Hotline Miami Collection chegou ao Nintendo Switch e traz os dois jogos da aclamada série independente ao híbrido da Nintendo. Distribuído pela Devolver Digital, que já nos trouxe aclamados indies como The Messenger, Gris e Katana Zero, ambos os jogos da Collection foram desenvolvidos pela Dennaton Games.
Miami, uma linha quente
O primeiro Hotline Miami nos apresenta um jogo de ação completamente 2D com visão de cima para baixo, bem nos moldes dos primeiros GTAs, mas também me lembrou o belo jogo Retro City Rampage, que joguei anos atrás no meu Nintendo 3DS (mas que está disponível pra quase todas as plataformas da geração anterior). Apesar de sempre ouvir falar, Hotline Miami Collection foi meu primeiro contato com a série, nunca nem trisquei em nenhum deles o que me fez curtir bastante a coletânea, pois entrei completamente de leigo na franquia.
Você assume o papel de um matador e a premissa é simples: você tem que entrar no cenário e matar tudo que se movimenta. Cada um dos capítulos apresenta uma dificuldade a mais e também te abre um leque maior de possibilidades, visto que ao término de cada etapa o jogador ganha uma máscara que dá uma habilidade especial. Então cabe a você escolher a máscara que melhor combina com seu estilo de jogo antes de iniciar a missão.
A jogabilidade é simples, mas demora um pouquinho pra pegar o jeito. Cada analógico cumpre uma função como em jogos 3D, sendo que num jogo completamente 2D o cérebro demora um pouco pra se habituar com essa mecânica. Nada que morrer algumas vezes não resolva. A dificuldade é bem elevada mesmo nas missões iniciais, mas nunca dando a impressão de injustiça com o jogador, apenas aquele sentimento de desafio: preciso ser melhor. O esquema episódico do jogo eleva em muito o tempo das sessões de jogatina, e é difícil ficar menos de 1 hora jogando.
Os gráficos, como não poderiam deixar de ser num jogo assim, são de um pixel art belíssimo. O que ameniza um pouco a violência extrema do jogo, já que vai ter sangue pra todo lado e as formas de matar são as mais diversas. Com uma pegada arcade, além de um ranking ao final de cada missão, o jogador também pontua, devendo ser criativo e fazer combos na hora da matança para elevar a pontuação.
A trilha sonora… Ah, a trilha sonora! Que esmero! Músicas extremamente bem construídas numa pegada de filme de “tira” dos anos 80/90, e que mesmo quando repetidas por diversas vezes em cada fase (acredite, vai acontecer), não soam enjoativas de maneira alguma. A sonoridade da matança também é muito bem feita, dando uma sensação real de impacto, de violência mesmo.
Concluindo esse filmão de ação
Ao contrário do que meu pré-conceito estabelecia, o jogo tem um viés muito mais estratégico do que eu imaginava. Pensei que era só um jogo de ação, tiroteio etc. Mas não, é preciso estudar bem cada movimento, pensar bem antes de sair entrando e atirando, o que faz o jogo ser bem mais completo do que indicava.
A história do primeiro Hotline Miami é bacana, mas sem se aprofundar muito e deixando ganchos que seriam resolvidos no segundo episódio da série. Viciante é a palavra que define o jogo. Infelizmente, ele não é lá muito longo e com umas 8h eu terminei (e olha que não sou o mais habilidoso com jogos hardcore). Após terminar, você pode revisitar qualquer um dos capítulos a fim de melhorar seu score, mas não tem nenhuma grande recompensa além de um leaderboard mundial. Nenhum outro modo de jogo está disponível, o que é uma pena pois não dá vontade de largar, mas felizmente há o 2 no pacote.
Hotline Miami Wrong Number é a sequência que já chegou com status de continuar com o aclamado primeiro jogo. Um peso a mais na bagagem, mas que foi tirado de letra pelos desenvolvedores.
A lacuna deixada pelo primeiro é preenchida com maestria aqui. A história é primorosa e ao invés de apenas 2 personagens jogáveis, temos agora mais de 10 personagens, cada um com suas características e habilidades, além de um background que te envolve na trama. Os episódios vão e voltam no tempo, alguns se passando antes do primeiro jogo, uns durante e outros depois.
O dia e o ano aparecem na tela antes de cada missão, te situando onde exatamente está você nesse mundo louco e violento de Hotline Miami. O climão de filme dos anos 80 é ainda mais enfatizado aqui, sendo com o visual neon retrô 8 bits ou com a trilha que continua maravilhosa.
O que era bom, ficou ainda melhor
O esquema de jogabilidade segue o mesmo, porém com alguns refinamentos. Não sei se era o hábito de já ter zerado o primeiro recentemente, mas achei os controles mais precisos e até com mais margem para cenas dignas dos melhores filmes de ação dos anos 80. Entrar nas salas e sair trocando tiros sem pensar muito ficou mais tranquilo, variando ainda mais a forma de como cada um vai jogar.
Quanto à versão de Switch, nenhuma grande funcionalidade foi adicionada. Você pode usar o touch pra olhar mais além do que a tela mostra e pode sacudir os joy-cons para finalizar um alvo atordoado, mas nenhuma dessas funções é prática. Existem botões pra fazer as duas funções e fica muito mais fácil fazê-las dessa forma mais tradicional. Nem nos menus o touch do jogo é utilizado.
Algumas poucas vezes, o jogo crashou quando eu ia resetar para mudar do jogo 1 pro 2. Também tive alguns bugs meio chatinhos que me fizeram ter que jogar todo um capítulo novamente. Você só avança quando finaliza todos os inimigos, e por vezes alguns estavam em locais inacessíveis e até fora do cenário, impossibilitando a conclusão. E ao resetar, eu perdia até o checkpoint alcançado e tinha que voltar pro começo da fase.
Porém jogar um game que saiu há tanto tempo pela primeira vez nos faz pensar em quanto tempo perdemos sem essas pérolas, e apesar de chegar atrasado para a matança, quando entrei foi pra valer. Hotline Miami Collection atinge o feito honroso de apresentar esses jogões para quem, como eu, não conhecia ou adiava a experiência, mesmo que não acrescentem nada de novo para quem já jogou a série.