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Akira Toriyama deixou um legado artístico e cultural imenso com todas as suas obras produzidas, tendo em Dragon Ball seu grande exponte. No entanto, a Bandai Namco lançou a adaptação para os games de um mangá do autor que não possui muita popularidade, mas que com a recente versão para o animê e o falecimento do mangaká fizeram com que Sand Land ganhasse seu merecido espaço de destaque.

Um jogo muito divertido e que vai além da sua obra original, a desenvolvedora ILCA conseguiu misturar RPG, ação, aventura e uma espécie de shoot ‘em up, tudo isso no vasto mundo árido (mas nem tanto) e com a belíssima arte do mestre Akira Toriyama. Prepare-se para encarnar o papel de um pequeno demônio, embarcando numa jornada contra forças opressoras e cheio de mensagens atuais.

Um road movie fantástico

Controlando Beelzebub, um jovem demônio rosa, e na companhia do xerife Rao e Thief, o demônio idoso, conhecemos a história de Sand Land, em que num futuro distante, a civilização humana está à beira da extinção devido à escassez de água. Para sobreviver, todos precisam comprar a água que está sob monopólio do Rei, mas que a desconfiança de que ainda exista o Lago Lendário que pode salvar todos os habitantes desse país.

Sand Land

Tudo parece muito simples, inclusive por termos a conclusão desse plot inicial logo nas primeiras oito horas de jogo. No entanto, o jogo trás uma história inédita chamada Forest Land, continuando os acontecimentos do mangá lançado em 2000 e fazendo conexão direta com Ann, a nova personagem criada exclusivamente para os consoles. Após as primeiras dez horas de jogo, nós conhecemos um novo país que, contrário à Sand Land, possui muita vegetação e água.

Enfrentando uma trama mais política e tentando reverter um golpe de estado, envolvendo diretamente Beelzebub e Ann, mas que eu evitarei muitos comentários para não estragar as surpresas, somos apresentados aos novos personagens criados pela ILCA para o jogo. O Rei Jam, o pequeno Muniel e o mascarado Bred surgem como peças-chave para a nova narrativa, acompanhados dos generais Rosetta e Epi, além do fiel Krowa e Lango. Talvez citar Satã e Lilith não seja spoiler, mas fica a menção honrosa para não deixar ninguém de fora.

Sand Land

Repleto de carisma, com um visual incrível e personagens muito bem desenvolvidos, seja durante o jogo ou nas animações muito bem trabalhadas, a Bandai Namco conseguiu entregar também uma versão animada acompanhada de um jogo simples e com gameplay fácil. Não apenas por assistirmos uma nova versão do anime, que exige nossa interação, mas por conseguir apronfundar a história e fazer com que o jogador crie empatia, se importando com os acontecimentos ao longo das 20 horas de jogo.

Em Sand Land, todos os acontecimentos em tela agradam e aquecem o coração, sendo recompensador pela maneira como se desenrola e é apresentado. Temas sobre a vida, violência, preconceito, sobrevivência e cobiça, envoltos pelo viés político e que pontua muito do que vemos atualmente, aborda também a questão de bem e o mal para auxiliar na humanização do real papel dos demônios nesta história e como a vilania dos humanos pode ser pior que a escassez de água.

Sand Land

Fugindo dos erros que tivemos em Infinity Strash: Dragon Quest The Adventure of Dai como adaptação, a ILCA conseguiu fazer com que Sand Land tivesse bons níveis de desafio através dos modos de dificuldade ao começar o jogo, mas trouxe também uma jogabilidade simples e concisa, tanto para dirigirmos os diveros veículos como para o controle de Beelzebub. Fácil e divertido, como qualquer adaptação de desenho animado deve ser, pensado num público mais infantil e com possíveis abordagens para os mais velhos.

Corra, pule, soque e atire

A curva de aprendizado em Sand Land é longa e permite que você não tenha dificuldade em socar com Beelzebub ou mandar bala com os diversos tipos de veículos: Tanque e Aerotanque, Blindado, Pulabot, Unipiloto e Aerojato, Saltador, Buggy, Carro e Aerocarro, Moto e Aeromoto, ou Robô. Sobre rodas ou a pé, se mover pelas áreas abertas ou dentro das dungeons é fácil, assim como o fluir da troca entre seu personagem e um veículo.

Sand Land

Os combates também são simples, quase como um pega-pega em que você precisa rodear seu inimigo na tentativa de atirar contra eles e derrotá-los ou descendo a porrada com Beelzebub. No entanto, o Príncipe dos Demônios não oferece a mesma diversão, por mais que ele tenha sua árvore de habilidades, o mesmo para Rao, Thief e Ann, que apoiarão durante os desafios. Você contará sempre com uma opção de ataque normal e outra secundária, sejam golpes ou armamentos, além de utilizar uma boa variedade de ataques e habilidades, além de utilizar o L1 para ativar a ajuda dos seus companheiros.

Mesmo depois de diversas horas jogando, você continuará aprendendo sobre novas mecânicas disponíveis, que incluirá a criação e customização de veículos, complementando imensamente a questão mais divertida do jogo: equipar seu veículo com diversos tipos de peças e armas para transformar uma simples batalha ao utilizar as diversas possibilidades de combate, se preparando corretamente para entrenfar seus inimigos. Não pela dificuldade ser alta, mas para fugir do padrão de utilizar apenas seu tanque para tudo e incrementando o nível de diversão que Sand Land oferece.

Sand Land

Infelizmente o jogo não oferece uma grande variedade de inimigos e depois de muitas horas vai depender muito do jogador em variar a maneira como enfrenta os bichos, dinossauros, bandidos e oficiais, caso contrário você acabará caindo numa mesmice muito grande e que pode desanimar, fazendo você desviar ao invés de enfrentar as ameaças.

Existe vida no deserto?

Sand Land brilha ao adaptar o mangá, servindo de complemento para o animê, no entanto ele acaba sendo simplório demais na construção de mundo. Longe de deixar a desejar na qualidade visual, pois os desenvolvedores conseguiram trabalhar muito bem o estilo de Akira Toriyama, além de construir um visual belíssimo para as paisagens e que estão longe de serem monótonas, afinal estamos falando de deserto e floresta!

Sand Land

O problema é que se olharmos para um deserto igual ao que temos nos dois últimos jogos da franquia Zelda, vamos perceber que Sand Land é um pouco vazio e sem muita interação com esse ambiente externo, concentrando apenas nos pequenos vilarejos ou dungeons o conteúdo interessante para ser explorado e enfrentado. Entendo que a proposta seja de uma história sobre um país devastado, mas depois de 20 horas de jogo você sentirá falta de um desafio maior enquanto se locomove. No entanto, esse problema não acontece da mesma maneira em Forest Land, por ser um espaço mais concentrado e repleto de elementos.

Engana-se que o jogo não possui vida, pelo contrário! Os mapas são extensos, tanto do deserto quanto o da floresta, com muitas missões paralelas para serem realizadas. O estilo escolhido para o visual, com um “quê” de cel shading resgata a obra original, sempre com muita expressividade nos personagens e cor para preencher a tela com belas paisagens, tendo um desempenho praticamente perfeito ao rodar no PS5 e entregando uma experiência visual incrível. A trilha sonora lembra os momentos épicos de Dragon Ball e ocupam bem o espaço em tela, seja de exploração ou combate, com temas que poderiam muito bem estar em Dr. Slump.

Sand Land

Toda construção de Sand Land, da narrativa ao mundo, entrega uma boa experiência de jogo, com diversas horas de diversão e gratas recompensas pela evolução que temos durante a história. A primeira parte cumpre bem seu papel de adaptação, abrindo caminho para uma segunda etapa do jogo que brilha pela continuidade e criatividade do pouco que conhecíamos da obra até então. Finalmente Sand Land ganhou seu merecido lugar de destaque e reconhecimento pela genialidade de Akira Toriyama, que nos deixou recentemente e ganhou uma competente homenagem nos consoles pelo trabalho que teve como mangaká desse título.

92 %


Prós:

🔺 História criativa com personagens memoráveis
🔺 Combate com veículos e a customização deles
🔺 Excelente trabalho com os gráficos e trilha sonora
🔺 Batalhas contra os chefões são divertidas
🔺 Ótimas sequências animadas

Contras:

🔻 Falta de diversidade para os inimigos
🔻 Deserto um pouco monótono
🔻 Missões paralelas desinteressantes

Ficha Técnica:

Lançamento: 25/04/24
Desenvolvedora: ILCA Inc.
Distribuidora: Bandai Namco
Plataformas: PC, PS5 e Xbox Series
Testado no: PS5