Imagine um shooter de faroeste, com pegada de tower defense. Assim é Ritual: Crown of Horns, jogo desenvolvido pela Draw Distance e distribuído pela Feardemic que acaba de sair para Steam e Nintendo Switch. Fugindo do tradicional 2D pixel art, o jogo nos apresenta uma visão de cima, mas com visual em 3D numa mecânica que até lembra os jogos de visão top down, como Hotline Miami, mas com uma aparência bem mais atualizada.
Em Ritual: Crown of Horns, o jogador assume o papel de um cara definido como um “caçador de recompensas patriota”, com uma missão de caçar uma bruxa. Tudo dá errado, nosso herói é traído e se vê na necessidade de se aliar à bruxa em busca de vingança.
Um homem, uma bruxa e um destino
O jogo assume um estilo tower defense (ou seria shooter defense?), em que você tem que proteger a tal bruxa enquanto ela faz seu ritual, com direito a relóginho no topo da tela indicando quanto tempo você tem que sobreviver/proteger. Só que nada de colocar torres em locais estratégicos e aguardar as hordas – aqui você pega sua arma e resolve na bala.
Os controles são de certa forma simples: você se movimenta com o direcional da esquerda e mira com o da direita, atira, troca de armas, utiliza uma magia ou usa um dash. Você pode travar a mira pra facilitar as coisas, deixando seu personagem um pouco mais lento e vulnerável, mas possibilitando acertar alguns headshots pra finalizar os alvos com um tiro só.
Inicialmente o jogador tem à disposição um revólver e uma shotgun, mas à medida em que se avança no jogo, novas armas são desbloqueadas, assim como novas habilidades e equipamentos que melhoram seu desempenho.
Nosso herói, que aliás se chama Goodchild, também desbloqueia novas “entidades” para fazer parte da trupe, que vão desde outras bruxas até deuses, cada qual com sua história e seus benefícios para o protagonista, desde venda de itens até novas armas e habilidades. Tudo isso pode ser customizado num lobby em que o jogador escolhe qual missão irá seguir.
Ritual: Crown of Horns é um jogo difícil, fortemente baseado na habilidade do jogador com um progresso lento e por vezes injusto, mas foge completamente da mesmice de sempre dar uma molezinha para o jogador, tornando o jogo no que eu costumo chamar de “casual hardcore”.
Sim, cada missão leva no máximo 5 minutos, o que muito bem pode ser jogado entre uma estação de trem/metrô e outra, no horário do almoço ou naqueles minutinhos antes de dormir. Mas essa casualidade acaba aqui, o jogo exige o máximo de atenção e precisão do jogador. Sempre atento de em que ponto estão te atacando para aí sim traçar sua estratégia de defesa.
Era uma vez no Switch
O tempo de cada fase parece curto, mas pode se transformar num verdadeiro inferno, onde enfrentar hordas de demônios e cultistas loucos se torna uma tarefa que vai gerar fracasso por diversas vezes. Sim, você vai morrer pra caramba em Ritual: Crown of Horns, muitas vezes faltando segundos pra concluir a missão, o que gera um misto de frustração extrema com o sentimento de “droga, eu errei e preciso ser melhor”.
A jogabilidade não é exatamente das melhores, mas dá para se acostumar. A mira é semi-automática, mas erra bastante, gerando no jogador uma desconfiança na mecânica e reforçando por vezes o sentimento de injustiça. A ideia é ótima, as armas são variadas, mas o estilo de cada jogador vai influenciar mais na escolha do que necessariamente o poder de fogo – eu fui de revólver quase que o jogo inteiro.
Vamos falar de som? Cada arma produz seu barulho característico, e é satisfatório trocar do revólver para a shotgun e sentir o “peso” que o tiro tem. A trilha sonora do jogo é incrível, um misto de rock n’ roll com pitadas de western e um toque de terror, mas tem um probleminha que eu vou relatar já.
As missões em Ritual: Crown of Horns são sempre a mesma coisa, correr de um lado para o outro defendendo as entradas, destruindo por vezes alguns portais e esperando o relógio zerar. E é só isso, sempre isso. Daí vem o fator casual do jogo: completar 1 ou 2 missões pode ser divertido, mas se dedicar a jogar por horas é bem cansativo.
E lembra que eu elogiei a trilha sonora? Pois é, você vai morrer tanto e vai jogar tantas vezes a mesma fase que a música fica enjoativa com o tempo, não chegando a atrapalhar, mas deixando de ser um ponto positivo para se tornar apenas um ponto neutro.
A balada do pistoleiro
De início até prestei atenção nos diálogos que acontecem entre uma fase e outra, mas quando as missões se mostraram sempre a mesma coisa, eu passei até a pulá-los (curiosamente o botão de pular o papo se chama “shut up”). Até tem um pano de fundo, mas não dá pra dizer que o enredo é o ponto forte em Ritual: Crown of Horns.
Ritual: Crown of Horns é bom, divertido e difícil. Infelizmente, também é bem repetitivo e não permite muitas horas de jogatina até por conta do frenético apertar de botões, que cansa não só a mente mas os dedos. Talvez uma variedade maior nas missões, além da diferenciação do mapa e de um ou outro inimigo, pudesse trazer mais replay ao jogo. Eu adoraria jogar com essa mesma mecânica mas num sistema de missões mais progressivo, nem que consistisse em ir do ponto A para o ponto B.