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Quase 7 anos se passaram e Senua finalmente retorna nesta aguardada sequência de Hellblade: Senua’s Sacrifice, game da Ninja Theory que marcou a geração anterior com seu visual, combate cinematográfico e por explorar através do áudio, de forma sensorial, os transtornos de uma protagonista que sofre de psicose. Se você ainda não jogou, saiba que vale muito a pena conferir o início de tudo antes de seguir com Senua’s Saga: Hellblade 2.

Na trama, Senua mantém a promessa feita ao amado e falecido Dillion, mesmo diante da escravidão de seu povo pelos nórdicos. Sem demonstrar resistência, Senua permite ser capturada e levada em um barco em alto mar, para discretamente seguir até a fonte dos problemas. Este é seu plano para impedir os escravagistas e suas oferendas, mas uma tempestade muda o rumo dos eventos.

Senua’s Saga: Hellblade 2

Após sobreviver ao naufrágio, debaixo de chuva pesada e cambaleando por rochas, Senua logo se vê em contato com a mesma sombra que a atormentava no game anterior. A figura misteriosa é nada mais, nada menos que o lado escuro de sua mente, a incentivando a desistir de sua jornada e descarregando nela toda a culpa pelas tragédias ocorridas ao seu redor. Essa dinâmica se estende por todo o jogo com o locutor narrando a história e as vozes atormentando a mente da guerreira celta, com pensamentos negativos e positivos coexistindo. Aliás, este é um jogo para jogar com fone de ouvido, para ter experiência completa e mais imersiva.

Hellblade 2 e sua jornada contemplativa

O estilo cinematográfico de Senua’s Saga: Hellblade 2, com tarjas pretas e sem qualquer informação na tela, segue o padrão de antes. Quanto ao gameplay, também: você anda, corre, interage com objetos, e usa o foco para alinhar rastros de tinta amarela espalhadas pelos cenários para formar símbolos através de um determinado ângulo, como parte dos quebra-cabeças. Neste quesito, a novidade está nas áreas em que é necessário ativar orbes com o foco para transformar o cenário, abrindo passagens antes bloqueadas e encontrar esferas para colocá-las em um altar. Na prática, é a mesma mecânica dos símbolos, só que replicado de outra maneira.

Senua’s Saga: Hellblade II

Em meu review do game anterior, eu reclamei exatamente destes momentos de quebra-cabeça, que propositalmente seguram o jogador para a campanha durar mais, sem acrescentar nada de especial à história. E isso se repete em momentos em que você precisa passar por áreas estreitas ou à beira de penhascos. Truque para carregar o cenário, talvez? Mas o que mais me irritou em Senua’s Saga: Hellblade 2 foram os momentos de locução de eventos passados com Senua andando lentamente pelo cenário, impedida de correr. Okay, eu entendo que esta é uma jornada contemplativa, totalmente orientada à história, mas estes momentos em excesso cortam (de novo) o ritmo do jogo. E a falação na cabeça da Senua (e na sua, consequentemente), que também entendo ser proposital e interessante no primeiro game, aqui cansa rapidinho.

No combate, também não houve mudança: você desfere ataque leve ou pesado, se esquisa, defende, usa parry, e dispõe de um espelho que, ao carregar seu brilho, permite ativar um efeito de câmera lenta para atacar o adversário em uma sequência rápida de golpes e finalizá-lo. Tudo igual, exceto que agora o combate é somente 1×1, eliminando a possibilidade de enfrentar mais de um inimigo ao mesmo tempo. Não entendi o motivo, mas por outro lado capricharam nas animações feitas com captura de movimento, super realistas e viscerais. Não há nada igual no mercado, tamanha a qualidade das sequências animadas.

Senua’s Saga: Hellblade II

Escolhas e consequências

Pelo menos posso afirmar que a história é melhor, mais intrigante e com três companhias para Senua – ao invés da jornada solitária de outrora. A troca de diálogos entre Senua e estes outros personagens cria uma boa dinâmica para a história e reforça que, mesmo neste universo viking tomado pela violência, não há certo e errado, mas sim escolhas e consequências. Senua trilha o mesmo caminho de todos, da auto-descoberta e superação, lutando contra seus próprios demônios para moldar seu caráter ao final da campanha de Senua’s Saga: Hellblade 2.

Parte da lore você encontra em uma nova mecânica que consiste em achar rochas com formato de rosto humano que, ao focar, revela uma passagem secreta para uma árvore. Ao focar na árvore, é disparado uma nova locução e um ponto escupildo no tronco é preenchido para dar uma ideia de progressão ao jogador. Quanto mais perto estiver do trajeto final do espiral, mais perto você estará da conclusão do game. E há também totens escondidos para achar e marcar símbolos. Ambas as mecânicas fazem parte da exploração, ainda que limitada, e são opcionais.

Senua’s Saga: Hellblade 2 é bastante linear e, diferente do game anterior, troca parte das batalhas contra chefões por sequências interativas contra gigantes. Faz sentido para a história, claro, mas na prática não entrega o mesmo clímax ao enfrentar Valravn e Garm, por exemplo. Para não ser injusto tem um chefão excelente no começo e outro bem fraco ao final. Fraco no nível de substituir a icônica luta de Kratos vs Thor em God of War Ragnarok pelo patético “combate” contra Icarus em God of War 2. Felizmente, todos os duelos contra os nórdicos e os Draugr são incríveis e divertidos.

Senua’s Saga: Hellblade II

Não basta ser bonito

Senua’s Saga: Hellblade 2 é belíssimo, tanto nos cenários quanto nas atuações com captura de movimento. A Ninja Theory fez um trabalho primoroso com a Unreal Engine, utilizando todos os recursos atuais da engine. E por incrível que pareça é um jogo muito bem otimizado e que rodará tranquilamente em PCs menos potentes, especialmente se fizer uso do DLSS da NVIDIA. Com uma placa de vídeo GeForce RTX 3070 Ti e processador AMD Ryzen 7 5700X, consegui rodar com os gráficos no “Alto”, em 1440p, entre 60 e 70 FPS numa boa, raramente caindo abaixo disso.

Ainda sobre as atuações, a atriz Melina Juergens reprisa o papel de Senua com maestria, manifestando seus transtornos, medos e inseguranças com expressões faciais e reações corporais ainda mais convincentes. Já os outros personagens se movimentam de forma mais básica, apenas com rostos altamente detalhados – o que, de forma algum, tira o brilho das atuações dos outros atores. É só uma pena que, de modo geral, os desenvolvedores tenham dado mais atenção aos gráficos e à história do que para inovações no gameplay, para empolgar mais o jogador. Ou seja, faltou equilíbrio, pois terminei a aventura em 6 horas bastante esgotado e de saco cheio. É muita andança, puzzles fracos e falação na sua cabeça!

70 %


Prós:

🔺 Visual incrível, que utiliza a Unreal Engine em seu ápice
🔺 Combates cinematográficos e impactantes
🔺 História mais interessante que no primeiro game

Contras:

🔻 Puzzles chatos, sem criatividade
🔻 Progressão lenta e linear demais
🔻 Gameplay sem novidades
🔻 Muito fácil

Ficha Técnica:

Lançamento: 21/05/2024
Desenvolvedora: Ninja Theory
Distribuidora: Xbox Game Studios
Plataformas: PC, Xbox Series
Testado no: PC