As luzes vão de vermelho para verde, os motores estão com os giros no topo, as pernas saem do chão conforme as marchas sobem e as motocicletas partem em direção a linha de chegada. Ride 4 corre para justamente te levar ao máximo das emoções, se sentindo no topo, sendo o maior motociclista do mundo.
A Milestone está de volta com Ride 4, uma das maiores fraquias de simulação de motociclismo dos videogames, presente quase anualmente desde 2015. Agora, em 2020, sendo lançado para PlayStation 4, Xbox One X e PC. Anunciado também para PlayStation 5 e Xbox Series X/S.
Motoqueiro, porra!
Seguindo os passos da Codemasters e sua série de enorme sucesso e reconhecimento técnico F1, a Milestone busca trazer ao mundo das corridas profissionais de motocicletas em asfalto o ápice da simulação e realismo. Por mais que o motociclismo não tenha o alcance popular da Fórmula 1, as emoções de estar praticamente voando em duas rodas vence qualquer sensação.
A primeira coisa que chama muito a atenção em Ride 4 é o cuidado com a parte gráfica. Habitualmente a fidelidade e realismo dos visuais é de praxe com jogos de corrida, sejam eles simulações como F1 e Gran Turismo ou mais voltados para o arcade como Forza Horizon ou Need For Speed.
Ride 4 não é diferente. Desde o cuidado com a identidade visual, seguindo – mais uma vez – a cartilha definida pela Codemasters, são elementos minimalistas, buscando a elegância acima de tudo, ainda que não com tanto sucesso. Independente disso, os componentes nos menus e pistas são muito bonitos, além dos modelos das motocicletas serem impressionantes e estupendamente variados.
Para complementar os lindos equipamentos, o som dos motores é igualmente prazeroso. Descer o braço no acelerador traz uma satisfação tão grande quanto ultrapassar um adversário na última curva da corrida. As trocas de marcha nos fazem sentir as engrenagens se soltando e encaixando a cada pisada no pedal.
São dezenas de pistas ao redor do mundo para experimentarmos, todas elas com altíssimo grau de fidelidade para que possamos nos sentir vivendo aqueles momentos. Outra adição é a nova mecânica de clima dinâmico, onde algumas corridas começam em uma linda tarde ensolarada na qual um pique-nique seria maravilhoso e terminam no que poderia ser a gravação de um dilúvio, trazendo sempre uma aleatoriedade agradável para combater a monotonia da direção.
É sempre bom ter um modo carreira, para sentir melhor a progressão e o aprendizado que se obtem durante a experiência com o jogo. Customizar o personagem, apesar de ter pouquíssimas opções tanto para homens quanto para mulheres, ainda sim é melhor do que ter que se contentar com um boneco aleatório genérico.
O grande problema é que a diversão de Ride 4 acaba por aí. A simulação é bem feita no que se vê e no que se ouve, porém a sensação da pilotagem em si que é o que pega. Não sou lá um grande motociclista, muito menos um motoqueiro, mas já gastei umas boas horas controlando uma dessas coisinhas de duas rodas, e posso garantir que dirigir uma moto não é nem um pouco parecido com o que Ride 4 apresenta.
Por mais que existam diversas configurações sobre o quanto de assistência desejamos a fim de manter a dirigibilidade ainda possível, o resultado final não é exatamente agradável. É como pilotar uma bicicleta elétrica que se comporta como uma vaca manca brava, lenta e com um controle estranho e potencialmente perigosa.
A aceleração não é necessariamente perceptível, não traz a sensação que deveria, pouquíssimo prazer envolvido. Mesmo assim, freiar é um pesadelo. Ou se escolhe ligar as assistências e se sentir o irmão mais novo com o controle desligado do videogame, ou caímos para o modo Fred Flintstone, onde pisamos no freio, no freio da moto do lado, arrastamos os pés no chão e ainda não vamos conseguir parar a moto o suficiente.
Quando se trata das curvas, essa é toda uma outra história. Ao fazer uma curva em alta velocidade com uma moto de corrida, os pilotos habitualmente jogam o corpo para facilitar o processo. Em Ride 4, antes de jogar o corpo, a moto simplesmente age como se nada tivesse acontecido com seu guidão, depois de jogar, estamos em Tron e subitamente viramos a 90º. 8 ou 80, sem outras opções.
A soma de todas estas situações faz com que dirigir seja um fardo e não um prazer. Colocando nessa listagem o fator que boa parte das missões de carreira envolvem um grau escroto de precisão, lembrando em muito as missões de habilitação dos Gran Turismo de PlayStation 1 e tão irritantes quanto.
No fim das contas, Ride 4 soa como um belo poster de uma Kawasaki Ninja. é lindo de se ver, imaginar como controlar aquilo deve ser um prazer ininarrável, mas só isso mesmo. Dirigir, de fato, é impossível, além de que se imaginar montado em um poster é terrivelmente ridículo.