Já que decidi cobrir os jogos da coleção Sega Ages no Nintendo Switch, começando por Out Run, por que não cobrir os lançamentos passados? Afinal, foi um descuido meu não ter corrido atrás destes jogos antes. Feito o pedido à Sega, fui prontamente atendido com Alex Kidd in Miracle World, Gain Ground, Virtua Racing e Wonder Boy – estes dois últimos lançados recentemente.
Alex Kidd mora no meu coração desde moleque, quando ganhei um Master System II (da Tectoy) com o game na memória. E nossa, como o jogo era difícil. Se eu terminei duas vezes, foi muito. Funcionando no famoso esquema de vidas, a aventura começa fácil e vai ficando cada vez mais injusta. Agora com as opções da emulação no Switch, incluindo um botão para rebobinar a ação em 5 segundos, tudo ficou mais fácil.
Enchendo a pança de onigiri (ou hamburguer)
Caso nunca tenha jogado Alex Kidd in Miracle World na vida, trata-se de um jogo de plataforma com fases side-scrolling as quais você conclui ao encontrar um onigiri, bolinho de arroz japonês em forma de triângulo. Isso na versão original, japonesa. No ocidente, o onigiri foi substituído por um hamburguer. Resumindo, Alex é um morto de fome atrás de comida, dando soco em tudo que vê pelo caminho.
A história conta que Alex é um estudante de Shellcore, uma antiga arte marcial que faz sua mão crescer e lhe confere força para destruir pedras com facilidade. Ele vive em Monte Eterno, no planeta Aries (o tal “mundo miraculoso” do título). Quando o Rei Thunder desaparece, o Príncipe Egle (sucessor ao trono) e sua noiva, a Princesa Lora, são raptados pelo usurpador Janken, o Grande. Pra piorar a situação, o vilão transforma a população em pedra. O Santo Nurari será seu guia nesta jornada, que trará detalhes sobre o passado do personagem.
A missão do nosso pequeno (porém cabeçudo) herói é salvar a população atravessando 17 fases e enfrentando os lacaios de Janken na base do Jankenpon (pedra, papel e tesoura). As escolhas dos chefes são pré-determinadas e dá pra memorizar tudo, mas se errar uma única vez todas as decisões seguintes serão diferentes. O papel de parede do Sega Ages não traz os símbolos à toa: é uma cola pra te ajudar a vencê-los. Aliás, você os enfrenta uma segunda vez, com direito à uma batalha contra suas cabeças. Fica mais difícil, claro, mas o real desafio mora no gameplay e nas fases finais.
Alex Kidd in Miracle World entrega uma jogabilidade imprecisa, às vezes injusta por conta do lag ou diferença mínima de pixels durante um pulo que pode custar sua vida. Por ironia, os controles funcionam melhor quando se está pilotando a motocicleta, a lancha ou o helicóptero. Pelo menos o game dá uma força com vidas extras e power-ups que podem ser comprados na lojinha. Eles concedem vantagens temporárias como invisibilidade, um anel que dispara ondas sônicas, uma cápsula mágica A que invoca o ataque de 8 mini Alex Kidd, uma cápsula mágica B que concede escudo e um cajado que permite flutuar pelo cenário.
Depois de pegar as manhas da jogabilidade, inclusive escorregando por debaixo de áreas estreitas, são as fases que passam a complicar sua vida. Se for jogar no modo Original, prepare-se para se frustrar. São poucas vidas e mesmo conseguindo algumas extras você vai perder tudo nas fases finais. Eu joguei no modo Ages com a opção de rebobinar ativada e ainda assim sofri pra terminar o game, principalmente em um trecho debaixo da água cercado por espinhos. Eu odiava (e continuo odiando) este trecho de fase, pois eu sempre morria todas as vidas ali. Um movimento errado, num espaço curto de pixels, e já era. Abusando da opção de rebobinar eu morri mais de 10 vezes, independentemente de ser um jogador muito mais habilidoso que o Vinícios de 6 anos.
Por fim, a última fase apresenta um puzzle em que Alex precisa pisar nos blocos na ordem certa ou sair correndo de um fantasma que aparece com o seu erro, tendo que sair e voltar à tela pra repetir tudo de novo. E a sequência é longa, com 10 figuras, dando trabalho pra memorizar. O game acaba com Alex conseguindo recuperar a coroa do rei.
O que mudou no Sega Ages
Se você curte nostalgia, pode jogar Alex Kidd in Miracle World em sua forma original de boas. Mas é inegável o quão legal ficou o modo Ages, disponível no menu como uma versão aprimorada do game. A M2 caprichou no port de Switch, trazendo conteúdo inédito como novas artes de tela (entre as fases) e a trilha sonora retrabalhada utilizando a add-on de som FM do console. Em outras palavras, as músicas são completamente novas e no mínimo incríveis.
O continue, que antigamente existia apenas através de um truque na tela de Game Over e custava dinheiro, agora é infinito. E pode usar a opção de rebobinar a vontade, apesar de cobrir apenas os últimos 5 segundos de jogatina. O duro é quando você precisa rebobinar menos, tipo uns 2 segundos, e o game volta bem mais, desfazendo movimentos perfeitos.
Outra novidade é o Challenge Mode, que oferece dois desafios contra o tempo: Petit-copter, uma fase pra terminar sem bater o helicóptero, e Castle Quest, em que você atravessa todo o castelo até derrotar o vilão Janken, este sem limite de vidas. Um desafio curto e outro longo, sem nada demais além do contador rolando solto. E como não poderia faltar, tem ranking com os recordes e replays dos jogadores. Eu assisti alguns e fiquei espantado com a habilidade do povo.
Sega Ages: Alex Kidd in Miracle World pode ser descrito como um onigiri (ou hamburguer) bem suculento. Se você já experimentou antes, vai querer outra vez. Jogar este clássico no Switch é prazeroso demais, embora dure bem pouco (1 hora se usar o recurso de rebobinar). O fato de ver o game rodando com pixel perfect em qualquer modo de exibição (obviamente sem os filtros de scanline e smoothing ativados), mesmo quando esticado para widescreen, é louvável e igualmente crocante.