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Quando se fala no gênero adventure point and click, provavelmente o primeiro jogo que vem na mente de todo mundo é o saudoso Monkey Island. Dentre todos os sucessos da falecida LucasArts lançados na década de 1990, a série da ilha dos macacos sem dúvidas foi o maior deles, tanto que foi sua única franquia que rendeu ao todo quatro títulos de sua autoria. Um quinto jogo também foi lançado, esse sob os cuidados da Telltale, mas convenhamos que todo mundo ignorou esse capítulo – levando as aventuras de Guybrush Threepwood ao esquecimento.

13 anos depois da Telltale ter tentado reviver Monkey Island, fomos agraciados com a surpresa de que um sexto título estaria em desenvolvimento, dessa vez sob os cuidados de um estúdio pequenininho chamado Terrible Toybox. Return to Monkey Island poderia ser um completo desastre e mais uma tentativa ínfima de trazer de volta um clássico que já não funciona tão bem nos padrões atuais de games, mas este título também marca o retorno dos criadores da série! Ron Gilbert e Dave Grossman estavam envolvidos até o pescoço neste projeto, então este é, de fato, um retorno para a ilha dos macacos.

De pai para filho

Return to Monkey Island faz uma transição perfeita da velha geração para a atual de uma forma muito esperta: de pai para filho! A história deste novo jogo é contada pelo próprio Guybrush, que está tentando impressionar seu filho com suas velhas aventuras em busca do segredo de Monkey Island. De acordo com os desenvolvedores, esta seria uma sequência dos primeiros dois títulos da série, então o flashback funciona como o terceiro jogo, cronologicamente falando.

Monkey Island
Como eles crescem rápido…

O enredo da vez se passa em um momento da vida de Guybrush em que ele se encontrava perdido em sua “carreira” de pirata profissional. Com sua esposa Elaine focada em uma campanha de prevenção ao escorbuto e longe do governo da Ilha Sopapo, que agora se encontra sitiada pela cruel Capitã Madison, Guybrush acaba retomando o único propósito que sua vida já teve para suprir o vazio existencial: descobrir o segredo de Monkey Island! O problema é que seu arqui-inimigo LeChuck também continua com a mesma obsessão, então resumidamente: quem jogou os antigos provavelmente já conhece bem essa história.

O nome do jogo realmente entrega o que promete, pois esse é de fato um retorno a tudo que Monkey Island era em seus tempos áureos. Para quem jogou os antigos, vai ser nostalgia do início ao fim, pois estamos sempre visitando lugares conhecidos e encontrando personagens famosos dos outros títulos. A quantidade de referências aos acontecimentos dos dois primeiros jogos também é pesada, o que pode deixar os novatos bem perdidos. É super possível jogar Return to Monkey Island sem ter jogado os demais, mas infelizmente muitos detalhes vão passar batidos.

Hora de reencontrar velhos amigos (e inimigos)

O jogo até tenta ser amigável para novatos com o caderno de anotações de Guybrush no menu principal. Essa seria uma experiência dinâmica e interativa que resume os outros jogos para quem não jogou e conta um pouquinho sobre o universo de Monkey Island para todo mundo que desejar se situar. Achei bem legal, principalmente porque, diferente do jogo, aqui você pode escutar o Guy contando sua história, sendo a única parte com narração de todo o game. Apesar de todos os textos estarem devidamente localizados em português, infelizmente as falas do personagem não possuem legenda, então quem não tem o ouvido afiado para inglês dificilmente tirará bom proveito dessa retrospectiva.

Jogo novo, fórmula velha

Return to Monkey Island foi vendido como um título com mecânicas e fórmulas de point and click “renovadas” para os jogos modernos. Não deixa de ser verdade, mas também não traz nada que a gente já não tenha visto em outros títulos mais recentes do gênero. Convenhamos que já é algo muito simples por natureza, então acho que quando eles dizem que o jogo foi recriado dentro dos padrões atuais, é mais uma forma de dizer que ele não é jogável somente por teclado e mouse – agora dá para jogar em consoles também!

A ideia ainda é a mesma: você deve perambular por diversos cenários, conversar com todo mundo, coletar itens, informações e, pouco a pouco, descobrir onde utilizar cada uma das coisas que você encontrou. Tudo é um grande puzzle, onde cada solução abre um novo caminho para solucionar outros mistérios que aquele trecho específico coloca como obstáculo até o objetivo final. Parece chato falando desse jeito, mas pode acreditar que é divertido e até viciante, principalmente quando você consegue solucionar tudo por conta própria.

É claro que LeChuck também marcaria presença neste retorno

É fato que em muitos momentos a gente se perde e fica sem saber o que fazer, mas este jogo ajuda até demais quem não tem paciência de descobrir tudo na raça. Primeiro, é possível escolher entre dois níveis de dificuldade, um que traz uma experiência mais casual e outro com puzzles mais hardcore, que envolvem mais etapas e menos auxílio. Você também contará com um livro “vidente” que te concede algumas dicas dos próximos passos quando achar necessário, mas é algo totalmente opcional. O próprio jogo alerta que usar demais esse tipo de recurso estraga a experiência, então que fique claro que a graça de Monkey Island está em bancar o detetive.

Apesar de ter diálogos interativos, esse recurso se limita somente à coleta de informações, não envolvendo escolhas nem nada do tipo. Como eu disse, é tudo muito simples de entender e também de jogar, especialmente no Switch, onde são diversas as possibilidades de gameplay. Aqui você pode controlar tudo pelos Joy-Cons ou clicar na tela pelo touchscreen, o que também casa perfeitamente com a proposta do point and click. Esse é o tipo de jogo que não exige grandes habilidades no controle ou estratégias mirabolantes, apenas um cérebro disposto a ser desafiado.

“Ela brilhou, pálida como a morte…”

A última e talvez a maior das mudanças deste título seriam os gráficos, que adotaram um visual mais moderninho sem abandonar seu lado cartunesco. Aqui tudo parece um desenho pintado a mão, mas com personagens menos expressivos. Para mim funcionou perfeitamente, ainda mais levando em consideração que o jogo não tem dublagem e, mesmo sem vozes, todo mundo ali continua bastante carismático. Esse é o poder de um jogo escrito por excelentes roteiristas.

Return to Monkey Island honra suas raízes e é um jogo divertidíssimo para a velha e a nova geração de gamers. A história é boa, os diálogos são engraçados, os puzzles são criativos e, não menos importante, ainda carrega toda aquela atmosfera dos bons e velhos adventures da LucasArts. É um título feito para todos os públicos e certamente não deixará de agradar a nenhum deles. Se você quiser saber qual é o grande segredo da ilha dos macacos, não vai se arrepender!