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RKGK (Rakugaki por extenso) se inspira em animes e jogos de grafite, como Getting Up e Jet Set Radio, para tentar criar o seu próprio mundo. O título da Wasabi Games traz uma história de revolta contra um vilão que deixou o mundo todo cinza e transformou as pessoas em bonecos, sendo que a única coisa que passa em seus cérebros é estática. Valah, junto de seu robô Ayo, irão reverter essa situação.

Cidades cinzas, revolta colorida

O mundo de RKGK foi dominado por Sr. Buff, um notório cientista maligno e tirano. Seu visual é digno de um cientista maluco, com corpo bizarro e uma careca enrugada. Através de telas, Buff suga toda a criatividade, imaginação e sonhos das pessoas, as controlando como marionetes apenas para trabalhar e sobreviver. Valah é uma das pessoas que se opõem à Buff e sua tirania. Ao lado dela temos um drone bem falante, e juntos irão pintar a cidade e usar o poder da arte urbana para libertar as pessoas de seu controle mental.

Imagem do texto de RKGK

Usando habilidades de parkour, além da propulsão de seu drone e uma lata de spray, Valah se move rapidamente para alcançar lugares terrivelmente altos, saltar obstáculos e lutar contra as invenções de Sr. Buff, sejam elas pequenos robôs aracnídeos ou grandes serpentes metálicas. Não há nada que estes dois não possam derrotar.

Enquanto pintam e libertam a cidade com muito estilo, conhecemos mais membros do grupo de Valah, pessoas dispostas a colocarem seu pescoço na linha para acabar com o vilão. Elas são Alma, o estilista principal de Valah e Ayo, que oferece mais roupas ao jogador para atacar a cidade com suas artes. Futuro é uma talentosa musicista e hacker responsável por disponibilizar novas faixas para o jogo, e Muro vende itens como roupas, skins para Ayo e grafites raros, além de ser a mais antiga e talentosa do grupo.

Através de seis setores da cidade, que servem como os mundos de RKGK, o jogador irá conhecer mais desse mundo, seus poucos personagens e acabar com o controle de Buff sob a cidade. No entanto, apenas equipamentos estilosos e artes maneiras podem não ser o suficiente para impedir Buff, e talvez ele não seja o maior dos problemas da equipe.

Imagem do texto de RKGK

Dragão contra o artista

Em seus trailers de divulgação, RKGK se mostrou um jogo belo e interessante, com batalhas e movimentação dinâmica, além de apresentar a história do jogo com uma introdução. Honestamente, eu esperava bem mais do que o jogo entregou. Aliás, no próprio perfil da desenvolvedora no X/Twitter eles deixaram claro que as inspirações vieram de Jet Set Radio, Spyro e Akira.

Realmente, o jogo tem uma skin para Valah baseada no visual de Shotaro Kaneda, com sua famosa jaqueta Good for Health / Bad for Education, mas até onde vi do começo ao fim do jogo, exceto pela temática e esta roupa, as referências só são visuais. Jet Set Radio também, ao invés de ser o cerne da mecânica do jogo. Claro que tudo roda em torno dos grafites e como Valah e Ayo utilizam este recurso.

No fim, RKGK tem mais cara de Spyro do que suas outras influências. O que não é ruim, afinal Spyro foi uma das séries que mais joguei no PS1. RKGK consegue fazer uma excelente adaptação do estilo de plataforma de ação. Os níveis incentivam a velocidade, permitindo que Valah tenha bastante mobilidade pelo cenário é possa alcançar locais secretos e de difícil acesso.

imagem do texto de RKGK

Caso esteja buscando uma experiência semelhante à Jet Set Radio, o ideal seria você jogar Bomb Rush Cyberfunk, que é uma sequência espiritual extremamente centrada no game da SEGA. RKGK é para aqueles que querem um jogo de plataforma com um grafite ocasional e mais uma collectathon. Afinal de contas, Valah não consegue fazer manobras e, consequentemente, não há um sistema de pontuação para isso. Mas tem desafios de velocidade, para bater recordes em cada nível, e itens para encontrar.

Mecânicas da lata de tinta

Os níveis de RKGK possuem layouts voltados para a exploração de segredos e muita plataforma. Para poder atravessar os obstáculos colocados por Sr. Buff, Valah precisará usar suas habilidades atléticas, somadas à ajuda de Ayo e sua fiel lata de spray. Para conseguir passar tudo isso correndo seria muito difícil, por isso a jovem prefere usar o sistema de propulsão do drone, somado à sua lata de spray para poder “surfar” pelo ambiente enquanto deixa um rastro de tinta para trás.

Ayo pode ajudar Valah a planar pelo ar, suportando seu peso por alguns segundos, enquanto ela usa a lata de tinta para se propulsionar para cima ou para servir como um apoio para que ela realize um salto duplo. Cada uma destas ações, além de fazer com que o jogador avance pelo cenário, preenche um medidor do seu modo marginal, que garante à ela maior mobilidade, velocidade e poder de ataque.

imagem do texto de RKGK

Quando está deslizando, Valah é capaz de criar uma onda de choque pela movimentação de ar ao seu redor por conta da velocidade, o que pode servir para atacar inimigos mas não a protege de ataques. Por isso esteja sempre atento aos projéteis, pois uma vez atingida o medidor volta pra zero. Mas sempre que correr, planar ou pintar uma das telas pelos níveis, esse medidor volta a encher.

Como dito, o jogo é uma collectathon, então é necessário vasculhar cada nível atrás de moedas, moedas secretas, telas a serem grafitadas e os ilusivos “fantasmas”, moedas especiais que podem comprar itens raros na loja de Muro. Cada nível possúi um número de moedas, grafites e sempre três fantasmas no mínimo. Ao concluir um dos objetivos do nível, na tela de notas é possível ganhar mais para cada objetivo. Isso cria um loop de replay, pois certos desafios irão exigir muitas tentativas.

Parece que escorreu um pouco ali

O estilo de arte dos grafites de RKGK lembra muito os panéis em camadas populares no México, exceto que totalmente voltado para a cultura nipônica em design e artes que retratem fortemente a cultura pop anime/mangá do país. É interessante, mas perde o brilho rápido pois são bem repetitivas. Na parte do grafite, algumas artes dão um ar de amadorismo enquanto outras são extremamente detalhadas, o que me fez questionar se seriam do mesmo artista ou talvez proposital.

Imagem do texto de RKGK

Além disso, os grafites de RKGK são mais voltados para a arte do desenho, oferecendo poucas tags. Mais uma vez comparando à Bomb Rush Cyberfunk, que traz um estilo de arte urbano muito mais interessante, vemos Valah criar desenhos que mais fazem sentido em uma galeria de arte do que na rua. Não é ruim, só acho que poderiam ter focado em uma arte mais parecida com Jet Set Radio.

Outro ponto que deixa bastante a desejar é a trilha sonora. Futuro é uma personagem interessante, mas passa longe de ser um Professor K. Suas trilhas são no máximo legaizinhas, passando longe da qualidade de “Miller Ball Breakers”, “That’s Enough” ou “Concept of Love”, de Jet Set Radio Future. Faltou capricho neste quesito importantíssimo.

Os personagens e o mundo também recebe pouca atenção em seu desenvolvimento. Valah e o antagonista Sr. Buff lembram o embate de Megaman com o Dr. Willy: sempre que chegamos ao fim de um “mundo” e derrotamos o chefe, desativando um dos feixes de energia que mantem a base do Sr. Buff no ar, eles tem uma discussão digna um desenho de sábado de manhã. O vilão sempre foge, Valah solta um comentário sarcástico e partimos para a próxima. Tirando seu campanheiro Ayo, os membros da equipe pouco contribuem para essa história.

Imagem do texto de RKGK

Marcante, mas sem assinatura

RKGK é um jogo divertido, desafiador e com um sistema de plataforma e movimentação super satisfatório, além de níveis voltados apenas para que o jogador explore toda a capacidade de movimentação de Valah. Mas seu potêncial acaba aqui, com pouco uso dos outros membros do grupo e a falta de um estilo mais marcante, deixando uma sensação de arte pouco trabalhada e entregue às pressas.

Com personagens que mereciam mais atenção e um mundo que tinha potencial para ser muito mais marcante e divertido, RKGK infelizmente é um jogo que tem um impacto inicial muito forte, prende pelos desafios, mas provavelmente não será tão memorável quanto os outros jogos em que se inspira.

60 %


Prós:

🔺 Action plataformer divertido e desafiador
🔺 Sistema de colectathon semelhante ao de Spyro
🔺 Estilo de arte interessante

Contras:

🔻 Com o tempo, as tags se tornam repetitivas e pouco semelhantes à arte urbana
🔻 Falta de um sistema de tags de assinatura ou criação de artes próprias
🔻 Personagens e mundo pouquíssimos desenvolvidos

Ficha Técnica:

Lançamento: 22/05/2024
Desenvolvedora: Wasabi Games
Distribuidora: Gearbox Publishing
Plataformas: PC