No ano passado, eu tive uma experiência incrível com Resident Evil Village. Gostei tanto que terminei três vezes, algo que não costumo fazer com nenhum game. E olha que não fiz isso nem com Resident Evil 7, o meu favorito de toda a franquia e o qual mais me deu medo, de precisar fazer pausas para me acalmar. E muito disso se deve ao uso, até então inédito, da câmera em primeira pessoa.
Sombras de Rose chega como o único DLC de Resident Evil Village, que conclui a saga da família Winters e também marca o lançamento da Gold Edition, que junto do jogo base traz o DLC da campanha, a atualização “Ordens Adicionais” do modo Mercenários (com novos personagens jogáveis e estágios) e uma nova e bem-vinda opção que permite jogar na perspectiva em terceira pessoa.
Aliás, o rosto de Ethan Winters, que não aparece em Resident Evil Village e Resident Evil 7, segue oculto com a câmera em terceira pessoa. Posicionada atrás do protagonista, se o jogador girar o ângulo pra tentar vê-lo, Ethan vira o rosto. Esta é uma sacada proposital e divertida da Capcom, ainda que a comunidade já tenha revelado o rosto de Ethan via mod no PC.
O legado da família Winters
Se você não terminou Resident Evil Village, sugiro não continuar lendo este review. Os próximos parágrafos contém spoilers! 16 anos após os eventos finais, em que Ethan se sacrifica para salvar a filha, Rosemary tenta seguir uma vida normal. Detentora de um estranho e indesejado poder, que faz seu corpo secretar um suor branco e pegajoso, ela tem dificuldades para se ajustar socialmente e aceitar a morte do pai.
Ca, um membro do esquadrão de Chris Redfield e amigo de Rose, a chama para uma conversa importante. Preocupado, ele comenta da possibilidade dela finalmente se livrar dessa maldição. Em um laboratório, Ca revela que encontrou parte das pesquisas da Miranda e que ela havia descoberto um cristal purificador capaz de remover o Mutamiceto (Série E, também conhecido como mofo) de seus hospedeiros.
Para descobrir mais sobre o cristal e como conseguí-lo, Rose se conecta à um fragmento do Megamiceto, que absorve e guarda memórias de pessoas que faleceram por perto dele. Ethan, Miranda, o cristal e outras respostas moram nessa super consciência. É assim que Rose passeia pelas lembranças, revisitando ambientes explorados pelo jogador em Resident Evil Village.
Ao afundar nesta jornada, Rose inicia sua exploração pelas celas do Castelo Dimitrescu, onde presencia clones idênticas à sua aparência sofrendo nas mãos de monstros de mofo. A ambientação está tomada pelo Vazio Líquido e, durante sua primeira fuga, alcança um aposento onde frases se formam na parede. Esta inusitada comunicação traz conforto e orientação para Rose seguir adiante.
O gameplay então se expande para o uso de duas armas de fogo (pistola e escopeta), bomba de tubo e o poder de Rose, turbinado por frascos de Variante RW e recarregado por ramos de Sálvia Branca. Tal habilidade permite desacelerar os inimigos e destruir bloqueios formados pelo Vazio Líquido. Fora isso, há apenas dois upgrades de arma (da pistola) e o menu de criação de itens ficou limitado a munição e medicamento.
Os mesmos lugares, tudo de novo
Seu objetivo inicial é encontrar três máscaras, para colocar em um monumento no saguão principal do castelo e destrancar uma gaiola que contém o cristal purificador. Uma memória alternativa do Duque, mascarado e fora do ambiente de loja ou carruagem, é apresentada para ampliar o senso de perigo e urgência. Mas não é o mesmo Duque que conhecemos em Village.
Embora a proposta toda seja boa, com revelações interessantes para a trama, Shadows of Rose oferece uma experiência enxuta e sem muito impacto. O novo inimigo principal é um mofo que, ao agarrar Rose, suga sua vitalidade pela boca como um dementador de Harry Potter. Há também um outro maior, que posteriormente retorna como o primeiro de três chefões. E tem uma manequim assustadora, mas não vou entrar em detalhes pra não estragar a surpresa.
Os ambientes são todos reaproveitados de Village, com pequenas mudanças visuais aqui e ali. Você explora uma parte do Castelo Dimitrescu, depois vai pra Casa de Bonecas (novamente, a melhor parte), passa pela casa da família Winters e encerra na praça do vilarejo, lá onde Chris teve o seu momento de exército de um homem só. Os novos puzzles são legais e criativos, especialmente na casa de Donna Beneviento, mas são todos muito fáceis.
Joguei Shadows of Rose com a expectativa alta, ainda mais depois que o diretor Kento Kinoshita comentou da duração de 4 horas. Porém terminei em 3 horas e meia, errando o caminho algumas vezes durante a exploração e morrendo de bobeira. Ou seja, dá pra terminar com 3 horas ou menos, o que não seria problema se a conclusão da história fosse satisfatória. Eu me diverti? Sem dúvida, pois o DLC oferece bons momentos. Mas tecnicamente falando, rolou um reaproveitamento de material maquiado para parecer novidade e que, no fim, não surpreenderá os fãs.