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Como fã de Resident Evil, meu hype pelo sétimo game principal (ou 27º jogo da franquia) era gigantesco. A presença de Koshi Nakanishi na direção e Masachika Kawata na produção foi o suficiente para elevar minhas expectativas, pois ambos trabalharam em Resident Evil: Revelations (que eu gosto bastante). Eu só não sabia muito bem o que esperar do roteiro de Richard Pearsey, que tem no currículo o ótimo Spec Ops: The Line e duas expansões do F.E.A.R. (Extraction Point e Perseus Mandate), que são apenas okay. Aliás, é a primeira vez que a Capcom contrata um gringo para ajudar a desenvolver a narrativa de um Resident Evil. Se o jogo ficou bom? Sim, ficou incrível.

Ethan, fique longe!

A premissa lembra um pouco Silent Hill 2: após desaparecer por três anos, Mia manda uma mensagem de vídeo para o marido (e protagonista) Ethan Winters, o alertando para ficar longe da mansão da família Baker. Antes dada como morta, Mia foi trabalhar como babá e sumiu durante sua passagem pela cidade fictícia de Dulvey (em Louisiana). Cronologicamente, os eventos acontecem quatro anos depois do desastroso Resident Evil 6. Quem jogou as demos de Resident Evil 7 e/ou acompanhou as novidades sabe que a família Baker não é nada amigável e muitas pessoas sumiram ao passar pelo seu território. Vou parando por aqui para não dar spoilers, mas posso adiantar que a história me surpreendeu pela simplicidade e excelente execução.

“Come essa orelhinha, Ethan! Está ao ponto… de estragar”.

Resident Evil 7 é o primeiro da franquia com visão em primeira pessoa. Ethan não é um protagonista mudo, algo comum do gênero: ele dialoga com outras personagens e pensa alto em alguns momentos, mas permanece em silêncio a maior parte do tempo. Ou quase isso, uma vez que ouvimos sua respiração, movimentos e dores. Por falar em dores, nunca vi uma personagem sofrer tanto na mão dos inimigos. A violência é tão gratificante que eu pulei da cadeira em alguns momentos, de tão inesperado que foram. Pra ser sincero, eu não sentia isso desde Dead Space. Há inclusive uma grande variedade de mortes para o protagonista do game, que não passa de um mero civil sem habilidades e desesperado por salvar sua esposa.

Para não se perder nos objetivos, há telefones espalhados pela mansão que tocam em momentos importantes. Do outro lado da linha está Zoe, uma mulher misteriosa que dá as coordenadas para Ethan avançar na campanha. Além de telefones há gravadores de fita cassete pelos cantos do mapa, onde o progresso do game é salvo. A interface do jogo é bem limpa, aparecendo somente gotas de sangue na tela (indicando sua saúde) e a munição da arma quando você a usa. Os controles são práticos e o tutorial no início do game só se faz necessário para explicar que agora dá para bloquear golpes, trocar de arma pelo D-Pad, recuperar sua saúde rapidamente e juntar itens para criar munições, estimulantes e sprays de saúde. Construir coisas é importante para não ficar sem recursos, que acabam rápido. Aliás, algumas armas possuem mais de um tipo de munição e os estimulantes servem para aguçar seus sentidos para, por exemplo, encontrar itens escondidos pelo mapa.

Tela do inventário de Ethan, com todas as informações num simples apertar de botão
Tela do inventário de Ethan, com todas as informações que precisa num simples botão.

Uma coisa que curti bastante é que as portas são abertas ao encostar nelas, sem a necessidade de apertar um botão pra interagir (exceto quando você precisa destravá-las, é claro). Isso deixa tudo muito mais ágil e prático, principalmente quando você precisa se esconder dos Baker. Cada integrante da família – o pai Jack, a mãe Marguerite, o filho Lucas e a vovó – possui seu respectivo destaque na história, e alguns deles funcionam como chefes de fase. E estas batalhas são muito criativas e desafiadoras.

Outlast com algumas armas

Assim como o próprio Koshi descreve, o game mistura Outlast com o universo de Resident Evil. Ou seja, há combates com armas, mas em menor dose para não quebrar o clima da trama. Você tem acesso à faca, explosivos, alguns tipos de pistola, espingarda, metralhadora, lança-chamas e lança-granadas. Dá também para destravar itens usando moedas que você encontra pelo game, como a famosa Magnum. E por falar em coisas clássicas, você encontra os baús para guardar itens, salas para salvar o progresso com música de fundo, o salão principal da mansão, entre outras referências para os fãs descobrirem.

Outlast serviu como referência para criar a ambientação e dar aquela sensação constante de medo. A ambientação sonora é absurdamente incrível, com efeitos como madeira rangendo, sussurros, encanamento entupido, e assim por diante. Você ouve até o som de uma latinha que você chutou sem querer e uma cadeira que tombou ao se esbarrar nela. Aliás, recomendo que você jogue Resident Evil 7 com um bom headset ou, se rolar, um home theater poderoso.

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Uma das muitas batalhas contra Jack Baker, o Nemesis de RE7.

Não dá pra negar que joguei a campanha inteira num cagaço que só, e de luz apagada é claro. Tomei inúmeros sustos, mas nenhum do tipo “surpresa na sua cara”. Os sustos ocorrem pelo simples fato de estar tenso e esperar que algo aconteça a cada esquina, o que felizmente não ocorre. Porém é nestes momentos que você relaxa que algo bizarro acontece e você pula da cadeira. E as bizarrices da família são muitas, de geladeiras fétidas com carne podre à enfeites de gosto duvidoso.

Quanto aos quebra-cabeças, eles são bastante inspirados no primeiro game – exceto pela dificuldade, bem mais moderada. Vale citar que todos os quebra-cabeças do game possuem uma lógica bastante pé no chão, sem nada mirabolante que só os japoneses entendem. Isso é bom, pois não há nada mais frustrante que travar no jogo por conta de um mísero quebra-cabeça. Quem nunca?

Que jogo horrorosamente bonito

Se a história e a ambientação ficaram excelentes, imagine os gráficos do game. É, de longe, o trabalho mais caprichado da Capcom. Os cenários são incríveis e únicos, há detalhes a perder de vista e a iluminação é a mais realista que já vi no gênero FPS. A movimentação e expressões faciais da família Baker é de cair o queixo, deixando bem distante aquela sensação de “boneco com inteligência artificial”. Toda hora fui surpreendido por alguma mudança de comportamento, seja no ataque ou em uma perseguição. Fora eles há também alguns outros inimigos comuns, como insetos e aranhas, e os mutantes (abaixo).

Impossível não tomar sustos com estas criaturas
As criaturas mutantes lembram bastante as da série Resident Evil: Revelations.

Já falei que o game é bonito? Pois quero dar mais dois exemplos do trabalho primoroso da equipe da Capcom. Em uma parte inicial do game, após entrar no esgoto, Ethan sai por uma sala todo encharcado. Dá para ouvir sons da água escorrendo pela roupa, inclusive aquele barulho de meia molhada dentro do sapato. O outro exemplo são os Quick Time Events, que acontecem de forma tão natural que parecem cenas de filme.

Testei Resident Evil 7 na versão de PC com as configurações no máximo (numa placa GeForce GTX 970) e rodou tranquilamente cravado nos 60 FPS. Quanto ao PlayStation VR, nos testes que fiz com as demos, posso assegurar que a experiência fica ainda mais imersiva e medonha. O problema é que é um game pra poucos, pois dá tontura na maioria dos casos. Você continua jogando com o controle, usando o VR apenas para olhar e explorar os cenários. Apesar do nó na cabeça, eu com certeza quero jogar tudo de novo com o óculos.

"Vem cá. Dá um abraço na mamãe!"
“Vem cá. Dá um abraço na mamãe!”

Resident Evil em sua melhor forma

É com uma alegria imensa que encerro esta análise dando minha primeira nota 10 do ano no Gamerview. Resident Evil 7 reúne o melhor de todos os games e renova a franquia para um novo começo. Mudar a perspectiva para primeira pessoa foi uma decisão certeira, tanto que daqui pra frente eu só quero jogar Resident Evil assim por um bom tempo. Fiquei surpreso também com as influências no desenvolvimento da história: Alma Wade, a garotinha com poderes psiônicos do F.E.A.R., tem um dedo no jogo. Okay, há alguns clichês aqui e ali, afinal é uma franquia de longa data tirando leite de pedra do gênero survival horror, mas nada que estrague a experiência.

Resident Evil 7 sai amanhã (24) para PC, Xbox One e PlayStation 4 e é obrigatório para os fãs. Agora com licença que eu vou ali na padaria comprar uns pães cantarolando a música ”Go Tell Aunt Rhody” (ouça aqui), que não sai mais da minha cabeça.