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À primeira vista, Seasons After Fall pode parecer apenas mais um jogo indie de mecânicas simples com apelo artístico e pouco conteúdo, similar a tantos outros lançados durante o ano. Minha primeira impressão assistindo ao trailer do jogo foi um “Nossa, que cópia descarada de Ori and the Blind Forest”. No entanto, com pouco tempo de jogo é possível perceber que Seasons After Fall, tirando alguns pequenos deslizes, tem sua própria personalidade e consegue de forma eficiente um lugar ao sol.

Plantando a semente

Em Seasons After Fall você é uma semente em uma jornada de evolução e autoconhecimento em busca da liberdade. A narrativa traz uma metáfora sutil em relação à chegada da vida adulta: primeiro precisamos plantar a semente, vê-la crescer através das diferentes estações do ano para que ela atinja a maturidade e liberdade fora do solo. Essa jornada é intimidadora para todo jovem adulto e não é diferente para a nossa protagonista, uma jovem semente luminosa que toma controle do corpo de uma raposa para alcançar seus objetivos.

A sementinha de luz entra no corpo da raposa feito Pazuzu no corpo da Regan, em O Exorcista

O jogo é separado em três atos principais. No primeiro ato a jogadora deve agrupar os poderes de cada estação do ano que estão sendo vigiadas por quatro guardiões, com o objetivo de completar um determinado ritual de libertação. Já no segundo e terceiro ato, a jogadora deve navegar novamente por todos os cenários em busca da ajuda dos guardiões para tentar entender e resolver a reviravolta apresentada no final do primeiro ato. Embora a narrativa seja linear e no geral bem simples, o jogo escorrega em determinados pontos na forma como ele edita a sequência de eventos, deixando a jogadora um pouco perdida e confusa.

O enredo de Seasons After Fall é totalmente focado na natureza, sendo acompanhado por uma direção de arte muito competente em representar este universo, desde a trilha sonora e efeitos sonoros até o estilo gráfico adotado. Em alguns momentos parece mesmo que estamos a frente de um desenho animado, principalmente quando o frame rate cai um pouquinho, dando aquele sensação nostálgica de desenhos animados da Disney dos anos 80. Por conta desta ótima ambientação o jogo faz um excelente trabalho de imersão, fundamental para o desenvolvimento de qualquer história.

“Passa o inverno chega o verão, o calor aquece minha emoção…” – Junior, Sandy – As quatro estações

A raposa serena

Seasons After Fall é formado por uma série de puzzles que devem ser explorados através do formato plataforma 2D. Não há combates no jogo. O desafio está em observar o cenário e mesclar os poderes de cada estação do ano para resolver os puzzles ou alcançar determinadas plataformas. Por esse motivo, o game acaba se distanciando de Ori and the Blind Forest, pois não há muita ação propriamente dito.

As mecânicas do jogo são bem simples e comuns a um jogo de plataforma. Com um botão a jogadora pula e com outro ela ativa elementos dos cenários de acordo com a estação do ano vigente. Cada uma das quatro estações do ano tem um pode diferente e devem ser combinadas para que a jogadora consiga progredir no jogo. Inverno, por exemplo congela lagos, facilitando a navegação pelo cenário, mas seca as plantas que servem de plataformas para atingir outros pontos da fase. Essa constante combinação de poderes, que pode ser ativada a qualquer momento, transforma completamente a paleta de cores e a sonoridade de cada cenário, criando variedade na exploração seguindo o bom e velho estilo metroidvania. Contudo, não espere por puzzles super inteligentes ou momentos de plataforma desafiadores, pois Seasons After Fall é uma versão light do gênero.

Para selecionar uma das quatro estações basta ativar o menu e escolher a estação desejada.

Infelizmente, embora o primeiro ato do jogo seja bem redondo na apresentação de seus sistemas e mecânicas, os dois atos seguintes apresentam algumas soluções de plataforma e puzzle um pouco arbitrárias, fazendo com que a jogadora perceba o controle direto dos designers, afetando assim a imersão no jogo. Além disso, o game sofre de alguns problemas no tempo de resposta dos controles e de alguns bugs que me fizeram reiniciar o jogo duas vezes.

Colhendo os frutos

Seasons After Fall pode não ser o jogo de plataforma mais criativo que você jogará na sua vida e nem ter aqueles puzzles que te fazem sentir super inteligente quando resolvidos, mas em sua curta duração – mais ou menos 4 horas de jogo – sua narrativa se desenrola de forma bem agradável, carregada por uma excelente direção de arte e um level design que embora seja simples, consegue cativar. Se você está procurando um jogo casual sem violência, com personagens fofos e uma mensagem positiva, Seasons After Fall é compra certa!