O trabalho da G.Rev está de volta em uma nova roupagem, dando continuidade ao legado dos famosos jogos de navinha. Talvez não como conhecemos, com progressão vertical ou horizontal, mas criando batalhas frenéticas entre Mecas e resgatando suas principais influências vindas de Gundam e Macross. O estilo mais tradicional de contar história e a reunião de referências, tanto dos animês quanto de outros games, fazem de Senko no Ronde 2 um revival merecido para um jogo que infelizmente fracassou no passado e foi esquecido pelo ocidente.
Longe de ser um jogo perfeito, mas com ótimas características para quem é fã de ficção científica, robôs gigantes e guerras estelares, a Kadokawa Games sabe que fora do Japão também existe um público fiel para sustentar esse lançamento. Mesmo que mais de uma década atrasado, a história dessas máquinas de guerra e a vida dos seus pilotos pode agradar por oferecer peso narrativo para um jogo de luta.
Guerra nas Estrelas
Num futuro distante, mas não em uma galáxia diferente da nossa, os seres humanos foram obrigados a abandonar a Terra após a catástrofe conhecida como o Grande Desastre, para evitarem a extinção de sua raça. Uma nova era começou em céus inexplorados, com direito a um novo calendário espacial, conhecido como S.D. O tempo passou e o ano agora é 1484 S.D., em que as colônias orbitam a Lua e Marte e os seres humanos encontraram uma maneira de sobreviver na imensidão do espaço até então inexplorado. Após o Secret Weapon Heist, um conjunto de ataques terroristas relacionados com roubos de armas, um alerta foi emitido com a descoberta da existência do Mega Photon Cannon, uma poderosa arma que viola o Direito Internacional Espacial, dando à Federação uma grave condenação. Com isso temos o início de uma crise separatista, fundamentada com o vácuo de poder e influência sofrido, e em meio aos problemas recentes surge Luchino Narukami como esperança de uma nova era para Arria. O que ninguém esperava é o seu suposto envolvimento com um conflito armado em Harmonia, a colônia em Marte, colocando o jovem membro da família Narukami no meio dos ataques e sendo apontado como responsável pela violência.
É com esse background que conhecemos alguns dos primeiros personagens disponíveis durante os modos de jogo, tendo foco e destaque em Lev LeFanu, um jovem recruta das Forças Voluntárias de Harmonia. Acompanhado do que pode parecer o personagem principal temos Henri Xia Xiaotien, irmão gêmeo de Katie Xia Xuejuan, além de Mieze, Ursure e Giles. Esses são os responsáveis por desenvolverem uma das principais árvores da história, que se desenrola como se fossem vários fluxogramas independentes e que tem suas etapas alternadas entre trechos de visual novel e o combate em arena ao melhor estilo 1×1.
Essa escolha no gênero para a construção narrativa, de não usar animações para optar por sequências estáticas, com muito texto e dependente do visual ao melhor estilo animê, pode não agradar a maioria por conta da lentidão e ritmo mais cadenciado. Tudo bem que a cada sequência mais longa, sem termos a opção de pular os diálogos, você terá uma batalha com os robôs gigantes de Senko no Ronde.
Os personagens das Forças Voluntárias e as Forças Especiais de Arria são alguns dos personagens que você controlará durante as batalhas. Sempre em dupla, você controlará os pilotos de Rounders, como os robôs são chamados, e contará com os parceiros de luta para executar os golpes especiais e até mesmo liberar seu modo B.O.S.S, o ataque especial num mix de ultimate com golpes especiais. E se já tivemos uma visual novel, o jogo surpreende ao misturar o sistema de arenas com Shoot ‘Em Up e Bullet Hell, em que os ataques corporais são apenas uma opção dentre a chuva de tiros que inundam a tela. Seja pelas barreiras que destroem os ataques em diversos projéteis ou munição disparada para todos os lados, toda a confusão visual em tela será um teste para os jogadores conseguirem interpretar para onde precisam escapar e qual a melhor maneira de fazer isso: usando dash, barreira de energia, contra-ataque ou até mesmo ativando a nova forma do seu Rounder e atacando insanamente com o seu especial. Você terá pelo menos 10 modos de ataque e defesa para tentar eliminar a barra de energia do inimigo.
Falta graxa nas engrenagens
Se o jogo já é difícil pela mistura maluca de gêneros em uma única arena, a jogabilidade também não colabora para facilitar e otimizar a experiência positiva para o jogador. Não pense que essas arenas são gigantescas, como em Dragon Ball Xenoverse, pois você terá um pequeno quadrado com vista que não é nem aérea e nem em perspectiva, mas quase como as famosas câmeras de jogos de futebol, para tentar se esquivar dos ataques e sobreviver à maluquice impossível de ser vencida dependendo da quantidade de ataques sequenciais sofridos. Como herança da época em que Senko no Ronde era apenas um arcade, esse remaster, se é que podemos interpretar esse lançamento dessa forma, infelizmente a franquia não aprendeu com o título lançado para XBox 360 e repete os mesmos problemas do passado. A movimentação é truncada, sem fluidez, e é difícil saber exatamente onde um ataque vai atingir ou até mesmo mirar o seu próprio especial, isso quando não for uma chuva de tiros inundando a tela e contando com os erros de movimentação do adversário.
Senko no Ronde 2 lembra muito o antigo título de X Clamp, com batalhas aéreas e tridimensional, no entanto acaba explorando um estilo de jogo já conhecido da G.Rev, com Ikaruga, Kokuga e Wartech. Uma nova roupagem da mesma abordagem de gameplay com um shmup ingrato na questão estratégica, sem saber o momento certo de atacar ou um sistema fácil de defesa. Esses elementos negativos acabam ganhando força com o desenrolar da história e com a aparição de oponentes cada vez mais fortes ou que precisam de condições específicas para serem vencidos. Engraçado notar que essa dificuldade fica ainda maior quando deixamos de lado o modo história e testamos o modo arcade ou score attack, pois nem todos os personagens serão jogáveis durante a narrativa, mas com certeza você vai querer experimentar todos eles nos outros modos de jogo disponíveis. Vale lembrar que esse segundo título na verdade compila o primeiro e Senko no Ronde DUO, que saiu para XBox 360 num esforço da Microsoft em ganhar espaço no Japão, mas que foi muito mal recebido.
Falando em diversidade, você não só conta com alguns dos personagens jogáveis, como também conhecerá outros incríveis nomes que contribuem para a construção do universo e história. A G.Rev conseguiu dar profundidade para elementos e passagens da história que não necessariamente precisariam de tanta relevância, o mesmo distribuindo a importância entre diversos níveis de personagens: dos mais simples e secundários aos mais importantes. Com certeza você terá o suficiente de Lev, Jasper, Fabian, Theo, Ansel Mordered e até mesmo o misterioso Luca Werfel, sem contar a oportunidade de enfrentar quase todos os nomes que aparecem envolvidos na crise em Arria e Harmonia.
Imagine que pela imensa quantidade de personagens, nós temos também uma diversidade considerável de Rounders, cada um com seu estilo, cor, característica e forma de lutar. Robôs com ataques mais focado em corpo a corpo ou com movimentação mais lenta, com poder de fogo maior ou até mesmo com armas de longo alcance. De Gundam à Pacific Rim, com inspirações em samurais e robôs de Super Sentai, o catálogo de máquinas de combate se torna um diferencial atrativo para os fãs do gênero e talvez seja um motivo para esquecer a jogabilidade travada dos personagens ou até mesmo as sequências longas de diálogos.
Caixinha de surpresa
Não diria que o jogo reserva plot twists ou recursos narrativos criativos, pois a história é bem clichê, principalmente para os que acompanham animês. No entanto, as revelações envolvendo os personagens, à partir do desenvolvimento e crescimento de cada um, nos fazendo importar com um ou outro e o futuro reservado para eles, cria grande peso para o jogo. Aliado às sequências de animação dos robôs durante a luta e a execução do B.O.S.S., acaba nos levando para dentro dos antigos desenhos da década de 90, em que você vibrava a cada “transformação” para um inimigo ser derrotado.
Senko no Ronde 2 é mais um jogo japonês que, de início, pode jogar sua avaliação muito para baixo. Porém, com o devido tempo e exploração de todo o seu potencial, itens extras com conteúdo obtido durante o seu progresso e até mesmo o final da história (sem contar a jogatina no modo arcade e multiplayer online), você com certeza vai notar o valor deste jogo. Ele está longe de ser um dos destaques de 2017, mas merece uma nova chance após tanto tempo longe dos arcades. Mais do que recomendado aos fãs de uma boa história envolvendo Mecas.