto. Mas eu estava errado, e apesar de Contracts não ser insuportável, a taxa varia demais e torna o jogo visualmente cansativo.
A performance inconstante ainda agrava a input lag dos controles, com um tempo de resposta mais elevado que o ideal para um game baseado em precisão de disparos. Assim como o aspecto visual, não chega a ser algo impossível de suportar, mas cria uma sensação de lentidão e dureza que desestimula uma jogatina mais estendida, remetendo a outros títulos desenvolvidos na Cry Engine – as versões para consoles de Homefront: The Revolution e a franquia Crysis eram vagarosas se comparadas aos lançamentos no PC. Talvez uma redução nos efeitos de pós-processamento ajude.
Além disso, encontrei um ou outro ponto baixo no departamento de som, como um bug pontual que fazia o áudio do jogo estourar momentaneamente. Ao menos, o uso da mixagem binaural foi bem empregado aqui, permitindo a identificação de ameaças pelo cenário quando jogado com fones, e o uso do speaker do controle quando jogado pelos altos-falantes da TV dá às instruções do Contratante um ar high-tech bastante estiloso. A trilha sonora musical é igualmente agradável, discreta mas consistente com seus toques futuristas e sintéticos.
Sniper Ghost Warrior Contracts está bem perto de ser um jogo decente, mas perde esta janela por conta de suas falhas de desempenho e design, podendo ser uma boa pedida aos jogadores com PCs bem equipados – embora também não haja confirmação até este momento da performance nos computadores. A proposta de “arcadizar” a franquia Sniper Ghost Warrior é interessante e incentiva um fator de replay, só que será necessário amarrar melhor o pacote para cumprir tal demanda e agradar todas as bases de jogadores interessados no título.